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Atualizado: 4 de jan.

Por: Raul Silva, Radar Literário.


Publicado pela primeira vez em 1605, o clássico “Dom Quixote de la Mancha”, de Miguel de Cervantes, celebra 420 anos de influência em 2025. Considerado por muitos como o maior romance já escrito, a obra transcendeu o tempo e as fronteiras geográficas, impactando culturas ao redor do mundo, incluindo a cidade do Recife, onde os temas de utopias, heroísmo e a complexidade humana encontraram ressonância em debates literários, artísticos e sociais.


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No Recife, a celebração do legado de Dom Quixote reflete a rica tradição literária da cidade, que por séculos manteve uma forte ligação com o pensamento humanista europeu. As ideias quixotescas, marcadas pelo idealismo e pela crítica à realidade, influenciaram os círculos intelectuais pernambucanos. Escritores e pensadores locais dialogaram com o simbolismo do cavaleiro da triste figura, trazendo sua busca por justiça e a luta contra os moinhos de vento para a realidade brasileira, marcada por desigualdades e desafios históricos.


A formação do leitor recifense sempre esteve conectada aos clássicos da literatura mundial, incluindo Cervantes. Durante o século XIX, livrarias locais já difundiam traduções de “Dom Quixote”, e os temas da obra ecoaram em movimentos literários como o romantismo pernambucano, que explorava o heroísmo e a loucura em suas narrativas. No século XX, a presença de Cervantes no Recife ampliou-se com apresentações teatrais no icônico Teatro de Santa Isabel, além de debates acadêmicos na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mais recentemente, a obra tem sido revisitada em eventos promovidos por grupos literários, leituras comentadas e oficinas que buscam atrair novas gerações para o universo cervantino.


A conexão entre Dom Quixote e o Recife também é evidente na forma como a obra de Cervantes dialoga com as lutas sociais da cidade. Em um contexto onde tradição e modernidade se encontram, os dilemas quixotescos, que questionam normas sociais e desafiam a lógica prática, refletem as batalhas diárias dos recifenses por justiça, igualdade e inovação cultural.


Com a celebração de seus 420 anos, Dom Quixote convida os recifenses a refletirem sobre a atualidade de seus temas. Em tempos de crises sociais, climáticas e políticas, a figura de Dom Quixote nos lembra que, mesmo em meio às adversidades, o ato de sonhar e lutar por um ideal continua sendo essencial. Assim, o Recife se junta ao mundo para homenagear o cavaleiro da triste figura, cujo espírito revolucionário permanece vivo, inspirando gerações a desafiar a realidade e buscar o impossível.


 
 
 
  • Foto do escritor: Raul Silva
    Raul Silva
  • 17 de ago. de 2024
  • 3 min de leitura

Por: Raul Silva

- Professor de Língua Portuguesa, Colunista do Teoria Literária, Especialista em Literatura, Estudante de Jornalismo e Apresentador do podcast Teoria Literária.


Ariano Suassuna, um dos maiores expoentes da literatura e cultura brasileira, sempre foi um incansável defensor do legado cultural pernambucano.


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Ele não apenas deixou sua marca em obras memoráveis, mas também foi celebrado oficialmente no dia 17 de agosto de 2014, quando a Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE) o declarou Patrono da Cultura Pernambucana. Esta homenagem é uma prova da imensa contribuição de Suassuna para a preservação e promoção da identidade cultural do estado.


Nascido em 16 de junho de 1927, na cidade de João Pessoa, Paraíba, Suassuna escolheu Pernambuco como sua casa e ponto de criação artística. Sua obra literária e trajetória pessoal sempre buscaram destacar as tradições do Nordeste, com ênfase no folclore, nas histórias populares e na cultura oral. Sua peça mais celebrada, O Auto da Compadecida, não apenas revolucionou o teatro brasileiro, mas, como ele mesmo afirmou, é uma “defesa do homem nordestino, suas lutas e sua fé”. Através dessa obra, Suassuna mergulha nas raízes culturais da região, dando visibilidade ao sertanejo e ao seu imaginário.


O reconhecimento da ALEPE veio em um momento simbólico, pois a data de 17 de agosto tornou-se um marco não só para Pernambuco, mas para todos os que valorizam a cultura nordestina. Como ressaltou o estudioso Durval Muniz de Albuquerque Júnior:


“Suassuna sempre conseguiu transitar entre a erudição e o popular com maestria, sem nunca perder de vista a necessidade de tornar a cultura acessível ao povo”.

Além de ser um renomado escritor, Suassuna foi um grande ativista pela educação e pela valorização da cultura popular. Ele lutou para que as tradições regionais fossem ensinadas nas escolas e defendia que “o povo deve conhecer sua própria história e valorizar suas origens”. Seus textos misturam o teatro de cordel, a literatura popular e elementos clássicos, criando um estilo único. Como bem observou o crítico literário Antônio Cândido:

“Suassuna é o grande tradutor da alma nordestina, unindo o trágico ao cômico, o popular ao erudito, de maneira magistral.”

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A declaração de Suassuna como Patrono da Cultura Pernambucana vai além de uma homenagem. Ela serve como um lembrete constante da importância de preservar nossas raízes culturais em um mundo cada vez mais globalizado, onde, como ele mesmo afirmou, “as tradições correm o risco de desaparecer se não forem defendidas”. Para Suassuna, a cultura era o que definia uma sociedade, e foi através dela que ele ajudou a recriar histórias e valores que conectam gerações.


Em sua obra, ele imortalizou a essência do povo nordestino, como se observa na peça O Santo e a Porca, onde o humor e a sabedoria popular se misturam à crítica social. Ariano Suassuna acreditava que “a cultura popular é a chave para entendermos quem somos”, e essa crença está enraizada em tudo o que produziu.


Neste 17 de agosto, ao celebrarmos Ariano Suassuna, celebramos também a literatura, a música, a dança e, acima de tudo, a oralidade tão querida por ele. Como bem disse sua filha, Mariana Suassuna:

“meu pai via na cultura do povo uma força transformadora, capaz de unir gerações e de perpetuar o que há de mais belo em nossa história”. 

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Pernambuco, com sua vasta tradição cultural, reflete em cada canto a influência de Suassuna. Ao ser declarado Patrono da Cultura Pernambucana, a ALEPE reafirma o compromisso de preservar esse patrimônio, reconhecendo que a cultura é um bem coletivo. Suassuna deixou um legado que ultrapassa a literatura, alcançando artistas, escritores e intelectuais que seguem inspirados por sua visão.


Que o dia 17 de agosto seja, para sempre, um símbolo da resistência cultural nordestina, onde, como ele próprio dizia, “as vozes do povo sejam sempre ouvidas e celebradas”.


Celebrar Ariano Suassuna é celebrar a identidade cultural do Brasil, a força das narrativas populares e a beleza eterna das tradições nordestinas, que, como em suas palavras, “são a alma vibrante e eterna de nossa nação”.

 
 
 
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