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Notícias

Da Redação de O estopim | 11 de dezembro de 2025



O "Projeto de Lei n.º 2.162/2023", apresentado como uma solução de "pacificação", esconde uma armadilha perigosa. Sob o pretexto de corrigir "excessos" judiciais, o texto altera o cálculo das penas (Art. 359-M-A e Art. 359-V), criando uma matemática que pode reduzir condenações de 17 anos para menos de 4, livrando golpistas da cadeia. Mais grave ainda, a "regra de 1/6" para progressão de regime, alterada no Art. 112 da LEP, silencia sobre crimes contra a administração pública, abrindo as portas para a impunidade de corruptos e lavadores de dinheiro. É um ataque ao STF e à justiça.


LEIA A INTEGRA DO DOCUMENTO


Enquanto os holofotes de Brasília e a atenção da mídia tradicional estão voltados, quase que hipnotizados, para o barulhento debate ideológico sobre a anistia do 8 de janeiro, algo muito mais obscuro e silencioso se urde nos bastidores da Câmara dos Deputados. O Projeto de Lei nº 2.162/2023, que foi aprovada na calada da noite quinta-feira (10), em regime de urgência sob a relatoria do Deputado Paulo Pereira da Silva, apresenta-se ao mundo com vestes de pacificação e a promessa de um "meio-termo" virtuoso. No entanto, para aqueles que ousam olhar além da superfície e encarar a verdade nas entrelinhas, revela-se uma "engenharia da impunidade" que extrapola a política: é uma armadilha, um verdadeiro artefato de destruição que ameaça romper o equilíbrio do sistema penal brasileiro e lançar a Suprema Corte em um abismo de descrédito.


Presidente da Câmara, Hugo Motta, colocou em pauta o PL da Dosimetria | Imagem: Ton Molina/Estadão Conteúdo
Presidente da Câmara, Hugo Motta, colocou em pauta o PL da Dosimetria | Imagem: Ton Molina/Estadão Conteúdo

O texto do Substitutivo, que nossa reportagem dissecou como quem desvenda um pergaminho antigo e perigoso, não opera apenas como um perdão velado a um grupo específico; ele promove uma reestruturação profunda, quase mágica e oportunista, do Código Penal e da Lei de Execução Penal. O resultado prático é a abertura de portais para a liberdade que beneficiarão não apenas os que clamavam nas ruas, mas uma casta de criaturas de alta periculosidade social: lavadores de dinheiro, estelionatários e os senhores da corrupção que, até então, sentiam o cerco da justiça se fechar.


O "Liberou Geral": o fruto proibido que a Corrupção cobiça com o PL da Dosimetria


O aspecto mais terrível e menos visível deste projeto esconde-se onde poucos têm a curiosidade de olhar: na matemática fria da progressão de regime. Sob a justificativa aparentemente inofensiva de "adequar sanções", o texto altera drasticamente o Artigo 112 da Lei de Execução Penal, trazendo de volta uma regra antiga e sedutora: o cumprimento de apenas 1/6 (um sexto) da pena para a progressão. O ardil, a verdadeira maldição legislativa, reside no fato de que o projeto deixa de fora das regras mais rígidas qualquer crime que não envolva, explicitamente, "violência ou grave ameaça".


Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Eis que surge o detalhe sombrio que transforma essa lei em um salvo-conduto para a elite: os crimes de colarinho branco (a corrupção que drena a vida da nação, o peculato e a lavagem de dinheiro) são cometidos no silêncio dos gabinetes, através de canetas e transações invisíveis, sem o derramamento de sangue físico. Pela nova regra, esses criminosos, que causam dor e sofrimento a milhares, teriam acesso a um dom negado ao ladrão comum.


O texto do substitutivo é cristalino, como uma sentença de destino, ao definir a regra geral benéfica:


"Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos 1/6 (um sexto) da pena no regime anterior e seu mérito indicar a progressão, observadas as seguintes exceções..."

Ao listar as exceções que exigiriam um sacrifício maior de tempo (25%, 30% ou mais), o texto amarra o rigor à violência física, excluindo intencionalmente os crimes financeiros, como quem protege os seus:


"I- Se o apenado for primário e for condenado pela prática de crimes previstos nos Títulos I e II da Parte Especial do Código Penal mediante exercício de violência ou grave ameaça, deverá ser cumprido ao menos 25% (vinte e cinco por cento) da pena;"

A conta da injustiça é amarga:


Imagine um cenário onde um político influente, condenado a 12 anos por desviar recursos vitais, se vê diante dessa nova realidade. Como seu crime foi cometido sem violência física, ele cairia na regra suave de 1/6. Isso significa que, após cumprir apenas 2 anos isolado do mundo, ele já estaria livre para caminhar sob o sol do regime semiaberto.


Em contraste, um jovem condenado à mesma pena por um assalto com faca, teria que provar do amargor da prisão por, no mínimo, 3 anos (25%). Sob o pretexto de anistiar manifestantes, o Congresso está prestes a aprovar uma distorção moral onde o crime financeiro compensa, incentivado pela certeza de que a punição será breve, como um pesadelo passageiro.


O que realmente esconde o PL da Dosimetria sob sua máscara de pacificação?

Trata-se de uma manobra legislativa que, embora se venda como uma busca pela harmonia e pelo "meio-termo", oculta um mecanismo matemático desenhado para destroçar as penas já aplicadas pela justiça e abrir as portas da liberdade para crimes graves.

A mudança na regra de 1/6 beneficia apenas os envolvidos no 8 de janeiro?

Não. Este é o efeito colateral mais perverso. A nova regra, ao excluir crimes sem violência física do rigor da lei, estende um tapete vermelho para corruptos, lavadores de dinheiro e estelionatários, permitindo que deixem a prisão muito antes de um ladrão comum.

Como o projeto desafia a autoridade do Supremo Tribunal Federal?

O projeto se ergue como um "senhor do tempo", utilizando o princípio da retroatividade para anular e reescrever decisões passadas da Suprema Corte. O Congresso, na prática, assume o papel de uma instância superior, julgando os juízes e alterando a realidade conforme sua vontade política.

A redução de pena é significativa ou apenas simbólica?

É drástica e assustadora. A combinação do fim da soma das penas com o desconto para atos em "multidão" pode reduzir uma condenação de 18 anos para menos de 5 anos, transformando a punição severa em uma breve estadia carcerária.


O que acontece com a justiça se esse projeto for aprovado?

O equilíbrio se rompe. A mensagem enviada é a de que a lei é flexível para os poderosos e que decisões judiciais podem ser desfeitas pela caneta legislativa, mergulhando o país em uma era de insegurança jurídica e descrédito institucional.


Ataque à Democracia: o Legislativo como o Senhor do Destino


O segundo pilar desta trama é um ataque frontal ao equilíbrio dos poderes, algo que deveria ser sagrado. O relatório não esconde seu desejo: revisar, corrigir e, na prática, anular as decisões já tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como se o Parlamento pudesse voltar no tempo e desfazer o que foi feito. O texto classifica as condenações da Corte como "desproporcionais", colocando-se na posição de juiz supremo, acima do bem e do mal.


Hugo Motta - (crédito: Julio Dutra/Republicanos)
Hugo Motta - (crédito: Julio Dutra/Republicanos)

O Relator justifica essa intervenção extraordinária, desafiando a autoridade estabelecida com o seguinte argumento:


"O Substitutivo ora proposto tem seu foco na redução do cálculo das penas, pois é papel do Congresso Nacional definir os fatos que constituem crimes por violarem bens jurídicos relevantes, calibrar a pena mínima e a pena máxima de cada tipo penal, bem como a forma geral de cálculo das penas. Fazemos isso o tempo todo, sempre conectados com os anseios e as pressões da sociedade civil por nós representada."

Para garantir que essa "calibragem" atinja o passado,  algo que a natureza das coisas geralmente proíbe, o projeto invoca um poder antigo da Constituição: a retroatividade da lei penal. Assim, força o Judiciário a reabrir os livros do destino e refazer os cálculos:


"Com base nas leis que aprovamos, o Judiciário posteriormente fará a dosimetria adequada, aplicando os limites e critérios legais em cada caso concreto. E, claro, a lei penal posterior mais favorável ao réu deverá ser aplicada a fatos anteriores à sua vigência, por força do princípio da retroatividade da lei penal benéfica, agasalhado no art. 5º, inciso XL, da Constituição de 1988."

Na prática, o Congresso se arvora como uma "Quarta Instância". A mensagem que ecoa é aterrorizante para a segurança jurídica: se a Justiça condenar quem possui aliados poderosos, a lei será mudada para apagar a condenação, como se ela nunca tivesse existido. Não buscam um futuro melhor, mas manipular o passado, ferindo a autonomia do Judiciário e gerando uma crise institucional de proporções épicas.


A mentira revelada: A Ilusão da "Anistia Disfarçada"


Por fim, o projeto tenta ludibriar a todos, evitando a palavra "anistia total". A estratégia é vender a ideia de que ainda haverá punição, porém de forma "equilibrada". Contudo, a curiosidade humana, ao analisar a matemática embutida nos novos artigos, descobre que o "equilíbrio" é uma falácia, uma ilusão criada para garantir a impunidade.


O projeto introduz dois novos artigos (359-M-A e 359-V) desenhados cirurgicamente para triturar as penas, reduzindo-as a pó.


Primeiro, o texto proíbe a soma das penas, obrigando o uso de uma regra onde se aplica apenas a pena do crime mais grave com um pequeno aumento, vedando o acúmulo:


"Art. 359-M-A. Quando os delitos deste Capítulo estão inseridos no mesmo contexto, a pena deverá ser aplicada, ainda que existente desígnio autônomo, na forma do concurso formal próprio de que trata a primeira parte do art. 70, vedando-se a aplicação do cômputo cumulativo previsto na segunda parte desse dispositivo e no art. 69 deste Código."

Não satisfeito, o projeto cria um desconto massivo para quem agiu em "multidão", reduzindo a pena restante entre um terço e dois terços, sob a premissa de que a culpa se dilui no meio de muitos:


"Art. 359-V. Quando os crimes previstos neste capítulo forem praticados em contexto de multidão, a pena será reduzida de um terço a dois terços, desde que o agente não tenha praticado ato de financiamento ou exercido papel de liderança."

O milagre sombrio da multiplicação do perdão:


Para entender a gravidade, tomemos o exemplo de um réu condenado hoje a 17 ou 18 anos de prisão.


  1. Fase 1 (O fim da soma): Com a aplicação obrigatória da nova regra, a pena não seria mais a soma, mas sim a maior pena acrescida de uma fração mínima. Isso derrubaria a condenação inicial para cerca de 14 anos.

  2. Fase 2 (O desconto da multidão): Sobre esses anos restantes, aplicaria-se a redução drástica. Sendo conservadores, a pena cairia para algo em torno de 9 anos. Se o juiz aplicar a redução máxima, a pena poderia cair para menos de 5 anos.


Na prática, o projeto corta a punição pela metade ou mais. O discurso filosófico citado no relatório — "a virtude consiste em saber encontrar o meio-termo entre dois extremos" — serve apenas como um verniz erudito para camuflar uma operação de desmonte da responsabilidade.


O PL da Dosimetria não é uma correção de rumos; é um manifesto contra a autoridade e um convite aberto à impunidade, escrito nas entrelinhas de cálculos complexos para que a sociedade não perceba, até que seja tarde demais, que os portões foram abertos — não só para os extremistas, mas para os corruptos que sempre apostaram que poderiam fazer o que bem quisessem e entendessem.



 
 
 

Por Raul Silva para O estopim | 13 de novembro de 2025


Servidores públicos estaduais, professores, aposentados e pensionistas de Arcoverde realizaram nesta quarta-feira (13) um ato público em frente à agência regional do Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de Pernambuco (Sassepe), localizada na Avenida Joaquim Nabuco, no centro da cidade. A mobilização, organizada pelo Núcleo Regional Sertão Moxotó Ipanema do SINTEPE e pelo Fórum dos Servidores Estaduais, contou com a presença de Morena Cabral, diretora da Assepe (Associação Civil de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de Pernambuco), entidade que representa os servidores no Conselho Deliberativo do Sassepe.


Servidores em protesto contra o governo Raquel Lyra em defesa do Sassepe
Servidores em protesto contra o governo Raquel Lyra em defesa do Sassepe

O protesto integra uma série de mobilizações que vêm ocorrendo em diversas cidades de Pernambuco e marca mais um capítulo da luta histórica dos servidores pela sustentabilidade e pelo fortalecimento do sistema de saúde estadual. Em um cenário de crise que se agrava desde a pandemia, os beneficiários denunciam a falência da assistência, a imposição de cotas para exames, a falta de medicamentos e a suspensão de cirurgias, ao mesmo tempo em que seguem contribuindo mensalmente com maior parte do financiamento do sistema, enquanto o Governo do Estado aporta apenas uma pequena parte.


Durante o ato em Arcoverde, Morena Cabral, professora e dirigente da Assepe, concedeu entrevista à Rádio Itapuama FM na qual detalhou a gravidade da situação enfrentada pelos mais de 160 mil beneficiários do Sassepe em todo o estado. Em sua fala, Morena destacou que o movimento não se trata apenas de uma luta pela saúde, mas pela valorização dos servidores públicos estaduais, ativos, aposentados e pensionistas.


"A assistência à saúde prestada pelo Sassepe é uma conquista, sim, uma luta que começou lá atrás. O Sassepe tem 24 anos de existência e foi uma conquista da luta para que os servidores tivessem a garantia de sua assistência à saúde e não fossem prejudicar mais ainda a assistência prestada pelo SUS", afirmou Morena Cabral durante a entrevista.

Cobrança e responsabilização do governo Raquel Lyra pela crise atual do Sassepe
Cobrança e responsabilização do governo Raquel Lyra pela crise atual do Sassepe

A diretora da Assepe descreveu um quadro alarmante: consultas impossíveis de agendar, exames suspensos por falta de credenciados, cirurgias adiadas indefinidamente e medicamentos indisponíveis.


"Tem paciente que não está tendo acesso a seu tratamento, tratamentos contínuos, tratamentos sequenciados. Pacientes oncológicos que estão tendo seus exames suspensos, que estão tendo suas consultas suspensas por falta de exames e até por falta de medicação", denunciou.

A situação é ainda mais crítica no interior do estado. Segundo Morena, em Arcoverde e em outras regionais, a quantidade de credenciados é menor e a forma como alguns prestadores atendem os beneficiários é "muito desleal". Mesmo na Região Metropolitana do Recife, os servidores estão submetidos a um regime de cotas para exames de imagem, fundamentais para o diagnóstico de doenças.


Um dos pontos centrais das reivindicações apresentadas pelos servidores é a extinção das cotas de exames e atendimentos. O sistema de cotas, implementado sem a devida transparência e discussão no Conselho Deliberativo do Sassepe, limita drasticamente o acesso dos beneficiários aos serviços de saúde. Na prática, após a primeira quinzena de cada mês, muitos exames simplesmente não estão mais disponíveis, pois os prestadores alegam que suas cotas mensais foram esgotadas.


"Reivindicamos transparência em relação a essas cotas, mas reivindicamos muito além disso, a extinção dessas cotas. Essas cotas estão prejudicando e muito o acesso dos beneficiários à assistência", enfatizou Morena Cabral.

Em abril de 2025, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), através da 16ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania, emitiu uma recomendação ao Instituto de Atenção à Saúde e Bem-Estar dos Servidores do Estado de Pernambuco (IASSEPE/SASSEPE) para que se abstenha de impor cotas mensais de atendimentos e exames por parte dos prestadores de serviços credenciados, sem a devida previsão contratual, ampla publicidade e alternativa de solução assistencial ao beneficiário. O MPPE estabeleceu prazo de 60 dias para que seja implementado um sistema digital para registro de tentativas de agendamento, negativa de atendimento e geração de protocolo eletrônico para cada tentativa frustrada do usuário. No mesmo prazo, também deverão ser adotadas providências administrativas para garantir que os usuários não sejam prejudicados pela ausência de prestadores para exames imprescindíveis e inadiáveis.


Uma das principais bandeiras históricas dos servidores é a paridade na contribuição para o financiamento do Sassepe. Atualmente, os servidores são responsáveis por 70% do caixa do sistema, enquanto o Governo do Estado contribui com apenas 30%. Os servidores reivindicam que essa proporção seja equilibrada, com cada parte contribuindo com 50%.


Cobrança e responsabilização do governo Raquel Lyra pela crise atual do Sassepe
Cobrança e responsabilização do governo Raquel Lyra pela crise atual do Sassepe

"Temos a garantia da contribuição de servidores para o caixa do Sassepe com 70% desse caixa. A contribuição do Estado é de 30% desse caixa e há insuficiência de gestão", denunciou Morena Cabral.

Essa desigualdade no financiamento tem sido apontada como uma das principais causas da crise crônica do sistema. Mesmo com o aumento das alíquotas de contribuição dos servidores aprovado em 2023 através do Projeto de Lei Complementar nº 1481/2023, os problemas persistem. O PLC 1481/2023, enviado pelo Governo Raquel Lyra à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), ampliou em 39% os valores dos repasses mensais do Governo ao Sassepe, passando de R$ 13,27 milhões para R$ 18,47 milhões. A proposta também estabeleceu o pagamento de uma subvenção extraordinária de R$ 250 milhões, em três parcelas até 2025, para cobrir dívidas do sistema. No entanto, o projeto aumentou as alíquotas de contribuição dos servidores e dependentes. As alíquotas dos titulares passaram de uma faixa de 5,4% a 6,2% (conforme a idade) para 6,4% a 7,3%. Para os dependentes, a contribuição saltou de 1,4% a 3,5% para 2,4% a 4%.


Durante a votação do projeto na Alepe, o deputado João Paulo (PT) anunciou que elaboraria emendas em benefício dos usuários, buscando garantir a paridade na contribuição ao sistema, elevando a cota do Governo de 30% para 50%. A proposta, no entanto, não foi incorporada ao texto final aprovado. O Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de Pernambuco foi criado pela Lei Complementar nº 30, de 2 de janeiro de 2001, e representa uma conquista histórica da luta dos servidores públicos estaduais. Antes da criação do Sassepe, os servidores dependiam exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), que já enfrentava dificuldades para atender à demanda da população em geral.


"Naquela época, lá em 2000, o SUS não tinha condições de comportar a demanda dos servidores pela demanda grande da população. O Sassepe chegou para que os servidores tivessem a garantia de sua assistência à saúde", explicou Morena Cabral.


Simone Ferraz - Representante da ASSEPE
Simone Ferraz - Representante da ASSEPE

O sistema foi estruturado para prestar assistência integral à saúde, de forma preventiva e curativa, exclusivamente aos servidores civis ativos, inativos, pensionistas e seus dependentes no âmbito do Estado de Pernambuco. A adesão ao Sassepe é facultativa e se dá mediante contribuição mensal descontada diretamente na folha de pagamento. O Sassepe conta com uma rede própria de atendimento, tendo como unidade principal o Hospital dos Servidores do Estado (HSE), localizado no Recife. O HSE, fundado em 5 de maio de 1925 como Hospital Centenário, completou 100 anos em 2025 e é âncora do sistema.


Além do hospital, o Sassepe possui 12 agências no interior do estado e dois ambulatórios. A Agência Regional de Arcoverde, localizada na Avenida Joaquim Nabuco, no centro da cidade, atende aos municípios da região do Sertão do Moxotó Ipanema e oferece serviços nas áreas de Clínica Médica, Pediatria, Odontologia, Psicologia e Psiquiatria. O sistema é administrado pelo Instituto de Atenção à Saúde e Bem-Estar dos Servidores do Estado de Pernambuco (IASSEPE), autarquia estadual vinculada à Secretaria de Administração. A gestão e as políticas do Sassepe são definidas pelo Conselho Deliberativo do Sistema (CONDASPE), órgão de composição paritária composto por representantes do Governo e dos servidores.


Nos últimos anos, especialmente a partir de 2022, o Sassepe tem enfrentado uma crise sem precedentes. Hospitais e clínicas credenciadas têm suspendido o atendimento aos beneficiários devido à falta de pagamento por parte do Governo do Estado, acumulando uma dívida que chegou a R$ 300 milhões. Em março de 2023, após intensa pressão dos servidores, foi criado um Grupo de Trabalho (GT) através do Decreto nº 54.498, com a finalidade de apresentar propostas para superar emergencialmente a crise. O GT foi composto por representantes do Governo do Estado, da Assepe, do Sindicato dos Médicos, do Sindicato dos Hospitais e de representantes dos servidores indicados pelo Fórum dos Servidores Estaduais da CUT.


Mesmo com a aprovação do PLC 1481/2023 e o repasse de recursos extraordinários, a situação não melhorou significativamente. Em março de 2025, o hospital credenciado ao Sassepe em Arcoverde, responsável pelo atendimento de emergência e por diversos outros procedimentos, suspendeu os atendimentos por tempo indeterminado, deixando centenas de beneficiários sem alternativa na região. A mesma situação ocorreu em Vitória de Santo Antão, Caruaru e outras cidades do interior, afetando consultas, exames e cirurgias. Em Caruaru, o Hospital São Gabriel, que atendia às demandas de emergência, suspendeu o atendimento, deixando os beneficiários do Agreste, Mata Norte e Mata Sul em situação de risco.


Prof.ª Sueli Macedo coordenadora do Sintepe Sertão do Moxotó/Ipanema
Prof.ª Sueli Macedo coordenadora do Sintepe Sertão do Moxotó/Ipanema

"Essa crise se repete em todo o estado, afetando consultas, exames e cirurgias, com constantes reclamações dos usuários. O caos na assistência prestada pelo Sassepe não é novidade — essa tem sido a realidade do sistema há muito tempo", afirmou o SINTEPE em nota.

Relatos de beneficiários coletados pela imprensa ilustram a gravidade da situação. Servidores e aposentados têm sido obrigados a pagar por exames e consultas particulares, mesmo com o desconto mensal do Sassepe na folha de pagamento. Em alguns casos, pacientes oncológicos têm tratamentos interrompidos, e cirurgias são constantemente adiadas, levando ao agravamento dos quadros clínicos. A governadora Raquel Lyra assumiu o governo de Pernambuco em 1º de janeiro de 2023, tornando-se a primeira mulher eleita para o cargo no estado. Durante a campanha eleitoral de 2022, Raquel prometeu valorizar e fortalecer o Sassepe. No entanto, passados quase quatro anos de gestão, os servidores afirmam que o que se vê é "abandono e descaso".


Em seu discurso de posse, a governadora afirmou que a prioridade máxima de seu governo seria o combate à fome. Posteriormente, em entrevistas, ela classificou a saúde como "o principal problema de Pernambuco" e apontou a falta de infraestrutura física e organizacional na área. Apesar dos reconhecimentos públicos sobre a gravidade da situação da saúde no estado, as medidas efetivas para solucionar a crise do Sassepe têm sido insuficientes, segundo os servidores. A falta de transparência na gestão do sistema, decisões tomadas sem consulta ao Conselho Deliberativo e a manutenção do desequilíbrio no financiamento são apontadas como falhas graves da administração estadual. Em junho de 2024, circulou nas redes sociais um vídeo mostrando funcionários da Secretaria Estadual de Saúde celebrando uma festa junina no mesmo dia em que a governadora assinou um decreto de emergência de saúde pública devido ao aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave. Na ocasião, Raquel afirmou não ter conhecimento da festa e classificou-a como "absolutamente inadequada".


Draiton Albuquerque do Sindicato dos Bancários em apoio aos Servidores do Estado
Draiton Albuquerque do Sindicato dos Bancários em apoio aos Servidores do Estado

Durante o ato em Arcoverde e em manifestações realizadas em outras cidades do estado, os servidores apresentaram um conjunto de reivindicações urgentes para garantir a sustentabilidade e a qualidade do Sassepe. Em primeiro lugar, os servidores exigem paridade na contribuição, ou seja, que o Governo do Estado passe a contribuir com 50% do financiamento do sistema, equiparando-se aos 50% contribuídos pelos servidores, em substituição à proporção atual de 30%/70%. Os servidores também reivindicam investimento urgente na rede própria, pois é fundamental que o Governo invista na estrutura do Hospital dos Servidores (HSE) e das 12 agências regionais no interior do estado. Em Arcoverde e em outras regionais, há necessidade urgente de profissionais médicos de diversas especialidades para atender à demanda da região.


Além disso, os servidores cobram a extinção imediata do sistema de cotas que limita o acesso aos exames e procedimentos, prejudicando gravemente a assistência aos beneficiários. Reivindicam, ainda, transparência em todas as ações do Sassepe, inclusive nas decisões sobre cotas, credenciamento e repasses financeiros, com garantia de que as medidas sejam discutidas no Conselho Deliberativo antes de serem implementadas. Outras demandas incluem ampliação da rede credenciada, através do credenciamento de novos prestadores de serviços e regularização dos pagamentos aos credenciados atuais, para evitar novas suspensões de atendimento. É essencial, ainda, assegurar o fornecimento regular de medicamentos, especialmente para tratamentos contínuos como quimioterapia e terapias para doenças crônicas. Por fim, os servidores cobram providências urgentes do Governo para reduzir as filas de cirurgias, atendendo às demandas com mais agilidade e respeitando os prazos legais, especialmente nos casos oncológicos.


Morena Cabral, diretora da Assepe, é conselheira representante dos servidores no Conselho Deliberativo do Sassepe (CONDASPE). Durante sua fala no ato em Arcoverde, ela destacou a importância de garantir um espaço democrático e participativo no Conselho.


"Estamos reivindicando um espaço democrático que deve existir no Conselho Deliberativo do Sassepe. É um conselho que tem a tarefa de discutir as políticas de assistência à saúde. Mas no que se refere à assistência propriamente dita, quando as medidas são tomadas, não passam pelo Conselho, não se discute no Conselho. Nós, conselheiros, tomamos conhecimento dos impedimentos que são criados depois, nos locais onde estamos sendo atendidos", denunciou.

A falta de diálogo e de participação efetiva dos representantes dos servidores nas decisões sobre o sistema tem sido uma das queixas recorrentes. Em junho de 2024, por exemplo, foi noticiado um "leilão da dívida do Sassepe", operação realizada sem discussão e deliberação prévia do Conselho Deliberativo, gerando preocupação e questionamentos por parte dos beneficiários. A Assepe, fundada para representar os interesses dos servidores usuários do Sassepe, mantém uma Casa de Apoio que acolhe beneficiários do interior que estão em tratamento no Hospital dos Servidores no Recife. A entidade tem sido uma voz ativa na luta pela melhoria do sistema e pela garantia dos direitos dos servidores.


Morena Cabral diretora da ASSEPE e Ivan Rui diretor do SINTEPE
Morena Cabral diretora da ASSEPE e Ivan Rui diretor do SINTEPE

O ato realizado em Arcoverde nesta quarta-feira (13) é parte de uma mobilização mais ampla dos servidores estaduais coordenada pelo Fórum dos Servidores de Pernambuco, com participação do SINTEPE, da CUT-PE, do SINDSAAF-PE, do SINDPD-PE, do SEEPE e de outros sindicatos. Em outubro de 2024, o Fórum dos Servidores realizou o "Faixaço do Sassepe", uma mobilização em frente ao Centro de Convenções do Recife, no dia 29, com o objetivo de denunciar à sociedade a insatisfação dos servidores pela atual situação de crise do sistema. O protesto foi realizado no momento em que acontecia um evento do Governo do Estado em homenagem ao Dia do Servidor no local. A presidenta do SINTEPE, Ivete Caetano, tem sido enfática ao afirmar que:


"Os servidores são responsáveis por cerca de 70% do financiamento do sistema, enquanto o Governo do Estado contribui com 30%. Mesmo assim, a gestão pública não tem conseguido administrar os recursos de forma eficiente, resultando em atendimentos precários, falta de medicamentos, dívidas com a rede privada e filas extensas para consultas e cirurgias".

Para o Fórum dos Servidores, o Sassepe é uma conquista histórica dos servidores de Pernambuco e, como tal, precisa ser tratado como prioridade. A entidade considera que a responsabilidade pela assistência à saúde dos servidores é de competência exclusiva do Governo do Estado e, portanto, é fundamental que essa responsabilidade seja assumida e concretizada.


"A governadora precisa agir com a urgência que a situação exige. Salvar vidas requer investimento, cuidado e atenção! O Sintepe, como sempre, tem empreendido uma luta cotidiana e permanente em defesa do Sassepe e nela continuará até que os serviços garantam nosso direito à saúde e à vida", afirmou o sindicato em nota.

O ato realizado em Arcoverde e as mobilizações dos servidores em todo o estado evidenciam uma questão que transcende os aspectos administrativos e financeiros: trata-se da defesa de um direito constitucional fundamental, o direito à saúde e à vida.


João de Barros - diretor do SINTEPE
João de Barros - diretor do SINTEPE

"A assistência à saúde é vida. Este é o nosso direito principal e dele a gente não vai abrir", declarou Morena Cabral ao encerrar sua participação no ato.

Com 24 anos de existência, o Sassepe representa uma conquista histórica que não pode ser perdida por má gestão, falta de investimento ou ausência de vontade política. Os mais de 160 mil beneficiários do sistema, entre servidores ativos, aposentados, pensionistas e dependentes, aguardam medidas concretas e urgentes do Governo Raquel Lyra para reverter o quadro de crise e garantir uma assistência à saúde digna, eficiente e de qualidade.


"Essa situação precisa ser resolvida e quem vai resolver é a governadora. Este é o nosso pleito: é necessário investir no Sassepe o que for necessário para que o sistema não tenha como acabar. Estamos com a força e a luta da nossa parte, e ela não vai parar", finalizou Morena Cabral.

A luta dos servidores continua, e o ato de Arcoverde reafirma o compromisso da categoria com a defesa do Sassepe, em nome da saúde, da dignidade e da vida de todos os beneficiários do sistema.

 
 
 

Da Redação de O estopim – jornalismo com análises do Brasil e do mundo.


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O Festival Pernambuco Meu País realiza sua última etapa no Sertão do estado neste fim de semana, na cidade de Arcoverde. O evento, uma iniciativa do Governo do Estado de Pernambuco por meio da Secretaria de Cultura, Fundarpe e Empetur, contará com mais de 140 ações culturais distribuídas em 17 polos.


A programação inclui shows de artistas como Seu Jorge, Mart’nália, Maneva, Nação Zumbi, Wiu e o projeto Dominguinho, com participações de João Gomes, Mestrinho e Jota Pê. Estão previstas ainda apresentações de Mestre Ambrósio, Quinteto Violado, Petrúcio Amorim, Lirinha, Taiguara Borges e Batista Lima, abrangendo gêneros como samba, reggae, manguebeat, forró, MPB e trap.


As atividades terão início na quinta-feira (28) com a Trupe Pernambuco Meu País, um cortejo com artistas de circo, dança, música, poesia e teatro que sairá da Praça da Bandeira às 16h30 em direção à Estação da Cultura. A partir de sexta-feira (29), os polos do festival entrarão em funcionamento.


Além dos shows, a programação contempla expressões culturais como circo, teatro, dança, artes visuais, gastronomia, artesanato e culturas populares. Estão previstos cortejos com agremiações como o Elefante de Olinda, Pavão Misterioso, maracatus Leão Coroado, Águia Misteriosa, Raízes do Sertão e Raízes de Pai Adão, batalhões de bacamarte, bois, caboclinhos, ursos e afoxés.


O festival contará com polos descentralizados nos distritos de Ipojuca e Caraíbas, com espetáculos infantis e musicais. A estrutura também inclui o Rede PE, com estandes de órgãos estaduais para prestação de serviços e orientações ao público.


Em declaração, a secretária estadual de Cultura, Cacau de Paula, afirmou que:


Renata Borba - Presidente da Fundarpe
Cacau de Paula - Secretária de Cultura
"Arcoverde foi uma cidade que acolheu o Pernambuco Meu País com muito entusiasmo na última edição" e que a cidade "trará a força de sua cultura popular local, mas também estará de portas abertas para manifestações artísticas de todo o estado".

A presidente da Fundarpe, Renata Borba, complementou que:


Renata Borba - Presidente da Fundarpe
Renata Borba - Presidente da Fundarpe
"Arcoverde tem grande representatividade na identidade cultural do Sertão" e que o festival "reforça a força da cultura popular arcoverdense, e promove também importantes intercâmbios com outras expressões culturais".

PROGRAMAÇÃO



O Festival Pernambuco Meu País está chegando em Arcoverde!
O Festival Pernambuco Meu País está chegando em Arcoverde!

Palco Pernambuco Meu País (Estação da Cultura - Pátio):


  • 29/08 - SEXTA: Espetáculo Pernambuco Meu País (18h30), Lirinha (19h20), Nação Zumbi (20h50), Wiu (22h40), Maneva (00h30). Intervalos com Som na Rural.

  • 30/08 - SÁBADO: Samba de Coco Irmãs Lopes (18h30), Mestre Ambrósio (19h20), Taiguara Borges (20h50), Mart’nália (22h40), Seu Jorge (00h30). Intervalos com Som na Rural.

  • 31/08 - DOMINGO: João do Pife e Banda Dois Irmãos (17h30), Quinteto Violado (18h20), Petrúcio Amorim (19h50), Batista Lima (21h40), Projeto Dominguinho (23h30). Intervalos com Som na Rural.




Arcoverde vai ferver com o Festival Pernambuco Meu País!
Arcoverde vai ferver com o Festival Pernambuco Meu País!

Outros Polos (resumo):


  • Trupe Pernambuco Meu País: Cortejo na quinta (28), a partir das 16h30 na Praça da Bandeira.

  • País das Artes Cênicas (Sesc): Espetáculos de dança e teatro, dias 29 a 31/08.

  • País do Circo (Largo do Cecora): Espetáculos circenses, dias 29 a 31/08.

  • País das Culturas Populares (Praça Virgínia Guerra): Apresentações de grupos culturais, dias 29 a 31/08.

  • País Matrizes do Forró (Centro de Artesanato e Gastronomia): Shows de forró, dias 29 a 31/08.

  • País da Música (Praça das Bandeiras): Shows diversos, dias 29 a 31/08.

  • Cortejos Brincantes: Desfiles de agremiações culturais, dias 29 a 31/08, em horários e locais variados.

  • Ações Descentralizadas: Programação nos distritos de Ipojuca e Caraíbas, dias 29 a 31/08.

  • Forma PE e Fórum: Oficinas e debates no Sesc Arcoverde e na Sede do Coco Raízes de Arcoverde, entre os dias 26 e 31/08.


A programação detalhada de todos os polos está disponível no:



 
 
 
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