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Por: Raul Silva para O estopim | 12 de dezembro de 2025


Presidente da Câmara utiliza máquina legislativa para reprimir imprensa, perseguir oposição e blindar golpistas em sequência de abusos que preocupa efensores da Democracia


Em apenas quatro meses como presidente eleito da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) transformou a principal Casa legislativa do Brasil em plataforma de autoritarismo institucional. Através de uma escalada progressiva de violência contra jornalistas, censura de parlamentares, manipulação regimental e aprovação de leis que beneficiam conspiradores de golpe, Motta construiu método coerente de concentração de poder que viola direitos fundamentais consagrados na Constituição de 1988 e viola normas democráticas estabelecidas nas últimas décadas. A investigação aqui apresentada documenta cada passo dessa progressão, identifica possíveis crimes cometidos e analisa os impactos corrosivos para as instituições brasileiras.


Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Quem é Hugo Motta e qual seu cargo hoje?

Hugo Motta é deputado federal pela Paraíba, filiado ao Republicanos, e atualmente presidente da Câmara dos Deputados em Brasília, posição que lhe dá enorme controle sobre a pauta e o funcionamento do Legislativo.

Quais são os principais atos de autoritarismo atribuídos a Hugo Motta?

Incluem agressões e expulsão de jornalistas do plenário, restrições à circulação da imprensa na Câmara, corte da transmissão da TV Câmara, corte de microfones de deputadas da oposição e uso da Polícia Legislativa contra parlamentares críticos.​​

O que aconteceu na Câmara em 9 de dezembro de 2025?

Houve confronto após Motta pautar de surpresa o projeto que reduz penas de condenados pelo 8 de janeiro e cassações de deputados; Glauber Braga ocupou a cadeira da Presidência, foi retirado à força, jornalistas foram agredidos e a TV Câmara teve a transmissão interrompida.

Como a imprensa foi afetada pelas decisões de Motta?

Jornalistas relataram empurrões, puxões, impedimento de circulação e expulsão violenta do plenário, além de barreiras físicas e restrições crescentes ao acesso, criando um ambiente de medo e autocensura na cobertura política em Brasília.

Que ligação existe entre Hugo Motta e o bolsonarismo?

Motta tem apoiado pautas de interesse do bolsonarismo, como a redução de penas de condenados pelo 8 de janeiro e negociações em torno de anistia, ao mesmo tempo em que demonstra tolerância maior com atos de obstrução realizados por deputados bolsonaristas.

O que é o projeto de dosimetria que beneficia golpistas?

É uma proposta aprovada na Câmara que altera o cálculo das penas dos condenados pelo 8 de janeiro, reduzindo o tempo de prisão de envolvidos, inclusive de Jair Bolsonaro, e sendo vista por especialistas como uma anistia disfarçada.​

Quais possíveis crimes podem estar configurados nas ações de Motta?

Juristas apontam indícios de abuso de autoridade, coação no exercício da liberdade de imprensa, violação de direitos constitucionais, desrespeito ao princípio da publicidade dos atos legislativos e, em tese, crimes de responsabilidade como presidente da Câmara.

Há impacto institucional e político além dos casos de violência?

Analistas destacam erosão da confiança na Câmara, normalização de práticas autoritárias, enfraquecimento da transparência, maior polarização e sensação de impunidade para grupos ligados ao golpismo.

Já existem reações formais contra esses abusos?

Entidades de imprensa, parlamentares da oposição e setores da sociedade civil pediram investigação e responsabilização, e o tema foi objeto de debate no Senado, mas, até agora, Motta permanece no cargo respaldado por sua base política.

Por que essa reportagem é relevante para o público?

Porque revela como o uso autoritário da presidência da Câmara impacta diretamente a liberdade de imprensa, o equilíbrio entre os poderes e o futuro da democracia no Brasil, em um contexto de avanço de práticas neofascistas e desinformação.​


Hugo Motta do silêncio cúmplice à cascata de denúncias: como a Mídia finalmente expôs o segredo de Brasília


Até setembro de 2025, a violência de Hugo Motta contra jornalistas era segredo de Brasília compartilhado em grupos de WhatsApp de repórteres que não ousavam publicar. O repórter Manuel Marçal, do site Metrópoles, foi violentamente empurrado por seguranças de Motta em agosto quando questionou o presidente sobre esquema de "rachadinha" funcionando dentro de seu gabinete — caso investigado pela Polícia Federal. Semanas depois, novos episódios se acumulavam: repórteres impedidos de fazer perguntas, cercadinhos de separação instalados, jornalistas segurados violentamente pelo pulso para impedir filmagem, um "paredão" de seguranças criando barreira intransponível entre Motta e a imprensa.​


A assessoria de Motta, em comunicados internos, lamou os episódios, mas culpabilizou as vítimas, sugerindo que jornalistas "se excederam na forma de se aproximar". Enquanto isso, reuniões entre representantes de Motta, policiais legislativos e jornalistas ocorriam a portas fechadas, tentando conter o escândalo sem visibilidade pública. Nenhum grande veículo tradicional havia denunciado sistematicamente. Apenas o Intercept Brasil, em setembro, finalmente expôs a realidade através de investigação publicada na newsletter Cartas Marcadas.​


A escalada, porém, continuou — agora com o próprio presidente ciente de que jornalistas e defesa da democracia estavam atentos. Motta não recuou. Acelerou.​


A noite em que a Democracia tremeu: 9 de dezembro de 2025


Na terça-feira 9 de dezembro, entre 17 horas e madrugada adentro, a Câmara dos Deputados viveu episódio que historiadores democráticos compararam aos piores momentos da ditadura militar. Tudo começou com um anúncio feito sem aviso.


No dia anterior, 8 de dezembro, Hugo Motta havia reunido com o ministro da Fazenda Fernando Haddad e líderes de partidos, sinalizando que a pauta do dia seguinte seria dedicada à agenda econômica do governo. Esperava-se transparência, consenso, diálogo. Contudo, no dia 9, Motta surpreendeu o Congresso inteiro anunciando simultaneamente dois projetos explosivos: o PL da Dosimetria (que reduz penas de condenados pelo golpe de 8 de janeiro) e a cassação de quatro deputados (Glauber Braga, Carla Zambelli, Alexandre Ramagem e Eduardo Bolsonaro).​


Líderes de partidos explodiram em raiva. Não houve consenso. Não houve mediação. O presidente da Câmara havia transformado sua posição em arbítrio pessoal que impõe pautas sem consideração institucional. O relator do projeto de dosimetria, Paulinho da Força (Republicanos-SP), não havia sido informado da votação. Motta criou, deliberadamente, condições para conflito.​


O deputado Glauer Braga (PSOL-RJ) foi até a cadeira presidencial em protesto. Permaneceu ali aproximadamente uma hora, denunciando a discriminação: bolsonaristas que haviam ocupado a mesma Mesa Diretora por 48 horas em agosto foram tratados com docilidade, sem força policial, sem violência. Com ele, deputado eleito de esquerda, a resposta foi brutalmente diferente.​


"Só pedi ao presidente Hugo Motta que tivesse 1% do tratamento comigo que teve com aqueles que sequestraram a Mesa Diretora por 48h", protestou Glauber.

A resposta que recebeu foi agressão física. Policiais legislativos o arrastaram pela Câmara, rasgando seu paletó, agredindo seu corpo. O contraste não poderia ser mais claro: tolerância seletiva com a direita, repressão brutal com a esquerda.​


O ataque à imprensa: violência, agressões e censura ao vivo


Enquanto Glauber era arrastado, jornalistas que aguardavam em plenário para relatar os acontecimentos enfrentaram seu próprio calvário. A Polícia Legislativa, atuando sob ordens de Hugo Motta, avançou contra repórteres, cinegrafistas e fotógrafos que cumpriam seu trabalho constitucional.​


As cenas foram de violência pura: repórteres empurrados, uma jornalista tendo o cabelo puxado violentamente por policiais. A repórter Carolina Nogueira, do UOL, foi empurrada pelo pescoço enquanto tentava cobrir os acontecimentos. Produtores de TV levaram socos na barriga. Profissionais precisaram de atendimento médico por conta das agressões que incluíram puxões, cotoveladas, empurrões e intimidação.​


Um policial gritava:


"Pega aí porra! Você tem que sair! É uma ordem", evidenciando que as agressões não eram acidentais, mas operação coordenada de censura.

Uma das jornalistas agredidas relatou posteriormente:


"Eu fui empurrada quatro vezes. Puxaram o cabelo de uma colega que estava do meu lado, uma produtora de uma TV levou um soco na barriga. Foi uma situação totalmente desproporcional. Eu nem consegui ver as imagens depois de tão horrível que foi".​

Motta justificou a expulsão da imprensa com alegação de "segurança", invocando o Ato da Mesa nº 145/2020. Porém, a justificativa é fraudulenta. Não houve necessidade de expulsão violenta e agressiva. Tinha sido possível dialogar minimamente com os profissionais. A brutaalidade foi escolha deliberada. Samira Castro, presidente da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), rejeitou a narrativa de Motta:


"A questão de segurança não nos convence porque era possível dialogar, minimamente, com aqueles trabalhadores que estavam ali fazendo o seu trabalho. Sobretudo porque eles não foram só retirados, eles foram retirados com truculência, eles foram agredidos e isso é muito grave".​

Paralelamente, a TV Câmara teve sua transmissão ao vivo cortada às 17h34, precisamente quando o conflito se ampliava, bloqueando acesso do povo brasileiro aos trabalhos legislativos. Motta justificou que a interrupção era "procedimento técnico de praxe" porque a sessão foi suspensa. Novamente, é mentira. Há múltiplas maneiras de gerenciar transmissões em crises. O corte foi deliberado, censura de Estado.​


A silenciamento da crítica: corte de microfones e supressão da fala parlamentar


Enquanto a polícia agredia jornalistas e Glauber era arrastado, deputadas que tentaram denunciar os abusos tiveram suas vozes literalmente cortadas. Durante a votação do PL da Dosimetria na madrugada, a deputada Fernanda Melchiona (PSOL-RS) iniciou discurso criticando as agressões contra jornalistas que ocorriam sob ordens de Hugo Motta.​


Motta cortou seu microfone e riu enquanto ela falava. Momentos depois, a deputada Benedita da Silva também teve seu microfone desligado. Hugo Motta permaneceu mudo diante dos abusos de força, mas tornou-se censor ativo de críticas dirigidas contra ele.​


Tal conduta viola direito constitucional fundamental. O artigo 53 da Constituição garante aos deputados e senadores "imunidade material", significando que não podem ser responsabilizados por palavras, votos e atos praticados no exercício do mandato. Ao cortar microfone de deputadas críticas, Motta usurpou essa garantia. Transformou-se em censor arbitrário.​


A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) resumiu o clima:


"Hugo Motta atacou de morte a democracia".​

O projeto que beneficia Golpistas: impunidade estruturada e seletiva


No coração da operação de 9 de dezembro estava o PL da Dosimetria — legislação aparentemente técnica que, na realidade, funciona como anistia disfarçada para condenados pela tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023.​


O projeto não oferece anistia formal — tal ato seria politicamente custoso demais. Em vez disso, manipula regras de dosimetria de penas (redução por absorção de crimes, redução por participação em multidão) para atingir resultado idêntico: reduzir penas de modo que conspiradores golpistas saiam mais rapidamente da cadeia.​


A matemática é clara: Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão. Com a redução de dosimetria, sua pena cai para 20 anos e 8 meses. Com sistemas de remissão de penas (1 dia de remissão a cada 3 dias de trabalho cumprido, por exemplo), o tempo efetivo poderia reduzir para apenas 2 anos e 4 meses. Bolsonaro, que orquestrou tentativa de golpe contra a democracia, poderia estar livre antes de 2027.​


Outros condenados pelos atos golpistas também se beneficiariam. Todos os que ainda aguardavam julgamento poderiam ter suas sentenças futuras reduzidas ante limine.​


A votação ocorreu durante madrugada, procedimento que reduz escrutínio público e cobertura jornalística. Motta, que havia prometido à direita antes de sua eleição como presidente que votaria sobre anistia aos golpistas, havia recuado. Porém, após consolidar poder como presidente da Câmara, usou essa posição para fazer aquilo que havia negado: beneficiar, de fato, os conspiradores.​


A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), esposa de Glauber, denunciou a operação em plenário horas antes de ser agredida:


"É um absurdo, há uma ofensiva golpista em curso. Bolsonaro acumula condenações. Eduardo Bolsonaro é réu no STF e enfrenta cassação por faltas. Mas o foco do Centrão tem sido acelerar cassação de Glauber".​

A dupla medida: autoritarismo estratificado e seletivo


A operação de 9 de dezembro revelou dupla medida cristalina. Bolsonaristas que ocuparam a Mesa Diretora por 48 horas em agosto foram tratados com diplomacia, negociação, zero força policial. Glauber Braga, que ocupou a presidência por aproximadamente uma hora em protesto legítimo, foi arrastado à força.​


Carla Zambelli, deputada PL condenada criminalmente pelo STF por participação em golpe, permanece com mandato protegido através de procedimento mais lento, mais político, mais imprevisível que a Lei determina. Glauer, deputado eleito cuja "agressão" a militante do MBL ocorreu quando defendia sua mãe que viria a falecer dias depois, enfrenta cassação acelerada.​


Eduardo Bolsonaro, filho de Bolsonaro, réu no STF por crime de coação contra autoridades americanas, consegue questionar cassação através de procedimento que a Constituição não autoriza, pois trata-se de condenação ao regime fechado que deveria resultar em cassação automática. Contudo, Motta oferece possibilidade de julgamento mais lento em plenário.​


O padrão é transparente: aliados bolsonaristas e de direita recebem proteção processual, dilatação de prazos, procedimentos flexíveis. Opositores de esquerda e progressistas recebem aceleração, força policial, violência. A justiça legislativa tornou-se instrumento de poder partidário, não de imparcialidade ou aplicação de regras.​


Os Possíveis Crimes: Abuso de Autoridade, Censura e Violência Institucional


As ações de Hugo Motta e seus subordinados durante a noite de 9 de dezembro podem configurar múltiplos crimes sob a legislação brasileira:


1. Abuso de Autoridade (Lei 13.869/2019)


A Lei de Abuso de Autoridade criminaliza condutas de servidores públicos que excedem seus poderes ou os usam para fins não autorizados por lei. Hugo Motta, como presidente da Câmara, possui autoridade legítima para manter segurança do plenário. Porém, não possui autoridade de:​


  • Expulsar jornalistas de forma violenta e agressiva​

  • Cortar transmissões de TV Câmara para censura​

  • Cortar microfones de deputados durante discursos críticos​

  • Autorizar violência policial contra profissionais de imprensa cumprindo trabalho constitucional​


Cada uma dessas ações constitui potencial abuso de autoridade. A Lei 13.869 estabelece penas de 1 a 4 anos de prisão.​


2. Violação de Direito Constitucional da Liberdade de Imprensa


A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso IX, garante a:


"livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença".

O artigo 220 reafirma:


"A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição".​

As ações de Motta contra jornalistas violam esses direitos fundamentais. Sua equipe admitiu lamentar os episódios, mas negou intenção de "limitar o exercício da atividade jornalística". Contudo, os vídeos e relatos de vítimas demonstram que precisamente isso ocorreu: limitação deliberada do exercício jornalístico através de violência e intimidação.​


3. Coação (Código Penal, art. 146)


A coação ocorre quando alguém, "mediante violência ou grave ameaça, constrange alguém a fazer, tolerar ou deixar de fazer alguma coisa". Ao autorizar violência policial contra jornalistas e deputados que denunciavam abusos, Motta constrangeu-os a abandonar suas funções constitucionais sob ameaça de agressão física.​


4. Abuso de Poder (Regimento Interno da Câmara)


Independentemente de crimes penais, o Regimento Interno da Câmara estabelece procedimentos para ação de presidente. Motta violou regimento ao:


  • Pautar projetos sem aviso aos líderes de partidos​

  • Cortar microfones de deputados sem justificativa regimental​

  • Autorizar expulsão violenta de jornalistas sem procedimento adequado​

  • Cortar transmissão de TV Câmara durante sessão plenária​


Tais violações podem resultar em processo de destituição da presidência.​


5. Crimes de Responsabilidade


Hugo Motta, como presidente da Câmara, é sujeito passivo de responsabilização por crimes de responsabilidade definidos na Lei 1.079/1950. Sua conduta de:


  • Violar direitos constitucionais de expressão e informação​

  • Usar aparato de Estado (Polícia Legislativa) para fins ilegítimos​

  • Comprometer legitimidade de instituições legislativas​


Pode configurar crimes contra a Constituição Federal.​


Os impactos: erosão institucional, risco democrático e autoritarismo normalizado


As consequências das ações de Hugo Motta extrapolam os crimes imediatos. Impactam estrutura institucional e confiança democrática:


Erosão do Princípio de Publicidade dos Atos Legislativos


A Constituição determina que todos os atos legislativos devem ser públicos. O povo brasileiro tem direito de acompanhar em tempo real como seus representantes votam. Ao cortar transmissão de TV Câmara, Motta violou esse direito. Cidadãos não puderam acompanhar a votação que beneficiava golpistas.​


Fragilização da Divisão de Poderes


A Câmara dos Deputados deveria ser câmara deliberativa, onde maiorias constroem consensos através de debate. Motta transformou a Casa em instrumento de poder pessoal, onde pautas são impostas sem mediação. A divisão entre Executivo e Legislativo enfraquece quando o Legislativo abandona autocontrole.​


Normalização do Autoritarismo


Ao sair impune de abusos óbvios, Motta normaliza autoridade violenta. Outras figuras políticas aprendem que autoritarismo, se praticado com suficiente força de coalizão, não resulta em responsabilização. Estamos presenciando normalização de práticas que deveriam ser intoleráveis em democracia.​


Medo Entre Jornalistas e Parlamentares da Oposição


A violência contra imprensa cria chilling effect — efeito de resfriamento. Jornalistas passam a autocensurar-se, sabendo que cobrir crítica ao poder resulta em agressão. Deputados da oposição hesitam em falar, temendo represálias. A própria voz democrática enfraquece-se.​


Desconfiança de Instituições e Legitimidade da Câmara


Pesquisas demonstram que confiança em instituições democráticas caiu drasticamente após os eventos de dezembro. Cidadãos questionam se a Câmara ainda representa o povo ou se tornou instrumento de poder concentrado. A legitimidade da Casa é corroída.​


A tentativa de contenção: reunião desmarcada, notas fraudulentas e falta de responsabilidade


Após as agressões e censura do dia 9, Motta tentou contenção de danos. Marcou reunião com representantes de imprensa indicados pelo Comitê de Imprensa da Câmara para quarta-feira 10 de dezembro. Porém, cancelou a agenda alegando "falta de tempo".


Dois dias após os eventos, Motta publicou nota afirmando que:


"lamentava transtornos causados" e reafirmava não haver "intenção de limitar o exercício da atividade jornalística".

Contudo, vídeos documentam precisamente o oposto: expulsão violenta, agressões, intimidação.​ A nota também prometia que:


"informações apresentadas pelos jornalistas serão incorporadas à apuração em andamento a fim de identificar eventuais excessos nas providências adotadas".

Mas, ainda não há evidência de responsabilidade, punição de policiais legislativos, ou alteração de conduta.​


A Associação Brasileira de Imprensa informou que entraria com ações judiciais contra Motta pelas "violências cometidas pela Polícia Legislativa". A Federação Nacional de Jornalistas classificou os eventos como "extremamente graves" e "cerceamento ao trabalho da imprensa". O Senado realizou debates sobre agressões a jornalistas, com relatórios indicando 144 agressões em 2025, uma média de uma a cada dois dias, muitas sob comando de Motta.​


Contudo, Motta permanece presidente da Câmara. Suas bases de apoio (Centrão, PL, bolsonarismo organizado) sustentam seu autoritarismo porque são beneficiários dele. A impunidade é recurso, não bug. É projeto político deliberado.​


A Câmara sequestrada, a Democracia em risco


Hugo Motta utilizou a posição de presidente da Câmara dos Deputados para construir sistema de autoritarismo institucional que combina: supressão violenta da imprensa, censura de deputados críticos, aplicação seletiva de punições, aprovação de leis que beneficiam conspiradores golpistas. Suas ações violam múltiplas disposições constitucionais, podem configurar crimes penais e crimes de responsabilidade, e corroem fundamentos da democracia brasileira.


A escalada começou em agosto com violência contra jornalistas. Evoluiu para censura sistemática em setembro-novembro. Culminou em dezembro com episódio de brutalidade coordenada contra imprensa, oposição e parlamentares críticos.


O mais preocupante é que Motta não governa sozinho. Representa coalizão mais ampla de elites que lucra com seu autoritarismo. Bolsonaristas são blindados pela redução de penas. Aliados são protegidos pela PEC da Blindagem. Oligarquias locais se beneficiam do enfraquecimento da Polícia Federal. Seu autoritarismo é consensual entre elites que temem responsabilidade.


Enquanto vítimas multiplicam-se — jornalistas agredidos, deputados censurados, comunidades cujos representantes são silenciados, povo privado de acesso a informação transparente — a Câmara dos Deputados deixa de ser "Casa do Povo" para tornar-se instrumento de poder concentrado a serviço de interesses privados.


Restaurar democracia exigirá não apenas remover Motta, mas enfrentar estruturas de corrupção, nepotismo e patrimonialismo que o sustentam. Exigirá investigação, responsabilização criminal, vontade política de processar. Sem isso, novos "Mottas" emergirão, replicando o mesmo padrão de autoritarismo travestido de governança legítima.


A noite de 9 de dezembro de 2025 permanecerá como marco de quando a democracia brasileira tremeu sob o peso do autoritarismo travestido de legalidade. Que sirva como chamado à mobilização, investigação e responsabilização daqueles que ousam transformar Casa da Democracia em instrumento de repressão.


Palavras-chave: Hugo Motta; Autoritarismo na Câmara; Agressões a jornalistas; PL da dosimetria; Presidente da Câmara; Censura à imprensa no Brasil;

 
 
 

Da Redação de O estopim | 11 de dezembro de 2025



O "Projeto de Lei n.º 2.162/2023", apresentado como uma solução de "pacificação", esconde uma armadilha perigosa. Sob o pretexto de corrigir "excessos" judiciais, o texto altera o cálculo das penas (Art. 359-M-A e Art. 359-V), criando uma matemática que pode reduzir condenações de 17 anos para menos de 4, livrando golpistas da cadeia. Mais grave ainda, a "regra de 1/6" para progressão de regime, alterada no Art. 112 da LEP, silencia sobre crimes contra a administração pública, abrindo as portas para a impunidade de corruptos e lavadores de dinheiro. É um ataque ao STF e à justiça.


LEIA A INTEGRA DO DOCUMENTO


Enquanto os holofotes de Brasília e a atenção da mídia tradicional estão voltados, quase que hipnotizados, para o barulhento debate ideológico sobre a anistia do 8 de janeiro, algo muito mais obscuro e silencioso se urde nos bastidores da Câmara dos Deputados. O Projeto de Lei nº 2.162/2023, que foi aprovada na calada da noite quinta-feira (10), em regime de urgência sob a relatoria do Deputado Paulo Pereira da Silva, apresenta-se ao mundo com vestes de pacificação e a promessa de um "meio-termo" virtuoso. No entanto, para aqueles que ousam olhar além da superfície e encarar a verdade nas entrelinhas, revela-se uma "engenharia da impunidade" que extrapola a política: é uma armadilha, um verdadeiro artefato de destruição que ameaça romper o equilíbrio do sistema penal brasileiro e lançar a Suprema Corte em um abismo de descrédito.


Presidente da Câmara, Hugo Motta, colocou em pauta o PL da Dosimetria | Imagem: Ton Molina/Estadão Conteúdo
Presidente da Câmara, Hugo Motta, colocou em pauta o PL da Dosimetria | Imagem: Ton Molina/Estadão Conteúdo

O texto do Substitutivo, que nossa reportagem dissecou como quem desvenda um pergaminho antigo e perigoso, não opera apenas como um perdão velado a um grupo específico; ele promove uma reestruturação profunda, quase mágica e oportunista, do Código Penal e da Lei de Execução Penal. O resultado prático é a abertura de portais para a liberdade que beneficiarão não apenas os que clamavam nas ruas, mas uma casta de criaturas de alta periculosidade social: lavadores de dinheiro, estelionatários e os senhores da corrupção que, até então, sentiam o cerco da justiça se fechar.


O "Liberou Geral": o fruto proibido que a Corrupção cobiça com o PL da Dosimetria


O aspecto mais terrível e menos visível deste projeto esconde-se onde poucos têm a curiosidade de olhar: na matemática fria da progressão de regime. Sob a justificativa aparentemente inofensiva de "adequar sanções", o texto altera drasticamente o Artigo 112 da Lei de Execução Penal, trazendo de volta uma regra antiga e sedutora: o cumprimento de apenas 1/6 (um sexto) da pena para a progressão. O ardil, a verdadeira maldição legislativa, reside no fato de que o projeto deixa de fora das regras mais rígidas qualquer crime que não envolva, explicitamente, "violência ou grave ameaça".


Foto: Reprodução
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Eis que surge o detalhe sombrio que transforma essa lei em um salvo-conduto para a elite: os crimes de colarinho branco (a corrupção que drena a vida da nação, o peculato e a lavagem de dinheiro) são cometidos no silêncio dos gabinetes, através de canetas e transações invisíveis, sem o derramamento de sangue físico. Pela nova regra, esses criminosos, que causam dor e sofrimento a milhares, teriam acesso a um dom negado ao ladrão comum.


O texto do substitutivo é cristalino, como uma sentença de destino, ao definir a regra geral benéfica:


"Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos 1/6 (um sexto) da pena no regime anterior e seu mérito indicar a progressão, observadas as seguintes exceções..."

Ao listar as exceções que exigiriam um sacrifício maior de tempo (25%, 30% ou mais), o texto amarra o rigor à violência física, excluindo intencionalmente os crimes financeiros, como quem protege os seus:


"I- Se o apenado for primário e for condenado pela prática de crimes previstos nos Títulos I e II da Parte Especial do Código Penal mediante exercício de violência ou grave ameaça, deverá ser cumprido ao menos 25% (vinte e cinco por cento) da pena;"

A conta da injustiça é amarga:


Imagine um cenário onde um político influente, condenado a 12 anos por desviar recursos vitais, se vê diante dessa nova realidade. Como seu crime foi cometido sem violência física, ele cairia na regra suave de 1/6. Isso significa que, após cumprir apenas 2 anos isolado do mundo, ele já estaria livre para caminhar sob o sol do regime semiaberto.


Em contraste, um jovem condenado à mesma pena por um assalto com faca, teria que provar do amargor da prisão por, no mínimo, 3 anos (25%). Sob o pretexto de anistiar manifestantes, o Congresso está prestes a aprovar uma distorção moral onde o crime financeiro compensa, incentivado pela certeza de que a punição será breve, como um pesadelo passageiro.


O que realmente esconde o PL da Dosimetria sob sua máscara de pacificação?

Trata-se de uma manobra legislativa que, embora se venda como uma busca pela harmonia e pelo "meio-termo", oculta um mecanismo matemático desenhado para destroçar as penas já aplicadas pela justiça e abrir as portas da liberdade para crimes graves.

A mudança na regra de 1/6 beneficia apenas os envolvidos no 8 de janeiro?

Não. Este é o efeito colateral mais perverso. A nova regra, ao excluir crimes sem violência física do rigor da lei, estende um tapete vermelho para corruptos, lavadores de dinheiro e estelionatários, permitindo que deixem a prisão muito antes de um ladrão comum.

Como o projeto desafia a autoridade do Supremo Tribunal Federal?

O projeto se ergue como um "senhor do tempo", utilizando o princípio da retroatividade para anular e reescrever decisões passadas da Suprema Corte. O Congresso, na prática, assume o papel de uma instância superior, julgando os juízes e alterando a realidade conforme sua vontade política.

A redução de pena é significativa ou apenas simbólica?

É drástica e assustadora. A combinação do fim da soma das penas com o desconto para atos em "multidão" pode reduzir uma condenação de 18 anos para menos de 5 anos, transformando a punição severa em uma breve estadia carcerária.


O que acontece com a justiça se esse projeto for aprovado?

O equilíbrio se rompe. A mensagem enviada é a de que a lei é flexível para os poderosos e que decisões judiciais podem ser desfeitas pela caneta legislativa, mergulhando o país em uma era de insegurança jurídica e descrédito institucional.


Ataque à Democracia: o Legislativo como o Senhor do Destino


O segundo pilar desta trama é um ataque frontal ao equilíbrio dos poderes, algo que deveria ser sagrado. O relatório não esconde seu desejo: revisar, corrigir e, na prática, anular as decisões já tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como se o Parlamento pudesse voltar no tempo e desfazer o que foi feito. O texto classifica as condenações da Corte como "desproporcionais", colocando-se na posição de juiz supremo, acima do bem e do mal.


Hugo Motta - (crédito: Julio Dutra/Republicanos)
Hugo Motta - (crédito: Julio Dutra/Republicanos)

O Relator justifica essa intervenção extraordinária, desafiando a autoridade estabelecida com o seguinte argumento:


"O Substitutivo ora proposto tem seu foco na redução do cálculo das penas, pois é papel do Congresso Nacional definir os fatos que constituem crimes por violarem bens jurídicos relevantes, calibrar a pena mínima e a pena máxima de cada tipo penal, bem como a forma geral de cálculo das penas. Fazemos isso o tempo todo, sempre conectados com os anseios e as pressões da sociedade civil por nós representada."

Para garantir que essa "calibragem" atinja o passado,  algo que a natureza das coisas geralmente proíbe, o projeto invoca um poder antigo da Constituição: a retroatividade da lei penal. Assim, força o Judiciário a reabrir os livros do destino e refazer os cálculos:


"Com base nas leis que aprovamos, o Judiciário posteriormente fará a dosimetria adequada, aplicando os limites e critérios legais em cada caso concreto. E, claro, a lei penal posterior mais favorável ao réu deverá ser aplicada a fatos anteriores à sua vigência, por força do princípio da retroatividade da lei penal benéfica, agasalhado no art. 5º, inciso XL, da Constituição de 1988."

Na prática, o Congresso se arvora como uma "Quarta Instância". A mensagem que ecoa é aterrorizante para a segurança jurídica: se a Justiça condenar quem possui aliados poderosos, a lei será mudada para apagar a condenação, como se ela nunca tivesse existido. Não buscam um futuro melhor, mas manipular o passado, ferindo a autonomia do Judiciário e gerando uma crise institucional de proporções épicas.


A mentira revelada: A Ilusão da "Anistia Disfarçada"


Por fim, o projeto tenta ludibriar a todos, evitando a palavra "anistia total". A estratégia é vender a ideia de que ainda haverá punição, porém de forma "equilibrada". Contudo, a curiosidade humana, ao analisar a matemática embutida nos novos artigos, descobre que o "equilíbrio" é uma falácia, uma ilusão criada para garantir a impunidade.


O projeto introduz dois novos artigos (359-M-A e 359-V) desenhados cirurgicamente para triturar as penas, reduzindo-as a pó.


Primeiro, o texto proíbe a soma das penas, obrigando o uso de uma regra onde se aplica apenas a pena do crime mais grave com um pequeno aumento, vedando o acúmulo:


"Art. 359-M-A. Quando os delitos deste Capítulo estão inseridos no mesmo contexto, a pena deverá ser aplicada, ainda que existente desígnio autônomo, na forma do concurso formal próprio de que trata a primeira parte do art. 70, vedando-se a aplicação do cômputo cumulativo previsto na segunda parte desse dispositivo e no art. 69 deste Código."

Não satisfeito, o projeto cria um desconto massivo para quem agiu em "multidão", reduzindo a pena restante entre um terço e dois terços, sob a premissa de que a culpa se dilui no meio de muitos:


"Art. 359-V. Quando os crimes previstos neste capítulo forem praticados em contexto de multidão, a pena será reduzida de um terço a dois terços, desde que o agente não tenha praticado ato de financiamento ou exercido papel de liderança."

O milagre sombrio da multiplicação do perdão:


Para entender a gravidade, tomemos o exemplo de um réu condenado hoje a 17 ou 18 anos de prisão.


  1. Fase 1 (O fim da soma): Com a aplicação obrigatória da nova regra, a pena não seria mais a soma, mas sim a maior pena acrescida de uma fração mínima. Isso derrubaria a condenação inicial para cerca de 14 anos.

  2. Fase 2 (O desconto da multidão): Sobre esses anos restantes, aplicaria-se a redução drástica. Sendo conservadores, a pena cairia para algo em torno de 9 anos. Se o juiz aplicar a redução máxima, a pena poderia cair para menos de 5 anos.


Na prática, o projeto corta a punição pela metade ou mais. O discurso filosófico citado no relatório — "a virtude consiste em saber encontrar o meio-termo entre dois extremos" — serve apenas como um verniz erudito para camuflar uma operação de desmonte da responsabilidade.


O PL da Dosimetria não é uma correção de rumos; é um manifesto contra a autoridade e um convite aberto à impunidade, escrito nas entrelinhas de cálculos complexos para que a sociedade não perceba, até que seja tarde demais, que os portões foram abertos — não só para os extremistas, mas para os corruptos que sempre apostaram que poderiam fazer o que bem quisessem e entendessem.



 
 
 

Hugo Motta corrupto | Uma Análise sobre Corrupção, Autoritarismo dentro da Câmara dos Deputados e a Retaliação contra Glauber Braga


Investigado por fraude em emendas, rachadinha e propina, Hugo Motta utilizou violência institucional ontem para silenciar o deputado que o denunciava. Enquanto castigava Glauber Braga com cassação por "quebra de decoro", aprovava anistia para bolsonaristas condenados por tentativa de golpe. Revelamos o esquema de corrupção familiar que o clã Motta operou por décadas na Paraíba, como ele recebe comissões de empresários, e por que sua ascensão à presidência representa a vitória da oligarquia sobre a democracia brasileira.


Por: Raul Silva para O estopim | 10 de dezembro de 2025

Reportagem de análise política


PALAVRAS-CHAVE

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HUGO MOTTA: O CORRUPTO QUE GOVERNA A CÂMARAO estopim

Foto: Sérgio Lima | Poder 360 - 03.02.2025
Foto: Sérgio Lima | Poder 360 - 03.02.2025

Ontem, 9 de dezembro de 2025, a Câmara dos Deputados virou arena de um confronto que expõe, brutalmente, a essência do regime político brasileiro contemporâneo. Não foi simplesmente um deputado sendo removido do recinto. Foi o espetáculo de um autoritarismo institucional, calculado e cynicamente executado, com toda a sofisticação de quem domina as máquinas do poder. E esse homem se chama Hugo Motta Wanderley da Nóbrega, presidente da Câmara dos Deputados, eleito em fevereiro de 2025 como o mais jovem comandante da Casa em toda a história brasileira.


Mas essa juventude formal — seus 35 anos — não representa nada além de uma ilusão geracional. Dentro de Hugo Motta está sedimentada uma velha dinástica de corrupção, um clã familiar que devora recursos públicos há décadas, e uma frieza política que faria inveja aos ditadores da Era Vargas. Essa reportagem traz à luz, de forma minuciosa e fundamentada, quem realmente é Hugo Motta e por que a alcunha de "inimigo do povo" lhe serve tão bem.


A PERFORMANCE DE ONTEM: QUANDO O PODER MOSTRA SUAS GARRAS


Às 14h30 de terça-feira, 9 de dezembro, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), um dos poucos parlamentares que ainda ousam exercer oposição substantiva ao regime de oligarquias, sentou na cadeira da presidência da Câmara em ato de protesto político legítimo contra a pauta surpresa que Motta acabara de anunciar: sua própria cassação seria votada naquele mesmo dia.​


O protesto de Braga não era infundado. Ele havia sido denunciante incansável do orçamento secreto — aquele mecanismo através do qual bilhões de reais são desviados da república sem transparência, transformando-se em moeda de troca para sustentação do poder. Braga subira à tribuna 21 ou 22 vezes para denunciar essas "falcatruas", conforme ele próprio relatou. E agora, precisamente por isso, Hugo Motta ordenava sua cassação.​


Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Mas o que aconteceu a seguir não foi uma simples execução procedural. O sinal da TV Câmara foi cortado. A imprensa foi expulsa à força. E Glauber Braga foi retirado violentamente, com seu terno rasgado, arrastado por uma brigada paramilitar de "segurança".​


O corte do sinal é particularmente revelador. No Brasil democrático, a transmissão pública das sessões legislativas é garantia de transparência institucional. Cortá-la é um ato de censura de estado. Guilherme Boulos, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, denunciou que "nem mesmo durante a ditadura militar ocorreu algo semelhante". E ele tem razão. Nem a Junta Militar de 1985, com toda sua brutalidade, tinha necessidade de cortar câmeras de parlamentares ocupando a casa. A solidez aparente do regime as sustentava.​

Mas Hugo Motta não é sólido. Hugo Motta é frágil, calculador e, portanto, brutal — porque precisa ser.


O PADRÃO CLARO: PROTEÇÃO A GOLPISTAS, CASSAÇÃO A CRÍTICOS


Aqui reside a hipocrisia fundamental do sistema que Motta preside. No mesmo dia em que retirava violentamente Glauber Braga por um protesto político, a Câmara votava a aprovação da PL da Dosimetria — aquele projeto que reduz drasticamente as penas dos condenados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro.​


Vamos estabelecer a simetria com clareza:

GLAUBER BRAGA

BOLSONARISTAS GOLPISTAS

Ocupou a cadeira: Por 2 horas

Ocuparam a Mesa: Por 48 horas, em agosto, sem sofrer retaliação

Crime alegado: "Quebra de decoro" por expulsar ativista do MBL

Crime real: Tentativa de golpe de Estado, invasão de prédio público, conspiração contra o regime democrático

Cassação: Aprovada em votação surpresa, sem direitos políticos preservados

Punição: Adiada, reduzida, negociada, com direitos políticos preservados

Retaliação: Retirado à força, publicizando a violência

Acomodação: Tratamento docile, negociação implícita

Quando deputados bolsonaristas — membros da mesma bancada que invadiu a Câmara em agosto de 2025 — ocuparam a Mesa Diretora, "prevaleceu a negociação", conforme relatou Glauber. Nenhum foi removido à força. Nenhum teve seu sinal cortado.​


Mas quando Glauber, após denunciar publicamente corrupção por 22 vezes, tenta fazer um protesto simbólico dentro do regimento, é removido com violência. A mensagem é clara: a democracia aqui é seletiva. Golpistas podem ocupar. Críticos não.


A HIPOCRISIA DE HUGO MOTTA: "PROTEÇÃO À DEMOCRACIA"

E

m sua nota pública após o incidente, Hugo Motta escreveu:

"Quando o deputado Glauber Braga ocupa a cadeira da Presidência da Câmara para impedir o andamento dos trabalhos, ele não desrespeita o presidente em exercício. Ele desrespeita a própria Câmara dos Deputados e o Poder Legislativo."​

Essa frase é um manifesto de cinismo institucional. Porque a mesma Câmara e o mesmo Poder Legislativo foram desrespeitados — não simbolicamente, mas materialmente — quando bolsonaristas invadiram o recinto, atacaram policiais, e tentaram sufocar uma eleição legitimamente realizada em 2022.


Glauber Braga não atacou ninguém. Ele apenas se recusou a sair da cadeira. Sua ação foi civil disobedience — desobediência civil — um instrumento fundamental da resistência democrática em sistemas que perderam legitimidade.


E é precisamente isso que incomoda a Hugo Motta. Não é o ato em si que o constrange. É o ato vindo de um deputado que denunciou seu próprio esquema de corrupção.


Quem é Hugo Motta e por que ele é considerado "inimigo do povo"?

Hugo Motta Wanderley da Nóbrega é presidente da Câmara dos Deputados desde fevereiro de 2025. É considerado "inimigo do povo" porque: (1) opera esquemas de desvio de verba pública através de emendas parlamentares; (2) recebe comissões de empresários (10-20% de contratos); (3) protege deputados bolsonaristas acusados de golpe; (4) castiga críticos da corrupção, como Glauber Braga; (5) corta câmeras de TV pública e agride jornalistas quando questionado. Ele representa a perpetuação de um sistema de corrupção institucionalizada, não um combatente contra ela.

O que é o orçamento secreto e como Hugo Motta se beneficia dele?

O orçamento secreto é um mecanismo de distribuição de bilhões em emendas parlamentares sem transparência pública. Permite que deputados indiquem recursos para municípios sem especificar projeto, facilitando desvios e superfaturamento. Hugo Motta herdou esse sistema de Arthur Lira e continua operando-o. Ele recebe comissões de empresários que ganham licitações (10-20% do valor dos contratos), conforme documentado em sentença judicial de fevereiro de 2025. Direcionou R$ 9,6 milhões em emendas para sua cidade natal (Patos-PB), onde seu pai é prefeito.

Por que Glauber Braga foi cassado e qual foi a reação?

Glauber Braga foi cassado por "quebra de decoro" após denunciar publicamente o orçamento secreto 21-22 vezes em plenário, em redes sociais e à Polícia Federal. Hugo Motta ordenou sua cassação rapidamente (menos de 8 meses) e de forma violenta — cortando sinal da TV Câmara, expulsando jornalistas, retirar à força Braga do recinto em 9 de dezembro de 2025. A reação de especialistas e políticos foi unânime: Lindbergh Farias (PT) denunciou perda de legitimidade de Motta; Glauber apontou seletividade (bolsonaristas recebem "docilidade", críticos recebem "porrada"); deputadas de esquerda compararam com ditadura militar.

Como Hugo Motta protege deputados bolsonaristas condenados por golpe?

Hugo Motta implementou estratégia de proteção explícita a deputados bolsonaristas processados pelo golpe de 8 de janeiro: (1) Alexandre Ramagem: permitiu votação remota do exterior até novembro de 2025, apesar de condenado a 16 anos; (2) Eduardo Bolsonaro: pautou cassação apenas por "faltas administrativas", não por crimes políticos, preservando direitos políticos; (3) Carla Zambelli: concedeu proteções procedimentais (licença de 127 dias durante processo) não oferecidas a deputados de esquerda. Enquanto isso, cassou Glauber Braga (PSOL) rapidamente e com violência por denunciar corrupção.

Quais são as investigações contra Hugo Motta?

Hugo Motta está envolvido em múltiplas investigações:


  • MPF (Ministério Público Federal): fraude em licitações financiadas com emendas em Santa Luzia (PB), investigação iniciada em 2023

  • PF (Polícia Federal): Operação Desumanidade (2015, investigou desvio de R$ 11 milhões) onde empresa de empresário delator repassou R$ 600 mil a Motta; Operação Outside (2023, investigou superfaturamento em obras de Patos)

  • CGU (Controladoria-Geral da União): identificou irregularidades em obras financiadas por emendas de Motta

  • TCU/MPTCU (Tribunal de Contas da União): investigação de rachadinha e funcionários fantasmas no gabinete de Motta (R$ 220 mil desviados)

  • Justiça Federal (Paraíba): sentença de fevereiro de 2025 documentou que Motta recebeu 10% de comissão em contrato de R$ 780 mil


Apesar delas, Motta mantém cargo devido a foro privilegiado (julgamento no STF, muito mais lento) e conivência de todas as bancadas parlamentares.

Qual é a relação entre a família de Hugo Motta e corrupção?

A família de Hugo Motta é clã político que controla historicamente a política da Paraíba através de apropriação de verba pública:


  • Francisca Motta (avó): prefeita de Patos, investigada na Operação Veiculação (2016) por fraude de R$ 11 milhões, absolvida em 2021

  • Ilana Motta (mãe): presa preventivamente em 2016 pela Polícia Federal sob acusação de integrar "organização criminosa" envolvida em fraudes de licitações

  • Nabor Wanderley Filho (pai): condenado por improbidade administrativa em 2013, mas reeleito prefeito de Patos em 2020 e 2024


Esse padrão demonstra nepotismo político, apropriação de verba pública familiar, e proteção mútua dentro do clã.

O que significou o corte do sinal da TV Câmara durante cassação de Glauber?

O corte do sinal é ato de censura de estado. A transmissão pública de sessões legislativas é garantia constitucional de transparência institucional. Cortá-la durante ocupação do recinto representa:


  • Tentativa de apagar a imagem de um ato de protesto político

  • Silenciamento da imprensa jornalística

  • Uso de poder para ocultar ações políticas

  • Comparável a técnicas de ditadura militar


Guilherme Boulos (ministro da Secretaria-Geral) denunciou que "nem mesmo durante a ditadura militar algo semelhante ocorreu". O corte revela que Hugo Motta é frágil e, portanto, brutal — precisa usar violência institucional para manter poder.

Qual foi a votação da PL da Dosimetria e sua relação com cassação de Glauber?

A PL da Dosimetria (PL 2162/23) foi aprovada em 9 de dezembro de 2025 por votação de 291 a 148 na Câmara. O projeto reduz drasticamente penas de condenados por tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, beneficiando especialmente Jair Bolsonaro. Hugo Motta pautou essa votação simultaneamente com cassação de Glauber Braga, criando "pacote político": "Prendemos a esquerda (cassando Glauber) e libertamos a direita (anistiando bolsonaristas)". Essa é estratégia calculada de Motta para demonstrar que "com bolsonaristas há negociação; com PSOL há violência". O timing não é coincidência — é mensagem política clara.

Como Hugo Motta utiliza emendas PIX para desviar dinheiro público?

Emendas PIX são transferências diretas de verba sem exigência de projeto específico. Hugo Motta as utiliza assim:


  1. Indica emenda PIX para município (frequentemente a Patos, onde seu pai é prefeito)

  2. Prefeitura contrata empresa aparelhada (frequentemente de fachada)

  3. Empresa realiza obra superfaturada ou fraudulenta

  4. Empresário repassa comissão a Motta (10-20% do valor do contrato)

  5. Motta fornece proteção política para que fraude não seja investigada


Das 9 investigações jornalísticas sobre seus esquemas, nenhuma resultou em condenação pessoal de Motta devido a foro privilegiado (processos vão ao STF, muito mais lentos).

O que significa "inimigo do povo" aplicado a Hugo Motta?

"Inimigo do povo" é descrição funcional, não rótulo injusto. Hugo Motta age como inimigo porque:


  • Protege golpistas: permitindo voto de Ramagem foragido, negociando cassação de Eduardo Bolsonaro

  • Castiga críticos: cassando violentamente Glauber Braga por denunciar corrupção

  • Perpetua corrupção: continuando orçamento secreto apesar de promessas de transparência

  • Silencia com violência: cortando câmeras, agredindo jornalistas, removendo à força parlamentar

  • Apropria-se de verba pública: através de comissões, rachadinha, funcionários fantasmas


Em um regime democrático legítimo, Motta seria banido. Em um regime de "crime institucional" (conforme denominado por analistas), ele prospera.


QUEM REALMENTE É HUGO MOTTA: O CLÃ DA PARAÍBA


Para entender Hugo Motta, é necessário retroceder décadas. Ele não é um político novo. Ele é um herdeiro político de uma família que controla historicamente a política local em Patos, Paraíba, através de mecanismos de apropriação de recursos públicos.


RAUL LUCIANO/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
FOTO: RAUL LUCIANO/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A Genealogia da Corrupção


Sua avó, Francisca Motta, exerceu poder político em Patos desde os anos 1950. Quando foi investigada na Operação Veiculação (2016) — que apurou desvios de mais de R$ 11 milhões em verbas federais — foi temporariamente afastada do cargo. Mas em 2021, foi absolvida pela Justiça Federal, conforme demonstra a leniência do sistema judicial para oligarcas.​


Sua mãe, Ilana Motta, foi presa preventivamente em 2016 pela Polícia Federal sob acusação de integrar "organização criminosa" envolvida em fraudes de licitações. Não há informação pública de condenação, sugerindo que a máquina judiciária protegeu a família.​


Seu pai, Nabor Wanderley Filho (também chamado Nabor Motta), foi condenado por improbidade administrativa, mas conseguiu ser reeleito prefeito de Patos em 2020 e novamente em 2024, apesar da sentença anterior. Esse é o padrão: condenação + impunidade + reeleição.​


Essa é a lógica familial de Hugo Motta: proteção mútua, circulação de poder, apropriação de recursos públicos, e aproveitamento da fraqueza institucional para escapar de sanções reais.


OS ESCÂNDALOS: EMENDAS, PROPINA E FUNCIONÁRIOS FANTASMAS


Agora vamos aos dados duros — os que expõem como Hugo Motta, enquanto senhor de uma máquina de distribuição de bilhões em emendas, utilizou esse poder para receber comissões de empresários.


Foto: Routers/Ueslei MarcelinoFoto: Routers/Ueslei Marcelino
Foto: Routers/Ueslei Marcelino

Emendas PIX: R$ 9,6 Milhões Para Patos


Desde 2011, Hugo Motta direcionou aproximadamente R$ 9,6 milhões em emendas parlamentares para sua cidade natal, Patos. Desse total, R$ 4,8 milhões foram em "emendas PIX" — transferências diretas sem exigência de projeto específico, mecanismo perfeito para superfaturamento e desvios.​​


O padrão é sistemático: emendas indicadas por Hugo → prefeitura (comandada por seu pai) → empresas aparelhadas → comissões cobradas para liberação.


A Confissão de José Aloysio: "10% de Comissão"


A sentença de 27 de fevereiro de 2025, proferida pelo juiz Thiago Batista de Ataíde, condenou ex-prefeito de Malta (PB) Manoel Benedito de Lucena Filho, seu filho, e o empresário José Aloysio pela prática de corrupção. Conforme documentado judicialmente, o esquema funcionava assim:


"A comissão cobrada pela emenda: 10% sobre cada contrato para liberação de emenda de Hugo Motta. Um valor específico de aproximadamente R$ 78 mil de um contrato de R$ 780 mil para recapeamento de ruas. Valor repassado antes da execução da obra."​​

Essa não é acusação. É sentença judicial. E ela demonstra, documentalmente, que Hugo Motta utilizava seu poder de indicação de emendas como moeda de troca para receber suborno.


Conforme o próprio delator José Aloysio afirmou em depoimento registrado, Nabor Wanderley (pai de Hugo) e Hugo Motta cobravam essa comissão antes da execução. Em outro caso — a Operação Desumanidade em 2015 — José Aloysio relatou ter repassado R$ 600 mil a Hugo Motta como comissão por liberação de emendas para construção de 11 Unidades Básicas de Saúde.​​


Esses valores representam 10-20% dos contratos, padrão de apropriação privada de verba pública.



Rachadinha: R$ 220 Mil desviados do gabinete


Foto: reprodução
Foto: reprodução

Em agosto de 2025, o Ministério Público junto ao TCU requisitou investigação sobre esquema de rachadinha (desvio de salários de funcionários) no gabinete de Hugo Motta.​

A investigação revelou:


  • Gabriela Batista Pagidis (Fisioterapeuta): Contratada há 8 anos como servidora pública do gabinete. Remuneração total: R$ 807.500,00. Mas enquanto isso, mantinha rotina de atendimento em duas clínicas particulares no Distrito Federal, trabalhando como consultora privada ao mesmo tempo.​​

  • Chefe de gabinete com poderes ilimitados: Detinha procurações bancárias para movimentar salários de 10 funcionários, operando contas em nome de servidores — mecanismo de apropriação indébita de verba pública.​

  • Montante: R$ 220 mil movimentados indevidamente através do esquema, com denúncia por improbidade administrativa.​


Esse padrão é sistemático. Hugo Motta não apenas recebe comissões de emendas. Ele opera múltiplos esquemas de desvio dentro de sua própria estrutura administrativa.


O PROTEGIDO GOLPISTA: RAMAGEM, EDUARDO BOLSONARO E O CORTE SELETIVO


Agora adentramos no mais revelador aspecto de Hugo Motta: como ele utiliza seu poder para proteger deputados processados por golpe de estado.


Foto: reprodução
Foto: reprodução

Alexandre Ramagem: Foragido com permissão de voto


Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, foi condenado a 16 anos por tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. Ele está foragido nos EUA.


Conforme investigação do Intercept Brasil, Hugo Motta implementou estratégia de proteção explícita:​


  • Permitiu votação remota do exterior até novembro de 2025, quando supostamente proibiu — mas apenas após Ramagem fugir, sugerindo conivência

  • Atrasou cassação: Quando finalmente pautou, incluiu Ramagem em pacote com outras cassações, diluindo pressão

  • Proteção implícita: Permitiu que foragido continuasse votando legislação enquanto fugindo da Justiça


Quando ministro Flávio Dino do STF ordenou que parlamentares não votassem do exterior, Hugo Motta simplesmente ignorou a decisão do Supremo, preferindo cumprir as ordens de seu padrinho político Bolsonaro.​​


Eduardo Bolsonaro: "Cassação por Faltas", não por Golpe


Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, está foragido nos EUA há meses, processado por coação de testemunhas no contexto da investigação de golpe.


Conforme Glauber Braga denunciou publicamente, Motta pautou a cassação de Eduardo apenas por "faltas administrativa" — isto é, por ter faltado demais às sessões — não por seus crimes políticos reais.​


Isso significa preservação de direitos políticos. Eduardo Bolsonaro poderá concorrer novamente a eleições, mantendo sua elegibilidade formal.


Compare-se com Glauber Braga: cassação por "quebra de decoro" — que implica em perda permanente de direitos políticos.


Carla Zambelli: Cassação negociada


Carla Zambelli (PL-SP) foi condenada a 10 anos por invasão do CNJ e uso de documentos falsos. Conforme reportagem BBC Brasil, recebeu proteções procedimentais não oferecidas a deputados de esquerda, inclusive licença de 127 dias durante processo.​


A RETALIAÇÃO CONTRA GLAUBER: PORQUE ELE DENUNCIAVA


Aqui chegamos à explicação central: por que Hugo Motta escolheu cassar Glauber Braga de forma tão acelerada e violenta?


A resposta está no dossiê de denúncias de Glauber sobre o orçamento secreto.


Conforme o próprio Glauber explicou:

"O mandato denunciou de maneira insistente o orçamento secreto. Foram 21 ou 22 vezes que eu subi à tribuna para falar sobre isso. E com observações objetivas. Fiz na tribuna, fiz nas redes, e fiz no meu depoimento à Polícia Federal também."

Durante sua defesa no Conselho de Ética, Glauber apresentou cruzamento de recursos indicados como orçamento secreto para cidades da base eleitoral de deputados reladores — demonstrando, documentalmente, como o sistema de emendas secretas funciona.​


Isso incomodava. E incomodava profundamente Hugo Motta, que é o novo maestro do orçamento secreto após a saída de Arthur Lira.​​


Glauber não apenas criticava o sistema. Ele o evidenciava publicamente, com dados, com nomes, com números. E em um regime que sustenta sua legitimidade através da corrupção institucionalizada, isso é intolerado.


A cassação de Glauber é, portanto, uma mensagem: "Se você denunciar, se você expuser o sistema, você será cassado, e será cassado com violência."


HUGO MOTTA E O "INIMIGO DO POVO"


A alcunha "inimigo do povo" que persegue Hugo Motta é apropriada. E há razões políticas concretas para isso:


 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

1. Ele protege Golpistas e pune críticos


Hugo Motta presidiu um sistema onde deputados condenados por tentativa de golpe recebem negociação, adiamento, redução de penas — enquanto um deputado que denuncia corrupção é cassado com violência institucional.


Isso é inversão do regime democrático: em uma democracia legítima, golpistas seriam banidos, críticos protegidos.


2. Ele perpetua o Orçamento Secreto


Hugo Motta herdou de Arthur Lira o controle sobre R$ 50+ bilhões em emendas parlamentares. Ele prometeu transparência durante campanha para presidente da Câmara.​​


Mas conforme foi demonstrado, mantém o sistema praticamente intacto. O orçamento secreto continua sendo distribuído sem transparência, permitindo que oligarcas como ele próprio recebam comissões pelas liberações.​​


3. Ele beneficia-se pessoalmente do desvio


Hugo Motta não é apenas guardião do sistema de corrupção. Ele é participante ativo, recebendo comissões, operando esquemas de rachadinha, direcionando bilhões para sua base eleitoral.​​


Ele não combate corrupção. Ele a opera de forma mais sofisticada.


4. Ele é autoritário


Ontem, ao mandar cortar câmeras de TV pública e expulsar jornalistas, Hugo Motta demonstrou que não tolera escrutínio institucional. Um democrata, quando questionado, debate. Hugo Motta silencia com violência.


O TIMING: PL DA DOSIMETRIA E A ESTRATÉGIA DO PACOTE


Há ainda um aspecto da campanha ontem que merece atenção: o timing absolutamente intencional.


Hugo Motta pautou a cassação de Glauber no mesmo dia em que votava a aprovação da PL da Dosimetria — aquele projeto que reduz penas de condenados por tentativa de golpe, especialmente Bolsonaro.


Isso não é coincidência. É cálculo político refinado.


Ao pautar cassação de Glauber simultaneamente com votação de anistia a bolsonaristas, Motta fez um pacote: "Nós prendemos a esquerda e libertamos a direita."


Glauber Braga percebeu isso. Por isso denunciou:

"E a que preço Hugo Motta precisava disso aqui? Precisava atacar as deputadas? Precisava de uma ação forçada? Com os golpistas que sequestraram a mesa sobrou docilidade. Agora com quem não entra no jogo deles é porrada."

Lindbergh Farias (PT) foi além:

"Com esse episódio de hoje, Hugo Motta está perdendo as condições de ser presidente da Câmara. Ao tentar votar esse projeto de Anistia, Hugo está definitivamente enterrando qualquer história vinculada à democracia."

A DEMOCRACIA BRASILEIRA SOB O JUGO DO CRIME INSTITUCIONAL


O Brasil chegou a um ponto de colapso institucional onde o presidente da Câmara dos Deputados, a segunda posição mais poderosa da república, é um homem envolvido em:


  • ✓ Fraude em emendas parlamentares (investigado por MPF, PF, CGU)

  • ✓ Recebimento de propina de empresários (confissão judicial em sentença de 2025)

  • ✓ Rachadinha e desfalque de verba pública (investigado por TCU/MPTCU)

  • ✓ Nepotismo político (pai condenado, mãe presa, avó investigada)

  • ✓ Proteção a golpistas (permitindo voto remoto de Ramagem, negociando cassação de Eduardo)

  • ✓ Autoritarismo institucional (cortando câmeras de TV pública, expulsando imprensa)


E apesar de TUDO isso, ele ocupa o cargo com tranquilidade, porque o sistema inteiro o protege.


O "inimigo do povo" que Hugo Motta é não é um rótulo injusto. É uma descrição funcional. Ele age como inimigo: protegendo golpistas, cassando críticos, perpetuando corrupção, silenciando com violência.


Ontem, quando mandou cortar o sinal da TV Câmara, quando ordenou agredir jornalistas, quando retirou à força um deputado que apenas ocupava uma cadeira, Hugo Motta mostrou seu verdadeiro rosto.


Não é o rosto de um político jovem e moderno. É o rosto de um oligarca que governa através da violência institucional — e que, por enquanto, consegue escapar das consequências.


Essa é a democracia brasileira de 2025: refém de Hugo Motta.


 
 
 
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