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Em uma das votações mais polêmicas dos últimos tempos no Congresso Nacional, a aprovação da PEC da Blindagem na Câmara dos Deputados expôs contradições profundas no cenário político pernambucano. O voto favorável do deputado Pedro Campos (PSB-PE) à proposta que dificulta investigações contra parlamentares não apenas chocou seus eleitores, mas também lançou uma sombra sobre as ambições governamentais de seu irmão, João Campos (PSB), prefeito do Recife. A pergunta que ressoa pelos corredores políticos de Pernambuco é cristalina: como o prefeito pretende se contrapor à governadora Raquel Lyra (PSD) nas eleições de 2026, quando seu próprio partido e família protagonizam o mesmo tipo de blindagem que beneficia os adversários políticos?


Pedro Campos, político do PSB pernambucano, vestido com traje formal e braços cruzados em retrato profissional
Pedro Campos, político do PSB pernambucano

A PEC da Vergonha e o voto familiar inconveniente


A aprovação da PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados, com 344 votos favoráveis contra 133 contrários, representou um dos episódios mais controversos da atual legislatura. A proposta, que restabelece regras vigentes entre 1988 e 2001, impõe que o Supremo Tribunal Federal (STF) necessite de autorização prévia do Congresso para abrir processos criminais contra parlamentares. Entre 1988 e 2001, período em que essa regra vigorou, apenas um dos 253 pedidos do STF para processar parlamentares foi aceito.


O voto de Pedro Campos a favor da medida causou revolta entre seus eleitores do Sertão do Pajeú, que lotaram suas redes sociais com críticas devastadoras. Mensagens como "Perdeu meu voto votando SIM à PEC da Blindagem" e "Confesso que foi o voto da PEC da Bandidagem que eu mais senti" demonstram o nível de decepção popular. Mais significativo ainda foi o comentário premonitório: "@joaocampos seu irmão vai acabar atrapalhando sua campanha".


João Campos em um cenário formal representando o contexto político do PSB em Pernambuco
João Campos PSB - Pernambuco 

 

A repercussão negativa do voto de Pedro Campos expõe uma contradição fundamental no discurso político da família Campos. Enquanto João Campos busca construir uma imagem de renovação política e combate aos privilégios estabelecidos, seu irmão vota para blindar parlamentares de investigações criminais. Essa incoerência familiar torna-se ainda mais problemática quando consideramos que João Campos lidera as pesquisas para governador com 55% a 57% das intenções de voto, posicionando-se como alternativa à atual governadora.


O PSB e a hipocrisia da vice-presidência


A situação torna-se ainda mais grave quando analisamos a posição do PSB no cenário nacional. O partido ocupa a vice-presidência da República com Geraldo Alckmin e integra oficialmente a base governista de Lula. No entanto, na votação da PEC da Blindagem, cinco dos seis deputados federais do PSB pernambucano votaram a favor da medida que contraria frontalmente os interesses do governo federal.


Esta contradição não é isolada. Em junho de 2025, durante a votação sobre o aumento do IOF, o PSB apresentou comportamento similar: nove deputados do partido votaram pela derrubada dos decretos do governo, enquanto apenas três mantiveram fidelidade à base governista. Dos 11 partidos com ministérios no governo Lula, 63,2% dos votos foram contrários ao governo, evidenciando o derretimento da base parlamentar.


O presidente nacional do PSB, João Campos, encontra-se em uma posição insustentável: como líder de um partido que ocupa a vice-presidência, mas cujos parlamentares sistematicamente votam contra o governo que ajudam a sustentar? Como explicar aos eleitores que, enquanto Alckmin representa o PSB no Palácio do Planalto, os deputados da legenda em Pernambuco blindam investigações que podem beneficiar opositores do governo federal?


Raquel Lyra: A Aproximação Perigosa com o Bolsonarismo


Por outro lado, a governadora Raquel Lyra também enfrenta contradições políticas significativas em sua trajetória. Após deixar o PSDB e migrar para o PSD em março de 2025, Lyra tem adotado uma postura ambígua que ora se aproxima do governo federal, ora flerta com setores bolsonaristas.


Durante seu governo, Raquel manteve o PL de Bolsonaro em sua base aliada, com indicações estratégicas como Ivaneide Dantas na Secretaria de Educação e Anselmo de Araújo Lima na Secretaria Executiva de Justiça. Esta aliança com o PL representa uma proximidade perigosa com o bolsonarismo, especialmente considerando que Pernambuco foi um dos estados que mais rejeitou Bolsonaro nas eleições de 2022, com 70% dos votos para Lula.


Governadora de Pernambuco
Governadora Raquel Lyra PSD - Pernambuco

A migração para o PSD, partido de Gilberto Kassab que tem como principais nomes os governadores Ratinho Júnior (Paraná) e Tarcísio de Freitas (São Paulo), posiciona Raquel Lyra em um campo político de centro-direita que pode lhe render dividendos eleitorais, mas também a afasta do governo federal que ela tanto buscou apoiar. Kassab deixou claro que o PSD terá candidato próprio à Presidência em 2026, contrariando os planos de Lyra de apoiar Lula.


Os números devastadores da violência em Pernambuco


Enquanto os principais candidatos ao governo estadual navegam entre contradições políticas e alianças questionáveis, Pernambuco vive uma situação de calamidade na segurança pública que expõe as fragilidades de ambas as gestões.


Os dados são alarmantes: entre janeiro e abril de 2025, foram registradas 35 mulheres mortas por feminicídio, o dobro do mesmo período do ano anterior. No primeiro semestre de 2025, 12 pessoas em situação de rua foram baleadas e mortas no Grande Recife, o maior número desde que o Instituto Fogo Cruzado iniciou o monitoramento há sete anos. Entre crianças e adolescentes, 52 pessoas com idades entre 4 e 17 anos perderam suas vidas por arma de fogo em Pernambuco.


SINPOL-PE alerta para aumento da violência na zona sul do Recife, destacando preocupações com a segurança pública em Pernambuco
SINPOL-PE alerta para aumento da violência na zona sul do Recife, destacando preocupações com a segurança pública em Pernambuco

Embora o governo estadual divulgue reduções percentuais nos índices de violência - alegando queda de 11% nas Mortes Violentas Intencionais no primeiro semestre de 2025 - a realidade nas ruas contradiz os números oficiais. O presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto (PSDB), denunciou que apenas em um fim de semana foram registrados 26 assassinatos.


A governadora Raquel Lyra, que prometeu reduzir 30% da violência armada letal até 2026, está cada vez mais distante de cumprir sua meta. Se a média atual se mantiver, 2024 fecharia com uma taxa de 43,3 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes, bem acima da meta de 26,5 estabelecida pelo governo.


João Campos: O prefeito entre o Marketing e os Problemas Reais


Por sua vez, João Campos, apesar de liderar as pesquisas eleitorais com aprovação de 80% a 82% no Recife, enfrenta questionamentos sobre a real efetividade de sua gestão municipal. O prefeito iniciou seu segundo mandato tendo que dar explicações ao Tribunal de Contas do Estado sobre um suposto superfaturamento de R$ 7,8 milhões na construção do Hospital da Criança.


  Police officers lined up next to police vehicles illustrating security presence in Pernambuco 

Além disso, João Campos é constantemente criticado por investir prioritariamente em marketing digital e promoção pessoal, sendo o "prefeito do Brasil mais seguido nas redes sociais", enquanto questões estruturais como saneamento básico e segurança pública permanecem sem soluções definitivas. Seus adversários o acusam de "investir em marketing e não enfrentar as questões urgentes da cidade".


A gestão de creches municipais também gerou controvérsias durante a campanha de 2024, com adversários apontando irregularidades nos contratos. Esta situação coloca em xeque o discurso de eficiência administrativa que João Campos pretende levar para o governo estadual.


A calamidade política: Autoritarismo disfarçado de Democracia


O cenário que se desenha em Pernambuco para 2026 é de uma disputa entre dois projetos que, cada um à sua maneira, flertam perigosamente com o autoritarismo. De um lado, temos João Campos, cujo partido sistematicamente vota contra o governo federal que afirma apoiar, e cuja família protagoniza episódios de blindagem parlamentar que contradizem o discurso de transparência.


Do outro lado, Raquel Lyra representa um projeto que se equilibra precariamente entre o apoio ao governo federal e alianças com setores bolsonaristas, em um estado que rejeitou massivamente Bolsonaro. Sua migração para o PSD, partido que já anuncia candidatura própria à Presidência contra Lula, evidencia o caráter oportunista de suas alianças políticas.


A aprovação da PEC da Blindagem, com votos decisivos tanto do PSB quanto do PSD, revela que ambos os partidos compartilham a mesma lógica corporativista que protege políticos de investigações. Esta convergência autoritária, disfarçada de debate democrático, expõe que a disputa de 2026 pode ser entre dois projetos que, fundamentalmente, defendem os mesmos privilégios estabelecidos.

 
 
 

Enquanto a governadora Raquel Lyra se apresenta como a arquiteta de um novo horizonte para Pernambuco, com discursos que beiram o lírico e a promessa de transformação radical, a realidade do estado se revela num cenário de profundo descaso e inércia. A narrativa oficial, adornada com gráficos que atestam a suposta queda nos índices de violência e melhorias na gestão dos serviços públicos, esconde o verdadeiro fado de um governo que, embora se vanglorie de ser visionário, não consegue materializar as transformações necessárias para sanar os problemas estruturais do Estado.

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Nas palavras ensaiadas e nos discursos carregados de metáforas e castelos de palavras, a governadora tenta pintar um quadro de progresso onde escolas se erguem, hospitais prosperam e a segurança pública alcança patamares inéditos. Porém, essa construção narrativa se desfaz diante do testemunho doloroso dos cidadãos pernambucanos. Em bairros das periferias e em centros urbanos, as escolas vêm “caindo” – não em sentido literal, mas na medida em que a infraestrutura deficiente, a falta de investimentos e a negligência sistemática transformam o ambiente escolar em um espaço de abandono e risco. Hospitais, por sua vez, que deveriam ser templos de cuidado e esperança, frequentemente deixam de atender adequadamente, refletindo uma administração que prioriza discursos retóricos em detrimento de ações concretas.

Reprodução Rede Globo
Reprodução Rede Globo

A segurança pública, um dos pilares que a gestão pretende fortalecer, torna-se, na prática, um eco distante. Os dados oficiais, muitas vezes apresentados com otimismo forçado pelo SDSPE, contrastam com o cotidiano de violência que permeia as ruas. Furtos, assaltos e crimes violentos continuam a se multiplicar, enquanto os cidadãos se veem desamparados por um aparato policial sucateado e desprovido dos recursos prometidos. Servidores públicos, por sua vez, sofrem diariamente as consequências de uma gestão improvisada, onde a retórica não se traduz em políticas eficazes e onde a promessa de uma "transformação real" permanece inalcançável.

É nesse contexto que se revela a ironia do tempo: enquanto o governo ensaia discursos de mudança e inovação, o Estado se afunda num mar de omissões e falhas históricas. Se a política fosse um poema, o governo Lyra seria uma ode inacabada – repleta de rimas bonitas e promessas sedutoras, mas desprovida do conteúdo sólido e necessário para sustentar as necessidades urgentes do povo pernambucano. Cada estatística otimista, cada declaração de sucesso, soam como um eco distante que tenta mascarar a dura verdade: a realidade é de um estado em constante derrota, onde a administração se mostra incapaz de conciliar a retórica com as demandas de um povo que clama por mudanças estruturais.

A análise que se encerra neste post não se destina apenas a retratar um cenário de críticas e frustrações, mas constitui um apelo urgente à renovação e à responsabilidade governamental. Pernambuco precisa urgentemente sair do jogo duplo das narrativas – onde palavras sedutoras mascaram uma gestão que falha em agir – e adotar uma postura de ação resoluta, pautada na transparência, na competência e no respeito aos direitos dos cidadãos e dos servidores públicos.

Para que se inicie uma transformação real, é imprescindível que a administração passe da retórica para a prática, implementando reformas estruturais que atendam às demandas crônicas de educação, saúde e segurança. É necessário investir de forma consistente na reestruturação da infraestrutura escolar, garantindo que as instituições de ensino não se convertam em espaços de risco, mas sim em ambientes que promovam o desenvolvimento e a cidadania. No setor da saúde, a urgência de reverter o descaso é sentida diariamente: hospitais que frequentemente deixam de atender com a devida qualidade devem ser revitalizados, equipados e administrados com foco na efetividade do cuidado.

No campo da segurança, a promessa de modernização dos órgãos – especialmente a Polícia Civil – precisa ser acompanhada de medidas concretas, com a destinação de recursos adequados e a implementação de políticas que verdadeiramente reduzam os índices de criminalidade. A população pernambucana, que vive diariamente sob o peso do medo e da vulnerabilidade, merece uma gestão que não se oculte por trás de números abstratos, mas que responda com ações efetivas e reparadoras.

Além disso, as vozes da sociedade, representadas pelos sindicatos, movimentos sociais e cidadãos organizados, clamam por uma administração que se baseie no diálogo e na responsabilidade. Servidores públicos, que carregam o fardo de um sistema negligente, e cidadãos, que experimentam a insegurança e a falta de serviços essenciais, precisam ser ouvidos. A renovação do Estado depende, em grande parte, de uma mudança profunda que não se resuma a discursos poéticos, mas que se materialize em políticas públicas que transformem a realidade.

É fundamental que a governança de Pernambuco reconheça a complexidade dos problemas que enfrenta e abandone o jogo duplo das narrativas ilusórias. A transformação real exige que as promessas de mudança se traduzam em investimentos palpáveis, em políticas estruturais e, sobretudo, em uma cultura de responsabilidade que ultrapasse as fronteiras dos discursos políticos. Somente assim Pernambuco poderá deixar de ser um estado em estado de derrota e emergir como um exemplo de renovação e eficiência na gestão pública.

No entrelace de palavras e promessas, o governo de Raquel Lyra se vê preso em um labirinto de ilusões e inércia – uma retórica encantadora, repleta de discursos líricos e castelos de promessas, que, no entanto, não se traduz em ações concretas para transformar o cotidiano dos pernambucanos. Enquanto a governadora se exibe como a visionária capaz de remodelar o futuro do Estado, a realidade, implacável e crua, revela um Pernambuco que, dia após dia, se afunda mais fundo no descaso e na negligência.

 
 
 

Sob a gestão de Raquel Lyra, Pernambuco tem sido palco de uma verdadeira tempestade administrativa, onde a folha de pagamento – este instrumento basilar da máquina estatal – se converte num mar revolto de erros crônicos. Servidores de todos os cantos do aparato público enfrentam, de forma contínua e implacável, descontos indevidos, a ausência de gratificações essenciais e, em casos extremos, até a suspensão integral dos salários. Dados apurados por sindicatos, como o Sintepe, indicam que desde julho de 2024 os erros se arrastam por seis meses consecutivos: cerca de 79% dos profissionais ainda não receberam o terço constitucional de férias, enquanto 13,4% têm seus vencimentos pagos abaixo do correto, e percentuais menores – porém não menos significativos – relatam a ausência de benefícios como a Gratificação da Educação Inclusiva.

Reprodução Sintepe - Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco
Reprodução Sintepe - Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco

Essa realidade, longe de ser um mero descuidado técnico, reflete uma estratégia – por vezes sutil e, em outras, abertamente agressiva – de enfraquecimento dos quadros que ousam questionar as políticas do governo. O TCE-PE, atento a cada incoerência, já recebeu inúmeras denúncias e instaurou investigações que buscam desvelar uma trama que, ironicamente, se disfarça de “limpeza” administrativa. Enquanto o governo se gaba de modernizar e depurar a máquina pública, a perseguição política se manifesta nos recortes imprecisos da folha de pagamento, convertendo o salário de cada servidor em um número truncado, como se o valor de seu trabalho fosse suscetível de ajustes arbitrários.

Nesse cenário, o servidor público – aquele que, com afinco e dedicação, contribui para a engrenagem do Estado – se vê não apenas lesado financeiramente, mas também humilhado pela própria instituição que deveria protegê-lo. A crítica é tão afiada quanto o humor sagaz que se faz necessário para enfrentar a realidade: é quase como se a administração tentasse “limpar” a máquina pública com um pincel torto, atingindo indiscriminadamente os profissionais que, ironicamente, sustentam o próprio aparato estatal.

No palco da negligência, o servidor se transforma na vítima silenciosa de uma administração que prioriza a narrativa política em detrimento da essência do serviço público. Cada erro na folha de pagamento não é somente uma falha contábil – é o reflexo de um descaso institucional que, por sua vez, corrói a qualidade dos serviços prestados à população. A constante omissão em corrigir esses equívocos cria um clima de desconfiança, um desgaste que se acumula como um pó invisível sobre a credibilidade do Estado.

Ao negligenciar os direitos básicos dos trabalhadores, o governo acaba por semear o terreno fértil da impunidade. Enquanto se exaltam em discursos de inovação e combate à corrupção, as denúncias – meticulosamente registradas por sindicatos como o Sintepe – denunciam uma realidade amarga: servidores desvalorizados, com salários que parecem flutuar num limbo de incertezas, e uma administração que, em vez de agir, parece optar por esquecer. É uma crônica de silêncio e omissão, onde cada folha errada narra a história de uma justiça adormecida, incapaz de reverter a maré de descaso que atinge a todos.

O humor rápido e irônico se mistura a uma visão quase trágica: enquanto o governo se exibe em gestos simbólicos e retóricas inflamadas, a verdadeira batalha se trava na rotina diária dos servidores, que aguardam por correções que parecem nunca chegar. Esse teatro de aparências não só fere os direitos dos trabalhadores, mas também compromete a prestação de serviços públicos essenciais, ampliando o ceticismo da população e o desgaste institucional.

 
 
 
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