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    Raul Silva
  • 9 de jan.
  • 2 min de leitura

Por Raul Silva para o Radar Literário


Após uma década de desafios e transformações, o mercado editorial se reinventa para atender às novas demandas dos leitores.


Guia do Estudante/Reprodução
Guia do Estudante/Reprodução

A última década foi marcada por profundas mudanças no mercado editorial brasileiro. Entre 2006 e 2019, o setor encolheu 20%, com o faturamento real caindo de R$ 1,6 bilhão para R$ 1,1 bilhão. Essa retração foi acompanhada por uma queda de 36% no preço real dos livros, refletindo a necessidade de adaptação a um público cada vez mais conectado e exigente. Em 2019, o mercado editorial global registrou um crescimento de 6% no faturamento, impulsionado principalmente pelo aumento de 600% nas vendas digitais. No entanto, a pandemia de COVID-19 trouxe novos desafios, com restrições que afetaram a produção e a distribuição de livros. O e-commerce emergiu como uma alternativa viável, representando 12,7% do faturamento naquele ano. Já em 2022, o setor enfrentou uma queda de 10,11% nas vendas globais de livros comerciais em relação a 2021, atingindo US$ 76,14 bilhões, o menor valor dos últimos cinco anos. Esse declínio acentuou a necessidade de inovação e adaptação às novas realidades do mercado.


Durante a Feira do Livro de Londres em 2019, Margot Atwell, do Kickstarter, apresentou previsões para 2025, destacando tendências como diversidade, descentralização e maior aproximação com os leitores. Essas previsões indicam um movimento em direção a uma indústria mais inclusiva e orientada ao público. O ano de 2025 apresenta-se, portanto, como um período crucial para o mercado editorial brasileiro. Após anos de crises sucessivas, o setor busca soluções para desafios como a recuperação de preços e a ampliação do hábito de leitura entre os brasileiros. A necessidade de adaptação às novas tecnologias e às mudanças nos hábitos de consumo torna-se imperativa para a sobrevivência e prosperidade das editoras e livrarias.


A transformação digital impacta significativamente o mercado de livros e papelaria. O crescimento do e-commerce e a busca por praticidade pelos consumidores exigem que livrarias e papelarias adaptem-se às novas tendências, oferecendo experiências de compra online eficientes e atraentes. A diversificação e profissionalização do mercado editorial nas últimas décadas são notáveis. No entanto, o baixo índice de leitura no Brasil continua sendo um obstáculo significativo, exigindo estratégias eficazes para promover a leitura e expandir o público consumidor de livros.


A última década foi desafiadora para o mercado editorial brasileiro, com retrações significativas no faturamento e no preço dos livros. No entanto, a adaptação às novas tecnologias e a busca por soluções inovadoras indicam um caminho promissor para 2025. A diversificação, a aproximação com os leitores e a profissionalização do setor serão fundamentais para revitalizar o mercado e promover a cultura literária no país.


 
 
 

Por Raul Silva - Radar Literário.


O mercado editorial brasileiro enfrenta desafios históricos que vão desde a retração de leitores até o impacto de crises econômicas e mudanças no hábito de consumo. Nesse cenário, a proposta da Lei do Preço Fixo, conhecida como Lei Cortez, surge como uma possível solução para equilibrar as forças no setor e proteger livrarias de bairro da competição desigual com gigantes do comércio eletrônico. No entanto, a proposta gera intensos debates sobre sua viabilidade e impacto no acesso à leitura em um país onde a educação precária e a baixa cultura leitora são barreiras significativas.


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O que é a Lei do Preço Fixo e por que é defendida?

A Lei Cortez prevê que, no primeiro ano de lançamento, os livros sejam vendidos com um desconto máximo de 10%, medida que visa impedir grandes varejistas de oferecerem preços muito baixos. A lógica por trás dessa regulamentação, defendida por entidades como a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Associação Nacional de Livrarias (ANL), é garantir a sobrevivência das pequenas livrarias, fomentar a bibliodiversidade e evitar que editoras aumentem os preços de capa para compensar descontos excessivos exigidos por grandes players.


Experiências internacionais respaldam a medida: países europeus como França e Alemanha implementaram leis semelhantes com sucesso, observando um aumento na venda de livros e uma estabilização de preços. Contudo, críticos apontam que esses mercados possuem uma cultura leitora consolidada, diferentemente do Brasil, onde apenas 16% da população adulta comprou livros em 2024, segundo dados da Nielsen.


Impacto no preço dos livros e no acesso à leitura

Os defensores da lei argumentam que ela pode, a longo prazo, reduzir os preços, ao mitigar a pressão para aumento das margens de lucro das editoras. Entretanto, o contexto brasileiro é singular: desde 2006, o preço médio dos livros caiu 36,4% em termos reais, mas as vendas não acompanharam esse movimento. Além disso, a pesquisa Retratos da Leitura revela que o preço é um fator de impacto apenas para consumidores regulares de livros, enquanto o maior entrave para a leitura no Brasil é a falta de tempo (46%) e o desinteresse pela prática (32%).


Outro ponto crítico é que a Lei Cortez limita descontos em lançamentos, categoria que perdeu relevância no mercado nacional, representando apenas 15% do faturamento das editoras em 2023. Essa tendência reflete o declínio das livrarias físicas como pontos de descoberta de novas obras, reforçando a dominância das plataformas digitais, onde o preço é fator decisivo para 60% dos consumidores.


O desincentivo à leitura e a crise estrutural da educação

A baixa taxa de leitura no Brasil é um reflexo direto da crise estrutural na educação. Dados mostram que a alfabetização funcional ainda é um desafio em diversas regiões do país, especialmente no Norte e Nordeste, onde a ausência de livrarias físicas afeta 33% e 32% da população, respectivamente. A falta de políticas públicas consistentes para promover a leitura agrava o cenário. Enquanto nações com leis de preço fixo investem fortemente na formação de leitores, no Brasil, programas como a compra governamental de livros enfrentaram cortes significativos na última década.


O preço, embora relevante, é apenas parte do problema. Há uma desconexão cultural com a leitura, resultado de uma educação que não fomenta o hábito de ler desde cedo. Incentivar bibliotecas escolares, programas de leitura comunitários e campanhas nacionais seria essencial para ampliar a base leitora, uma estratégia que a Lei Cortez, isoladamente, não contempla.


Caminhos possíveis para o mercado editorial

A Lei do Preço Fixo pode ser um passo positivo para proteger pequenos negócios e estimular a bibliodiversidade, mas seu impacto só será efetivo se acompanhado de um esforço maior em políticas públicas que incentivem a leitura e democratizem o acesso aos livros. Investimentos em educação, ampliação de bibliotecas públicas e programas de incentivo à leitura são fundamentais para que o mercado editorial brasileiro se torne sustentável.


A crise do setor livreiro não será resolvida com uma única lei, mas com uma abordagem multidimensional que considere as especificidades do Brasil. Apenas assim será possível transformar o hábito da leitura em uma prática acessível e desejável para todos os brasileiros, rompendo o ciclo de exclusão cultural que atravessa gerações. Afinal, enquanto a leitura permanecer distante da realidade da maioria, qualquer medida será apenas paliativa frente ao desafio de democratizar o conhecimento no país.

 
 
 

Atualizado: 4 de jan.

Por Raul Silva, Radar Literário


O Ceará tem se destacado no cenário nacional como um exemplo de promoção da leitura e incentivo à educação cultural. De acordo com a 6ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada em dezembro de 2024, 54% dos cearenses afirmaram ter lido pelo menos um livro nos últimos três meses, enquanto a média nacional permanece em 47%. Esse índice coloca o estado como o único do Nordeste onde a maioria da população mantém o hábito da leitura, um contraste evidente com a tendência de queda observada na região.


Foto: depositphotos.com - Igor Vetushko
Foto: depositphotos.com - Igor Vetushko

Os fatores que explicam esse desempenho são múltiplos e interligados, com destaque para o papel das escolas, que têm sido agentes transformadores no incentivo à leitura. Aproximadamente 1,5 milhão de cearenses relataram ter sido estimulados a ler por meio de indicações escolares no mesmo período. Além disso, 49% dos leitores no estado afirmaram escolher livros de literatura por vontade própria, revelando um interesse genuíno que transcende as obrigações acadêmicas.


O acesso facilitado aos livros é outro ponto relevante. Muitas obras chegam às mãos dos leitores cearenses por meio de compras em livrarias físicas e plataformas digitais, mas também através de empréstimos em bibliotecas escolares e até como presentes. Essa diversidade de formas de acesso amplia significativamente as oportunidades de leitura e fortalece a relação da população com a literatura.


Mesmo em um cenário nacional desafiador, em que a redução do hábito de leitura é uma preocupação crescente, o Ceará mostra que políticas públicas bem estruturadas e o envolvimento ativo da comunidade escolar são determinantes. O estado colhe os frutos de um trabalho coletivo que une professores, bibliotecários, gestores públicos e famílias em torno de um objetivo comum: transformar a leitura em um hábito cultural enraizado.


Esse avanço literário tem impactos profundos não apenas no âmbito educacional, mas também na formação cultural e cidadã da população. O exemplo cearense é uma lição de como o investimento na educação e na promoção da leitura pode contribuir para um Brasil mais consciente, crítico e culturalmente rico.

 
 
 
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