top of page
  • Foto do escritor: Raul Silva
    Raul Silva
  • 17 de jan. de 2018
  • 4 min de leitura

Esse é um livro em que, de certa forma, temos quase todas as características de um livro ou romance de YA dos dias de hoje. Na primeira parte da história, o livro parece ser apenas sobre jovens meninas em busca do homem ideal para se casar – algo que está muito em destaque devido, principalmente, ao comportamento da mãe das garotas, a Sra. Bennet.


Temos aqui, todos aqueles momentos que hoje em dia são meio clichês em histórias desse tipo. De um lado temos o rapaz bonitão, ou, no caso, o homem rico e bem-sucedido que, devido a sociedade da época, está na idade de casar e constituir família. Do outro, temos a garota delicada e doce, que enxerga sempre o melhor das pessoas e sua irmã superinteligente e bonita que é uma força da natureza e não leva desaforo para casa. Isso, de certa maneira, me lembrou muito esses filmes adolescentes americanos.

Contudo, por baixo de toda essa aparente futilidade, existe uma profunda critica aos costumes e a sociedade da época, algo que, apesar do tempo, permanece atual e que serve para várias situações dos dias de hoje também. É evidente também a crítica a posição ocupada pela mulher no século XIX, fica claro o quanto a autora desprezava a forma como a mulher era vista e tratada no período – percebemos isto pelas várias passagens cheias de ironia –, bem como a ela via a si mesma e sua posição na sociedade inglesa dos anos de 1800.

O livro nos conta a história do romance de Elizabeth Bennet, uma jovem da aristocracia rural britânica do século XIX, que possui pouca ou quase nenhuma posse e vive com os pais e suas quatro irmãs e o Sr. Darcy, um homem rico, com um pé dentro da própria nobreza inglesa, que de familiares possui apenas uma irmã Georgiana, doce, meiga, tímida e gentil e uma tia, Lady Catherine de Boung, uma mulher amarga, orgulhosa e extremamente preconceituosa com relação as classes inferiores.

Devido a essa diferença social que os separa em mundos completamente diferentes, os dois irão se estranhar durante toda a história e o preconceito e o orgulho que ambos possuem quase irá impedi-los de verem o quanto se amam e o quanto os dois se completam e podem ser felizes juntos.

Darcy é um gentleman que de início rejeita Elizabeth, por conta do seu orgulho e posição social e vai tentar, de todas as formas, sufocar seus sentimentos pela jovem. Elizabeth, por sua vez, rejeitada, humilha e com orgulho ferido, vai odiá-lo desde o primeiro momento, tanto que será preciso que ocorram várias reviravoltas em suas vidas para que esses dois percebam o quanto são parecidos um com o outro.

Dessa forma, iremos mergulhar numa história onde a sociedade é cheia de preconceitos e desdém por parte dos mais ricos para com os mais pobres e humildes, por parte daqueles que se julgam mais evoluídos e bem-sucedidos por viverem nos grandes centros urbanos.

No entanto, um dos pontos mais interessantes desse livro é a maneira engraçada como tudo nos é apresentado – tendo boa parte desse humor centrado em algumas personagens como o pai das garotos, o Sr. Bennet, que é sem dúvida um dos melhores, se não a melhor personagem desta história –, além, é claro, da leveza e fluidez do texto, que muito me surpreendeu, pois temia que possuísse uma linguagem pouco clara devido à idade do próprio texto,  pois achava que, por conta disso, o texto teria uma linguagem de vocabulário difícil e extremamente monótona. Porém Jane Austen usa de uma linguagem simples, clara e direta para nos contar a sua história.

Foi interessante também perceber as diferenças de época que afetam as soluções dadas pela autora para as mais variadas situações. Coisas que hoje em dia são tão simples quanto comuns de se resolver para nós, naquela época eram muito mais difíceis.

Além disso, percebemos o quanto os passatempos das pessoas eram tão diferentes dos nossos. Enquanto que as personagens se divertem cantando musicas e tocando instrumentos, lendo livros em voz alta ou jogando jogos, nós hoje, na grande maioria dos casos, apenas vemos TV, ou ficamos em nossos computadores e smartphones em nossas redes sociais. Nossas conversas e jogos são, em sua maioria, através de meios eletrônicos e até mesmo para ver televisão cada um tem a sua e cada um assiste ao que gosta.

Apesar de o final ser extremamente óbvio, não é nele que reside o valor da história, mas sim na riqueza com que o livro é escrito. Orgulho e Preconceito é o tipo de livro que tem uma linguagem leve, fácil e rápida e que nunca deixa o leitor entediado, é uma história cheia de critica social e que quebra todos os paradigmas do seu tempo, mostrando o quanto a autora estava a frente da sociedade de sua época. É uma história que no final acaba deixando um vazio, um gostinho de quero mais que, sem dúvida alguma, nos deixa com saudade dessas personagens.

Raul G. M. Silva

 
 
 
  • Foto do escritor: Raul Silva
    Raul Silva
  • 3 de jan. de 2018
  • 5 min de leitura

Deuses americanos é um livro que brinca com todas as religiões e crenças ao mesmo tempo em que coloca todas elas sob a lente de um microscópio, nos fazendo questionar o que é religião hoje em dia e quem é nosso verdadeiro Deus ou deuses. E tudo isso com humor, criatividade absurda e ironia. Porém, o interessante sobre esse livro é que toda vez que você pensa que a história vai ficar desinteressante o jogo vira e, ou ela te surpreende ou ela te ganha pela curiosidade.


Como disse Gaiman existem dois tipos de pessoas, as que adoraram este livro e as que o odiaram e depois dessa leitura quero dizer sem rodeios, que ela foi uma das melhores histórias que eu já li, uma das mais incríveis e que classifico como magistral e que quem realmente não gostou dela muito provavelmente não conseguiu compreendê-la por completo. Claro que o livro não está livre de defeitos ou, como geralmente digo, partes que achei horríveis, como por exemplo toda a parte de Shadow vivendo em Lakecity que não faria a menor falta na história, mas nenhuma delas me fez desgostar ou diminuir o ritmo de leitura da história em momento algum.

Um ponto bastante peculiar da minha leitura, foi o fato de que estive lendo ao mesmo tempo Homo Deus de Yuval Noah Harari e de certa forma isso me fez observar a história de Gaiman com olhos que eu talvez não usasse se não estivesse lendo esse livro também. Assim sendo, tive um ponto de vista totalmente diferente da trama do livro, por essa razão essa resenha vai ser um pouco diferente das demais que já postei aqui no blog. Não irei discorrer muito sobre os fatos da história do livro, mas sim dos aspectos que mais chamaram a minha atenção durante a leitura.

O livro, resumidamente falando, nos conta a história de Shadow Moon, que na verdade não se chama Shadow Moon – isso está bastante claro no texto. Ele é um ex-presidiário que acabou de sair da prisão e busca apenas retomar uma vida honesta ao lado da esposa Laura. É sem dúvida o cara mais pacato que já conheci, sua resolução de ficar sempre na sua o livrou de muitos problemas na prisão (não que ele tivesse escolha, fora para prisão por bater num cara quase até a morte durante um assalto que deu errado e nem ao menos se lembrava do que o levara a atacar o homem), no entanto, essa mesma resolução de não se meter mais em problemas acaba, de certa forma, o impedindo de enxergar o sobrenatural, ou pelo menos o faz negar sua existência mesmo que ele esteja na sua cara.

O que me deixou com pé atrás com essa personagem no início da história, foi a sua real motivação. Num primeiro momento ela parece inexistir, parece aparentemente ser apenas o fato de sua esposa tê-lo traído com o melhor o amigo e ter morrido durante o processo (algo que ele descobre da pior maneira possível), entretanto as coisas foram mudando a medida em que fui lendo o livro.

Ao longo do enredo vamos percebendo que Shadow na verdade está completamente perdido, sua vida era a esposa e sem ela, ele não sabe o que fazer e sente que o mundo inteiro desabando a sua volta, mesmo que não o diga ou admita é a partir daí que ele vai começar a sua jornada, uma jornada em busca de saber quem ele realmente é, do porquê de aquelas coisas terem acontecido e qual a razão da sua existência. É nesse momento que ele conhece Wednesday e é aí que percebemos que as personagens desse livro são muito mais densas e complexas do que parecem. Wednesday é uma incógnita o livro inteiro, mesmo quando descobrimos a sua real identidade. Não descobrimos a sua real motivação de cara, algo que só irá acontecer no final da história, por isso as intenções da personagem nos parecem sempre confusas e aleatórias. Ele acaba convencendo Shadow a trabalhar para ele, mesmo contra a vontade, e aí a aventura começa.

Aos poucos ficamos sabendo sobre a trama da história, de como os antigos deuses então morrendo, que estão sendo substituídos por novos deuses e que esses novos deuses querem exterminar os antigos para reinarem absolutos. Desse modo Wednesday está tentando recrutar os deuses antigos para que eles se unam e derrotem os novos deuses, no entanto nem todos estão dispostos a correr esse risco e até mesmo os novos deuses não entendem muito bem a razão dos fatos estarem acontecendo como estão acontecendo. Porém ao final da história temos um, não, O plot twist e tudo se encaixa de uma forma tão inesperada e perfeita que só quem leu a história poderá entender o que estou dizendo. Na verdade, o livro inteiro é um preludio de seu próprio fim. No final e apenas no final é que você realmente o real motivo de tudo ter acontecido como aconteceu. Todas as partes chatas e sem sentido acabam sendo uma preparação para esse final.

Quanto a ambientação, a história nos seduz pelo mistério. As informações são dadas a Shadow de maneira quase que óbvia, mas direta, está tudo na cara dele (e na nossa), porém cabe a Shadow acreditar que tudo que está acontecendo é ou não é real. Assim da mesma forma que ele, ficamos confusos e desconfiados e vamos compreendendo as coisas meio que sozinhos até a primeira metade da história quando cai o pano e tudo começa a ser revelado. A riqueza de detalhes sobre lugares, embora certas coisas sejam aparentemente sem pé nem cabeça, é impressionante. Os diálogos também são muito consistentes, o narrador faz uso constate do discurso indireto livre para dar maior fluidez ao texto e o leitor não empacar em diálogos monótonos.

O narrador aqui é onisciente e usa e abusa da sinestesia para nos situar no que Shadow pensa e sente e vê e toca. Dessa forma acabamos mergulhando de cabeça página após página, é como se nós estivéssemos num carro viajando com Shadow e Wednesday pelos Estados Unidos. É quase impossível parar de ler. Além disso, ele está mudando constantemente sua forma de contar a história, em alguns momentos temos Shadow e Wednesday viajando, em outros, personagens aleatórios de tempos antigos, em outros o próprio narrador se torna observador e deixa de ser onisciente.

Como o próprio Neil Gaiman nos fala, Deuses americanos é uma história sobre os Estados Unidos, seu contexto histórico e suas crenças, mas ao mesmo tempo é sobre todos nós e nossa forma única de enxergar o mundo e em como moldamos as nossas crenças para que funcionem à nossa própria realidade. Além disso demonstra o quanto somos volúveis e em termos de crença e religião, como tendemos a acreditar em algo apenas quando nos convém ou quando precisamos por alguma razão. O fato é que Deuses americanos é uma espécie de epopeia moderna e não é um livro para ser lido apenas uma vez. Na verdade, ele é um daqueles livros que só são enriquecidos através de releituras. #FicaADica

Raul G. M. Silva

 
 
 
bottom of page