- Raul Silva

- 26 de set.
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Opinião – A aprovação do requerimento de urgência do PL da Anistia na Câmara dos Deputados marca um momento vergonhoso na política brasileira, revelando o tamanho da chantagem orquestrada por figuras como Paulinho da Força, Eduardo Bolsonaro e os partidos do centrão contra as instituições democráticas.
Por Raul Silva, para O estopim | 26 de setembro de 2025

Com 70% de desaprovação ao trabalho da Câmara e clara rejeição popular à PEC da Blindagem, os parlamentares não apenas ignoram a vontade do povo, mas ainda ousam disfarçar seus crimes de anistia como "dosimetria" – um eufemismo covarde para perdoar golpistas. A manobra de Paulinho da Força deixa explícita a natureza chantagista da operação: se não aprovarem a "dosimetria", ele transformará tudo numa anistia ampla. O relator admite abertamente que "Bolsonaro vai ser beneficiado" e que o projeto "tem que beneficiar a todos", incluindo o ex-presidente condenado a 27 anos de prisão. Esta não é negociação – é extorsão pura contra a democracia brasileira.
Eduardo Bolsonaro, mesmo com o próprio partido rejeitando a PEC da Blindagem no Senado, continua atacando senadores que barraram a proposta, demonstrando o desespero da extrema-direita em blindar seus crimes. O deputado chama de "serviçais complacentes dos tiranos" justamente aqueles que defenderam as instituições democráticas contra suas investidas autoritárias.
A hipocrisia do centrão atinge níveis grotescos quando analisamos os votos na PEC da Blindagem e no PL da Anistia. O PP (Progressistas) teve 38 deputados votando a favor da PEC da Blindagem e 43 apoiando a urgência da anistia, com seu deputado Claudio Cajado sendo o próprio relator da blindagem. É um partido que se vende ao melhor ofertante, demonstrando absoluta falta de princípios democráticos. O União Brasil confirmou sua natureza oportunista com 54 votos pela blindagem e 49 pela anistia, mostrando coesão apenas na defesa dos interesses escusos. Mudaram de posição apenas quando sentiram a pressão das ruas, revelando oportunismo puro e total desrespeito pela coerência política.
O Republicanos manteve 42 votos pela blindagem e 40 pela anistia, sustentando fidelidade aos interesses anti-democráticos. Hugo Motta, do partido, escolheu Paulinho da Força como relator, demonstrando cumplicidade total com o projeto golpista. O PSD, partido da Governadora de Pernambuco Raquel Lyra, apareceu dividido na blindagem com 25 votos a favor e 18 contra, mas se unificou com 28 votos pela anistia, mostrando que a divisão interna não impediu o apoio majoritário aos golpistas quando realmente importava. O MDB, sempre fiel à tradição de apoiar qualquer medida que beneficie o poder estabelecido, contribuiu com 21 votos pela anistia.
A extrema-direita organizou-se de forma ainda mais disciplinada, com o PL sendo unânime em suas posições: 83 deputados votaram pela blindagem e 85 pela anistia. Zero votos contrários em ambas as ocasiões, demonstrando disciplina férrea na defesa dos interesses bolsonaristas. Mesmo quando seus próprios senadores recuaram no Senado por pressão popular, a bancada da Câmara manteve fidelidade absoluta ao projeto golpista. Outros partidos da extrema-direita como o PRD, com 5 votos pela anistia sem qualquer oposição interna, também se alinharam completamente aos interesses antidemocráticos.
Os números da pesquisa são cristalinos e reveladores da indignação popular: 70% de desaprovação ao trabalho da Câmara e clara rejeição à blindagem parlamentar. Mesmo assim, 311 deputados ignoraram solenemente a vontade popular para aprovar a urgência da anistia aos golpistas. A pesquisa Ipespe revela que a população brasileira não é ingênua: 58% dos eleitores rejeitam Bolsonaro entre eleitores de centro, 77% entre eleitores de Lula, e a avaliação é majoritariamente negativa entre pobres (52%) e classe média (51%). O povo sabe identificar quem são os verdadeiros inimigos da democracia, mas ainda precisa demonstrar essa consciência nas urnas.
Aqui reside a maior contradição brasileira: o mesmo eleitorado que desaprova essas medidas antidemocráticas continua votando nos mesmos partidos e políticos que as promovem. Não adianta se indignar hoje se amanhã voltaremos a eleger deputados do PP, União Brasil, Republicanos, PSD, MDB e PL. A população reclama da blindagem parlamentar mas elege os parlamentares que a aprovam. Protesta contra a anistia aos golpistas mas vota nos partidos que a defendem. Esta incoerência eleitoral é exatamente o que permite que a chantagem continue funcionando de forma eficaz.
A eleição de 2026 representa a oportunidade histórica de promover uma verdadeira limpeza no Congresso Nacional, mas isso exige consciência e coerência eleitoral do povo brasileiro. Cada voto dado aos partidos que apoiaram a blindagem e a anistia é, na prática, um voto contra a democracia brasileira. É preciso consciência eleitoral para não repetir os mesmos erros que nos trouxeram até este momento de chantagem institucional. Não se pode votar em candidatos do PL, partido que foi unânime na defesa da blindagem e da anistia, mantendo fidelidade absoluta aos interesses bolsonaristas mesmo com Bolsonaro condenado pela Justiça.
É necessário rejeitar completamente o Centrão: PP, União Brasil, Republicanos, PSD e MDB provaram ser absolutamente relativistas na defesa da democracia, mudando de posição apenas quando é conveniente politicamente. Deve-se identificar e rejeitar os políticos oportunistas que ora apoiam o governo, ora se alinham com golpistas, dependendo exclusivamente da conveniência do momento e dos interesses pessoais.
O Brasil não será verdadeiramente democratizado enquanto o eleitorado mantiver a esquizofrenia política de reprovar medidas antidemocráticas mas eleger sistematicamente seus promotores. A chantagem de Paulinho da Força, as investidas golpistas de Eduardo Bolsonaro e o oportunismo desenfreado do centrão só funcionam porque sabem que o povo brasileiro tem memória curta na hora do voto e não consegue estabelecer a necessária conexão entre indignação e ação eleitoral.
A verdadeira blindagem que o Brasil precisa não é a parlamentar – é a blindagem eleitoral contra políticos que atentam sistematicamente contra a democracia. Enquanto não tivermos a coragem coletiva de aplicar essa medicina amarga nas urnas, continuaremos eternamente prisioneiros do círculo vicioso que mantém no poder justamente aqueles que nos traem diariamente no Congresso Nacional. A responsabilidade é integralmente nossa: de cada eleitor que, indignado hoje com a chantagem parlamentar, precisa ser absolutamente coerente amanhã na urna eletrônica. Só assim quebraremos definitivamente a chantagem institucionalizada e começaremos a verdadeira limpeza democrática que o Brasil tanto necessita e merece para se tornar uma nação verdadeiramente livre e democrática.









