- Redação d'O estopim

- 26 de set.
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Ministro do Turismo cede a ultimato do partido, que rompeu com o Planalto, mas presidente pede que permaneça no cargo por mais alguns dias. Saída expõe fragilidade da articulação política e abre nova frente de negociação por espaço no primeiro escalão.
Por Redação d'O estopim | 26 de setembro de 2025
Brasília – Em um dos capítulos mais tensos e reveladores da complexa relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, o ministro do Turismo, Celso Sabino, entregou oficialmente sua carta de demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tarde desta sexta-feira. A decisão, embora amplamente esperada nos bastidores políticos ao longo da semana, culmina um período de alta pressão e formaliza o desembarque do União Brasil da base aliada. Este movimento não apenas gera uma crise de consequências ainda imensuráveis para a governabilidade, mas também acende um sinal de alerta sobre a coesão da coalizão que sustenta o governo.
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A saída de Sabino não foi uma escolha voluntária, mas sim o resultado inevitável de um ultimato imposto pela executiva nacional do União Brasil, uma das siglas mais influentes do Centrão. Na semana passada, o partido, que recentemente formou uma federação com o Progressistas (PP), aprovou uma resolução taxativa que obrigava todos os seus filiados a deixarem cargos no governo federal em um prazo exíguo. A medida é a mais clara sinalização de que o partido abandona a postura de aliado para se posicionar como uma força independente, e potencialmente de oposição, com o claro objetivo de construir um projeto de poder autônomo para as eleições de 2026.
O ultimato e a resistência
Celso Sabino resistiu enquanto foi politicamente viável. Com projetos importantes sob sua gestão, a organização da COP30, a conferência climática da ONU que será realizada em Belém (PA), seu estado natal, era a joia da coroa. Para Sabino, permanecer à frente do ministério durante um evento de projeção global era uma plataforma estratégica para sua carreira política, alimentando seus planos de uma possível candidatura ao Senado.
Diante da pressão, ele se engajou em intensas negociações nos últimos dias, tentando costurar um acordo com a cúpula do partido, liderada pelo presidente Antonio Rueda, para obter uma "licença partidária". Esse arranjo, se bem-sucedido, lhe permitiria continuar no governo sem ser formalmente um representante do União Brasil, um drible na resolução partidária.
A negociação, contudo, encontrou um muro. A liderança do partido, determinada a marcar sua posição de independência, mostrou-se irredutível, comunicando que a decisão de romper com o governo era soberana e inegociável.
A pressão foi amplificada por declarações públicas de Rueda, que, em uma tentativa de personalizar a questão sem parecer quebrar laços pessoais, afirmou que "ama Celso Sabino, mas o partido tem regras". A mensagem era clara: a lealdade partidária deveria prevalecer sobre os projetos individuais e a aliança com o governo.
A carta e o pedido estratégico de Lula
Ao sair da reunião no Palácio do Planalto, Sabino confirmou à imprensa que havia acatado a determinação de seu partido.
"Entreguei hoje ao presidente Lula a minha carta, colocando o cargo à disposição, cumprindo a orientação do União Brasil", declarou o ministro em um tom que mesclava resignação e um apelo por moderação.
A entrega do documento simbolizou o fim de uma era de colaboração entre a sigla e o governo petista. Contudo, a demissão não será imediata. Em um movimento político calculado, o presidente Lula pediu que Sabino o acompanhasse em uma agenda oficial na próxima semana, adiando a exoneração formal.
"O presidente pediu que eu o acompanhasse nessa missão na próxima quinta-feira e assim nós vamos estar. Vou como ministro ainda", afirmou Sabino.
Essa sobrevida, ainda que curta, serve a múltiplos propósitos: dá ao governo tempo para negociar a sucessão no ministério, sinaliza aos demais partidos da base que a transição será ordenada e, principalmente, deixa uma porta entreaberta para o diálogo com a ala menos radical do União Brasil.
"Eu acredito no diálogo, eu acredito que os homens públicos devem querer o que é melhor para o país", completou Sabino, ecoando a estratégia do Planalto.
Repercussões e o futuro incerto da esplanada
A saída de Celso Sabino é um golpe duro e de efeito prático imediato para a articulação política do governo. A federação União-PP representa a maior bancada da Câmara dos Deputados, com mais de 100 parlamentares, e seu desembarque oficial para a oposição encarece significativamente o custo de aprovação de pautas de interesse do Executivo, como reformas econômicas e projetos orçamentários. A crise expõe a dificuldade crônica do governo em manter uma base de apoio sólida e heterogênea, dependente de partidos com agendas próprias e muitas vezes conflitantes.
A partir de agora, a Esplanada dos Ministérios se torna, mais uma vez, um disputado tabuleiro de xadrez. A vaga no Ministério do Turismo é cobiçada por outros partidos do Centrão que permanecem na base, como o PSD e o MDB, que já iniciaram movimentações para intensificar a pressão por mais espaço. Para o Planalto, a escolha do substituto será delicada e estratégica: precisará ser um nome que não apenas demonstre capacidade técnica, mas que, crucialmente, traga consigo o apoio de uma bancada expressiva e fiel no Congresso.
A situação do ministro dos Esportes, André Fufuca, filiado ao PP, também se torna insustentável. Com a mesma resolução da federação se aplicando a ele, sua permanência no cargo é vista nos corredores do poder como improvável, o que pode levar a uma nova e iminente baixa no primeiro escalão de Lula. O cenário que se desenha é de profunda incerteza e de intensas negociações nos próximos dias, com o governo correndo contra o tempo para reorganizar suas alianças, conter a sangria e garantir a estabilidade mínima necessária para governar e avançar sua agenda.
