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    Raul Silva
  • 17 de ago. de 2024
  • 3 min de leitura

Por: Raul Silva

- Professor de Língua Portuguesa, Colunista do Teoria Literária, Especialista em Literatura, Estudante de Jornalismo e Apresentador do podcast Teoria Literária.


Ariano Suassuna, um dos maiores expoentes da literatura e cultura brasileira, sempre foi um incansável defensor do legado cultural pernambucano.


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Ele não apenas deixou sua marca em obras memoráveis, mas também foi celebrado oficialmente no dia 17 de agosto de 2014, quando a Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE) o declarou Patrono da Cultura Pernambucana. Esta homenagem é uma prova da imensa contribuição de Suassuna para a preservação e promoção da identidade cultural do estado.


Nascido em 16 de junho de 1927, na cidade de João Pessoa, Paraíba, Suassuna escolheu Pernambuco como sua casa e ponto de criação artística. Sua obra literária e trajetória pessoal sempre buscaram destacar as tradições do Nordeste, com ênfase no folclore, nas histórias populares e na cultura oral. Sua peça mais celebrada, O Auto da Compadecida, não apenas revolucionou o teatro brasileiro, mas, como ele mesmo afirmou, é uma “defesa do homem nordestino, suas lutas e sua fé”. Através dessa obra, Suassuna mergulha nas raízes culturais da região, dando visibilidade ao sertanejo e ao seu imaginário.


O reconhecimento da ALEPE veio em um momento simbólico, pois a data de 17 de agosto tornou-se um marco não só para Pernambuco, mas para todos os que valorizam a cultura nordestina. Como ressaltou o estudioso Durval Muniz de Albuquerque Júnior:


“Suassuna sempre conseguiu transitar entre a erudição e o popular com maestria, sem nunca perder de vista a necessidade de tornar a cultura acessível ao povo”.

Além de ser um renomado escritor, Suassuna foi um grande ativista pela educação e pela valorização da cultura popular. Ele lutou para que as tradições regionais fossem ensinadas nas escolas e defendia que “o povo deve conhecer sua própria história e valorizar suas origens”. Seus textos misturam o teatro de cordel, a literatura popular e elementos clássicos, criando um estilo único. Como bem observou o crítico literário Antônio Cândido:

“Suassuna é o grande tradutor da alma nordestina, unindo o trágico ao cômico, o popular ao erudito, de maneira magistral.”

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A declaração de Suassuna como Patrono da Cultura Pernambucana vai além de uma homenagem. Ela serve como um lembrete constante da importância de preservar nossas raízes culturais em um mundo cada vez mais globalizado, onde, como ele mesmo afirmou, “as tradições correm o risco de desaparecer se não forem defendidas”. Para Suassuna, a cultura era o que definia uma sociedade, e foi através dela que ele ajudou a recriar histórias e valores que conectam gerações.


Em sua obra, ele imortalizou a essência do povo nordestino, como se observa na peça O Santo e a Porca, onde o humor e a sabedoria popular se misturam à crítica social. Ariano Suassuna acreditava que “a cultura popular é a chave para entendermos quem somos”, e essa crença está enraizada em tudo o que produziu.


Neste 17 de agosto, ao celebrarmos Ariano Suassuna, celebramos também a literatura, a música, a dança e, acima de tudo, a oralidade tão querida por ele. Como bem disse sua filha, Mariana Suassuna:

“meu pai via na cultura do povo uma força transformadora, capaz de unir gerações e de perpetuar o que há de mais belo em nossa história”. 

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Pernambuco, com sua vasta tradição cultural, reflete em cada canto a influência de Suassuna. Ao ser declarado Patrono da Cultura Pernambucana, a ALEPE reafirma o compromisso de preservar esse patrimônio, reconhecendo que a cultura é um bem coletivo. Suassuna deixou um legado que ultrapassa a literatura, alcançando artistas, escritores e intelectuais que seguem inspirados por sua visão.


Que o dia 17 de agosto seja, para sempre, um símbolo da resistência cultural nordestina, onde, como ele próprio dizia, “as vozes do povo sejam sempre ouvidas e celebradas”.


Celebrar Ariano Suassuna é celebrar a identidade cultural do Brasil, a força das narrativas populares e a beleza eterna das tradições nordestinas, que, como em suas palavras, “são a alma vibrante e eterna de nossa nação”.

 
 
 

Atualizado: 19 de dez. de 2024

Texto de Raul Silva

- Professor de Língua Portuguesa, Colunista do Teoria Literária, Especialista em Literatura, Estudante de Jornalismo e Apresentador do podcast Teoria Literária.


Ao ler "A Revolta de Atlas", é impossível não ser impactado pela grandiosidade da obra e pela ousadia filosófica que Ayn Rand imprime em suas páginas. Contudo, como especialista em literatura e ciência política, sinto-me compelido a questionar e criticar os alicerces teóricos dessa narrativa, especialmente a filosofia do Objetivismo que Rand tão fervorosamente defende.


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O Objetivismo de Ayn Rand: Uma Filosofia Sedutora, mas Perigosa


O Objetivismo, como Rand o formula, prega a razão, o individualismo e o capitalismo laissez-faire como os pilares fundamentais de uma sociedade próspera e moralmente justa. Em "A Revolta de Atlas", Rand constrói um universo onde os "motores" do mundo – indivíduos excepcionais em suas áreas – se retiram em protesto contra um governo que, na visão da autora, oprime e sufoca a genialidade com suas regulamentações e políticas coletivistas. John Galt, Dagny Taggart e Hank Rearden são os heróis dessa epopeia moderna, retratados como os únicos capazes de manter a civilização em funcionamento.


No entanto, essa glorificação do individualismo e da busca pelo interesse próprio, embora sedutora, esconde uma falácia social profunda. Ao colocar o egoísmo racional como o ápice da moralidade, Rand ignora as complexidades e interdependências que caracterizam a sociedade humana. Mais ainda, sua visão de mundo, que desdenha do altruísmo e da cooperação social, falha em reconhecer que o progresso humano sempre foi, em grande medida, fruto do esforço coletivo.


As Contradições do Objetivismo e a Falácia Social


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A primeira grande falha do Objetivismo é sua pressuposição de que todos os indivíduos têm as mesmas oportunidades para alcançar o sucesso, independentemente de suas circunstâncias sociais, econômicas ou culturais. Essa visão simplista desconsidera as desigualdades estruturais que afetam milhões de pessoas ao redor do mundo, especialmente em sociedades marcadas por profundas disparidades de renda e poder.


Em um mundo real, onde as oportunidades são distribuídas de maneira desigual, a aplicação do Objetivismo pode resultar não em liberdade e prosperidade, mas em uma exacerbação da desigualdade e na marginalização dos menos afortunados. Rand falha em reconhecer que, sem algum nível de intervenção estatal e proteção social, muitos indivíduos simplesmente não têm a capacidade de competir em um mercado "livre" que, na verdade, é tendencioso desde o início.


Além disso, o individualismo radical pregado por Rand pode levar a uma erosão da coesão social. Quando cada indivíduo é incentivado a buscar apenas seus próprios interesses, a empatia e a solidariedade tornam-se virtudes desprezadas. Isso cria uma sociedade fragmentada, onde as pessoas se isolam em suas bolhas de privilégio ou desespero, sem qualquer senso de responsabilidade mútua.


Objetivismo e Fascismo: Uma Conexão Inquietante


É preocupante observar como a extrema-direita se apropriou das ideias de Ayn Rand para promover uma agenda política que muitas vezes flerta com o autoritarismo. O discurso de Rand, que exalta o indivíduo acima de tudo e vê o Estado como um inimigo natural da liberdade, é frequentemente distorcido para justificar políticas que desmantelam redes de proteção social, enfraquecem os direitos trabalhistas e concentram ainda mais poder nas mãos de poucos.


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Essa apropriação do Objetivismo pela extrema-direita revela uma conexão inquietante entre a filosofia de Rand e ideologias opressoras. Quando o individualismo é levado ao extremo, ele pode facilmente ser manipulado para apoiar regimes que, na prática, negam a liberdade e a dignidade da maioria em favor de uma elite poderosa. É irônico que uma filosofia que se proclama defensora da liberdade possa, em última análise, ser usada para promover a opressão e a desigualdade.


O Valor da Responsabilidade Social e a Necessidade de Um Novo Paradigma


Se há algo que devemos aprender com "A Revolta de Atlas" é que a sociedade humana é complexa demais para ser governada por uma filosofia que ignora a interdependência e a diversidade de experiências humanas. A liberdade individual é certamente importante, mas ela deve ser equilibrada com a responsabilidade social e a justiça econômica.


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Para construir um mundo verdadeiramente justo e próspero, precisamos de um novo paradigma que reconheça tanto o valor da inovação individual quanto a necessidade de estruturas sociais que garantam oportunidades justas para todos. Isso significa abraçar políticas que promovam a igualdade de oportunidades, protejam os mais vulneráveis e incentivem a cooperação em vez da competição desenfreada.


Conclusão


"A Revolta de Atlas" é, sem dúvida, uma obra poderosa que continua a influenciar o pensamento político e econômico. No entanto, as ideias que Ayn Rand promove, quando examinadas de perto, revelam-se falhas e potencialmente perigosas. O Objetivismo pode seduzir com sua promessa de liberdade e realização pessoal, mas é uma filosofia que, na prática, pode levar à exclusão, à desigualdade e à opressão.


Como leitores críticos e cidadãos conscientes, devemos questionar as premissas de Rand e buscar alternativas que valorizem não apenas o indivíduo, mas também a sociedade como um todo. Somente assim poderemos construir um futuro onde a liberdade e a justiça caminhem lado a lado.


 
 
 
  • Foto do escritor: Raul Silva
    Raul Silva
  • 2 de ago. de 2024
  • 2 min de leitura

Texto de Raul Silva

- Professor de Língua Portuguesa, Colunista do Teoria Literária, Especialista em Literatura, Estudante de Jornalismo e Apresentador do podcast Teoria Literária.


No mais recente episódio do podcast "Teoria Literária", intitulado "Legado da Ditadura: Literatura, Pós-verdade, Desinformação, Bolsonarismo e Desafios Democráticos (1985-Presente)", nos aprofundamos em uma análise meticulosa das cicatrizes deixadas pela ditadura militar no Brasil e suas reverberações até os dias atuais. A série, que culmina neste episódio, oferece uma reflexão profunda sobre a intersecção entre literatura, política e sociedade, com uma abordagem crítica e informada.


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Dividido em seis blocos, o episódio inicia com uma contextualização histórica essencial, que nos relembra os episódios anteriores e estabelece a relevância do tema. A introdução prepara o terreno para uma discussão densa, onde exploramos como a literatura brasileira não apenas refletiu as dores e injustiças vividas pela sociedade durante a ditadura, mas também serviu como uma ferramenta de resistência e denúncia dos abusos de poder.


O bloco sobre o legado literário da ditadura é um destaque, proporcionando uma análise perspicaz de autores como Jorge Amado, Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade, cujas obras emergiram como vozes poderosas contra a repressão. A literatura marginal também é abordada, mostrando a coragem dos escritores que desafiaram o silêncio imposto pelo regime através de novas formas de expressão poética.


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Em seguida, o episódio mergulha no fenômeno da pós-verdade e da desinformação na era digital. Aqui, a análise é cirúrgica ao delinear como a disseminação de informações falsas ameaça a democracia e os direitos humanos. A discussão sobre as bolhas de filtro e os algoritmos das redes sociais é especialmente relevante, oferecendo um alerta sobre os perigos da manipulação midiática no contexto político atual do Brasil.


A ascensão do bolsonarismo é tratada com uma abordagem crítica e bem fundamentada, traçando paralelos preocupantes entre as práticas autoritárias do governo Bolsonaro e os métodos utilizados durante a ditadura militar. Este bloco não apenas ilumina as raízes históricas do movimento, mas também destaca as consequências contemporâneas de um governo que exalta a violência e a repressão.


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Os desafios democráticos no Brasil contemporâneo são explorados com um olhar aguçado, identificando as ameaças à liberdade de expressão, aos direitos civis e às instituições democráticas. A crise de representatividade, a polarização política e os ataques à imprensa são discutidos com profundidade, oferecendo uma visão clara dos obstáculos que precisamos superar para fortalecer nossa democracia.


A conclusão do episódio é uma recapitulação brilhante dos pontos principais abordados ao longo da série, deixando uma mensagem poderosa sobre a importância da resistência e da luta por um futuro mais justo e igualitário. A reflexão final nos convida a continuar a discussão e a participar ativamente na construção de uma sociedade democrática.


"Legado da Ditadura" é um episódio imprescindível para quem deseja compreender as complexidades do Brasil moderno. Ele combina uma pesquisa rigorosa com uma narrativa envolvente, oferecendo uma análise crítica que é ao mesmo tempo informativa e inspiradora. Recomendo a todos os ouvintes do "Teoria Literária" que não percam este episódio crucial.

 
 
 
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