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A origem e o uso político do termo “marxismo cultural” e sua relação com a Escola de Frankfurt e Antonio Gramsci


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Uma das teorias conspiratórias mais influentes da contemporaneidade tem suas raízes fincadas na propaganda nazista dos anos 1930. O chamado “marxismo cultural” – expressão que ganhou força no discurso político brasileiro contemporâneo – não apenas carece de fundamentação acadêmica rigorosa, como representa uma sofisticada operação de ressignificação ideológica que merece análise crítica detalhada.


Das cinzas do Terceiro Reich ao ressurgimento americano


A genealogia do termo “marxismo cultural” revela uma trajetória sombria que se inicia com o conceito de Kulturbolschewismus (Bolchevismo Cultural), cunhado pela máquina propagandística nazista durante a República de Weimar. Este termo serviu como arma retórica para deslegitimar manifestações artísticas e intelectuais que desafiavam os valores conservadores alemães, particularmente aquelas associadas a judeus, comunistas e demais grupos considerados “degenerados” pelo regime.


A famosa exposição “Arte Degenerada” (Entartete Kunst), inaugurada em Munique em julho de 1937, exemplifica magistralmente como essa construção ideológica operava na prática. Mais de 650 obras de arte moderna foram deliberadamente expostas de forma humilhante – quadros tortos, empilhados, alguns de ponta-cabeça, acompanhados de cartazes alarmistas sobre os perigos que representavam para a “alma alemã”. O público, estimado em mais de dois milhões de visitantes ao longo dos anos seguintes, era convidado a testemunhar o que o governo apresentava como evidência tangível da degeneração cultural promovida por forças anti-alemãs.


O jornalista Carl von Ossietzky, que posteriormente morreria em um campo de concentração, captou com ironia amarga a elasticidade conceitual do termo:


“Bolchevismo cultural é quando o maestro Klemperer toca em ritmos diferentes do seu colega Furtwängler; quando um pintor adiciona uma cor ao seu pôr do sol que não se vê na Pomerânia; quando se favorece o controle de natalidade; quando se constrói uma casa com telhado plano”.

Qualquer manifestação cultural que desafiasse convenções estabelecidas podia ser rotulada como “bolchevismo cultural”.


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A ironia histórica mais cruel reside no fato de que os teóricos posteriormente acusados de orquestrar uma conspiração mundial foram, precisamente, vítimas dessa mesma propaganda. Quando Hitler consolidou o poder em 1933, os intelectuais da Escola de Frankfurt – Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin – não permaneceram para testemunhar os desdobramentos. Literalmente empacotaram suas vidas e atravessaram o Atlântico, estabelecendo-se como refugiados na Universidade Columbia, em Nova York.


Após décadas de relativo ostracismo acadêmico, o termo ressurgiu em 1992 através de um artigo peculiar: “The New Dark Age: The Frankfurt School and Political Correctness”, de autoria de Michael Minnicino. Este texto, publicado na revista Fidelio, órgão do movimento político marginal liderado por Lyndon LaRouche, apresentou ao público americano uma narrativa delirante segundo a qual a Escola de Frankfurt teria abandonado a revolução econômica tradicional do marxismo para se dedicar à destruição sistemática da civilização ocidental através da cultura.


Minnicino não era um acadêmico respeitado nem um intelectual de renome. Integrava um círculo conspiratório liderado por LaRouche, ex-trotskista convertido em guru de extrema-direita, conhecido por suas obsessões com supostas conspirações judaicas mundiais. Não obstante, o artigo encontrou terreno fértil na América dos anos 1990, sendo refinado e popularizado por conservadores como Paul Weyrich e William S. Lind.


Weyrich, fundador de organizações influentes como a Heritage Foundation, possuía conexões profundas com a direita cristã americana. Lind, teórico militar que flertava com ideias conspiratórias, contribuiu para criar uma versão mais “palatável” da teoria, substituindo o antissemitismo explícito por ataques aos “globalistas” e “cosmopolitas” – termos que, para conhecedores da história, funcionam como códigos antissemitas bem estabelecidos.


A verdadeira Escola de Frankfurt: Desmontando as distorções


Uma análise rigorosa das obras centrais da Escola de Frankfurt revela o abismo que separa a produção intelectual real desses pensadores das caricaturas construídas pelos teóricos conspiratórios. O Instituto para Pesquisa Social, fundado em Frankfurt em 1923, emergiu não como uma célula revolucionária secreta, mas como um centro acadêmico legítimo financiado, ironicamente, pelo filho de um rico comerciante de cereais que desejava promover pesquisas marxistas independentes de pressões partidárias.


Theodor Adorno, nascido em 1903 numa família de classe média alemã, era um homem de cultura refinada: virtuose do piano, compositor, crítico musical. Sua preocupação central não era conspirar contra a civilização ocidental, mas compreender como a própria cultura européia que ele amava profundamente estava sendo destruída pelo fascismo. Junto com Max Horkheimer, produziu “Dialética do Esclarecimento”, uma das obras mais importantes do século XX, que argumentava que a racionalidade instrumental – a lógica de meios e fins dominante no capitalismo moderno – tendia a transformar seres humanos em coisas.


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O conceito adorniano de “indústria cultural” constitui talvez o exemplo mais flagrante de distorção perpetrada pelos conspiracionistas. Adorno desenvolveu essa noção para criticar como a produção cultural de massa estava sendo organizada segundo princípios industriais, resultando numa padronização que anestesiava a capacidade crítica das pessoas. Onde ele diagnosticava o capitalismo produzindo conformismo através da cultura, os teóricos conspiratórios enxergam uma conspiração marxista utilizando a cultura para subverter o capitalismo. A inversão é tão completa que chega a ser ontologicamente perturbadora.


Walter Benjamin, figura mais trágica dessa narrativa, dedicou-se a compreender como as novas tecnologias – fotografia, cinema – transformavam nossa relação com arte e cultura. Seu ensaio seminal “A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica” não pregava destruição artística, mas investigava como a arte poderia manter sua força crítica num mundo dominado pela reprodução técnica. Benjamin falava da perda da “aura” da obra de arte, mas também vislumbrava possibilidades emancipatórias nas novas tecnologias: o cinema poderia democratizar o acesso cultural e criar novas formas de consciência crítica.


A vida de Benjamin terminou tragicamente em 1940, quando se suicidou na fronteira franco-espanhola, fugindo dos nazistas. Morreu como refugiado, perseguido pelos mesmos fascistas cujos métodos seus detratores contemporâneos, de certa forma, ecoam através da construção de inimigos internos.


Herbert Marcuse, talvez o mais famoso dos frankfurtianos após se tornar referência para movimentos estudantis dos anos 1960, escreveu “O Homem Unidimensional” – uma análise devastadora de como sociedades industriais avançadas conseguiam integrar e neutralizar toda oposição através do consumo. Para Marcuse, o problema das sociedades capitalistas avançadas não era a pobreza material, mas a pobreza espiritual: as pessoas tinham acesso a bens de consumo, mas perdiam a capacidade de desejar algo diferente.


Antonio Gramsci: Do cárcere ao espantalho conspiratório


Se a distorção da Escola de Frankfurt representa uma operação ideológica sofisticada, a transformação de Antonio Gramsci em arquiteto de uma conspiração mundial constitui talvez o exemplo mais perverso de manipulação intelectual. O teórico italiano, nascido em 1891 numa família pobre da Sardenha, possuía deformidade na coluna que o deixava corcunda, mas demonstrava brilhantismo intelectual extraordinário.


Gramsci tornou-se jornalista e depois um dos fundadores do Partido Comunista Italiano. Em 1926, foi preso pelo regime fascista de Mussolini, com o promotor declarando explicitamente: “Devemos impedir que este cérebro funcione por vinte anos.” Passou onze anos na prisão, a maior parte doente, sofrendo de tuberculose, arteriosclerose e hipertensão. Foi nessas condições terríveis que produziu os “Cadernos do Cárcere” – mais de 3.000 páginas de reflexões sobre política, cultura, história e filosofia.


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Os “Cadernos” foram escritos em linguagem cifrada, pois Gramsci sabia que estavam sendo censurados. Não podia escrever diretamente sobre revolução ou marxismo, então desenvolvia conceitos através de análises históricas, reflexões literárias e comentários folclóricos. Representa uma obra de densidade e complexidade extraordinárias, que demandou décadas de trabalho acadêmico para ser completamente compreendida.


O conceito gramsciano de “hegemonia” – central para sua obra e sistematicamente distorcido pelos conspiracionistas – emerge da observação que o poder nas sociedades modernas não se mantém apenas através da força, mas também através do consenso. Classes dominantes conseguem apresentar seus interesses particulares como interesse geral da sociedade. Quando empresários alegam que “o que é bom para as empresas é bom para todos”, exercem hegemonia. Quando a mídia apresenta individualismo competitivo como única forma natural de organização social, reproduz hegemonia.


Para Gramsci, compreender hegemonia era fundamental para projetos de transformação social. Não bastava tomar o poder estatal; era necessário conquistar hegemonia cultural, criar novo “senso comum”. Mas – e isso é crucial – Gramsci não propunha manipulação das massas. Sugeria que grupos subalternos desenvolvessem sua própria capacidade de produzir cultura, sua própria visão de mundo.


A diferença entre análise acadêmica e teoria conspiratória torna-se cristalina quando contrastamos o Gramsci real com sua versão distorcida. O Gramsci histórico era um prisioneiro político produzindo reflexões teóricas numa cela, tentando compreender como sociedades funcionam. O “Gramsci” conspiratório é apresentado como estrategista maquiavélico criando planos secretos para dominação mundial. O primeiro analisava hegemonia como fenômeno exercido por todas as classes – incluindo dominantes que já a exercem com sucesso. O segundo é apresentado como inventor da manipulação cultural, como se anteriormente ninguém tivesse utilizado cultura para exercer poder.


A tropicalização brasileira: Olavo de Carvalho e a nacionalização da conspiração


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A chegada do “marxismo cultural” ao Brasil representa um caso exemplar de como teorias conspiratórias se adaptam a contextos culturais específicos. Olavo de Carvalho, nascido em 1947 numa família de classe média baixa em Campinas, possuía trajetória intelectual errática: autodidata brilhante que transitou por astrologia, filosofia islâmica, René Guénon e Louis Claude de Saint-Martin. Nos anos 1990, descobriu os textos de Lind e Minnicino, transformando essa descoberta num projeto intelectual que mudaria a política brasileira.


Olavo não se contentou em reproduzir teorias americanas. Criou uma versão tropicalizada que colocava Antonio Gramsci no centro absoluto da narrativa, conectando diretamente a teoria à ascensão do Partido dos Trabalhadores. Na versão olavista, o PT não era simplesmente um partido de esquerda, mas o instrumento brasileiro da revolução gramsciana mundial. Debates políticos concretos foram transformados em batalhas cósmicas entre bem e mal.


A genialidade retórica de Olavo residia na capacidade de oferecer aos seguidores senso de missão épica. Não eram meramente eleitores insatisfeitos, mas guerreiros numa batalha pela alma do Brasil. O site “Mídia sem Máscaras”, lançado em 2002, tornou-se epicentro da nova direita brasileira na internet, oferecendo narrativa que dava sentido às frustrações de pessoas politicamente órfãs.


O timing revelou-se perfeito. Os primeiros anos do governo Lula coincidiram com profundas transformações sociais: políticas afirmativas, programas sociais, mudanças curriculares. Para segmentos da classe média conservadora, isso criava sensação de que o país mudava de formas que não controlavam nem compreendiam. A teoria do “marxismo cultural” oferecia explicação reconfortante: não era evolução social, mas conspiração.


A institucionalização dessa narrativa ocorreu através do movimento Escola sem Partido, criado em 2004 por Miguel Nagib. O procurador paulista conseguiu transformar teoria conspiratória em projeto de lei concreto, focando numa ansiedade genuinamente percebida por muitos pais: a sensação de que filhos estavam sendo “doutrinados” por professores esquerdistas.


O momento decisivo chegou em 2014, quando Nagib encontrou-se com a família Bolsonaro. A partir dessa conexão, projetos baseados no modelo do Escola sem Partido proliferaram em câmaras municipais e assembleias legislativas por todo o país. A teoria conspiratória havia encontrado sua máquina política.


A eleição de Jair Bolsonaro em 2018 marcou a transformação definitiva de uma teoria conspiratória marginal em doutrina oficial de governo. Ricardo Vélez Rodríguez, primeiro ministro da Educação, deixou isso explícito: “Combateremos o marxismo cultural, hoje presente em instituições de educação básica e superior. Trata-se de uma ideologia materialista alheia aos nossos mais caros valores.” Abraham Weintraub foi ainda mais direto, sugerindo que conservadores adotassem os métodos olavistas: “Quando um comunista chegar para você com o papo, xinga.”


Ernesto Araújo, chanceler do período, escreveu sobre sua missão de “libertar o Itamaraty” do “marxismo cultural”, demonstrando como a teoria havia se tornado narrativa oficial sobre a realidade brasileira e mundial. Os efeitos foram devastadores: professores perseguidos, universidades atacadas, artistas demonizados. O próprio conceito de pensamento crítico foi deslegitimado.


A anatomia de uma mentira persistente


Esta investigação revela um fenômeno intelectualmente fascinante e politicamente perigoso: como uma construção retórica nazista conseguiu se reinventar e prosperar em contextos democráticos contemporâneos. O “marxismo cultural” funciona como sistema perfeito de auto-validação conspiratória – qualquer crítica à teoria torna-se automaticamente prova de sua veracidade.


A análise detalhada das obras originais da Escola de Frankfurt e Antonio Gramsci demonstra não apenas a falsidade das acusações conspiratórias, mas revela a inversão ontológica operada pelos propagandistas: transformaram vítimas do fascismo em precursores do “fascismo cultural”, críticos do capitalismo em agentes do capitalismo financeiro global, defensores da emancipação humana em conspiradores totalitários.


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Mais que desmontar uma teoria conspiratória específica, este estudo ilumina mecanismos pelos quais o medo e a desinformação operam na política contemporânea. Em tempos de crescente polarização e erosão da confiança em instituições democráticas, compreender a genealogia e o funcionamento de teorias como o “marxismo cultural” torna-se imperativo não apenas acadêmico, mas cívico.


A verdadeira herança da Escola de Frankfurt e de Gramsci não reside em supostos planos para dominação cultural, mas num convite permanente ao pensamento autônomo, à crítica informada, à recusa de aceitar explicações simplistas para problemas complexos. Paradoxalmente, é exatamente isso que as teorias conspiratórias procuram minar: nossa capacidade de pensar criticamente sobre o mundo que habitamos.


Fontes

[1] Uma vida por trás da teoria Histórico-Cultural https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8673785

[2] Psicologia histórico-cultural e Teoria da Aprendizagem Desenvolvimental: contribuições do grupo de Kharkiv https://seer.ufu.br/index.php/emrevista/article/view/74812

[3] Teoria desenvolvimental, teoria histórico-cultural e materialismo histórico dialético: intersecções e desafios https://ojs.revistacontribuciones.com/ojs/index.php/clcs/article/view/13973

[4] Gestão sanitária da COVID-19 e o conspiracionismo do “marxismo cultural” https://jmphc.com.br/jmphc/article/view/1324

[5] DA DITADURA MILITAR À REDEMOCRATIZAÇÃO: CAMINHOS DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL NA PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO BRASILEIRAS (ANOS 1970 A 1990) https://periodicos.uniarp.edu.br/index.php/professare/article/view/3074

[6] Articulações de demandas educativas (im)possibilitadas pelo antagonismo ao “marxismo cultural” https://epaa.asu.edu/index.php/epaa/article/view/4881

[7] Os usos da teoria de Pierre Bourdieu para estudar corpo e saúde no campo acadêmico-científico da educação física https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/72149

[8] Prototipagem de máquinas térmicas a vapor utilizando materiais de baixo custo: um relato de experiência STEAM no estágio de docência do doutorado à luz da Teoria Histórico-Cultural https://ojs.cuadernoseducacion.com/ojs/index.php/ced/article/view/5579

[9] Conspiracionismo do “marxismo cultural” enquanto processo fascistizador no capitalismo contemporâneo e suas repercussões na saúde https://jmphc.emnuvens.com.br/jmphc/article/view/1416

[10] Subversivos em toda parte: como funciona uma teoria da conspiração http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742024000100402&tlng=pt

[11] ANÁLISES E EMBATES MARXISTAS DA/NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO https://portalseer.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/download/23639/14907

[12] RAYMOND WILLIAMS E A CULTURA COMO PROBLEMA ORDINÁRIO https://www.scielo.br/j/sant/a/3p89JHssWb4FQKY3qHmCzLf/?format=pdf&lang=pt

[13] As formas invisíveis do visível: fetichismo e fantasmagoria em Marx e Benjamin https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/download/67956/751375156628

[15] REFLEXÕES SOBRE MARXISMO E PERSPECTIVA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA A PESQUISA EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS. https://portalseer.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/download/16439/13090

[16] Dependência e marxismo: história, teoria e práxis revolucionária https://periodicos.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/download/49178/26682

[17] BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS E A “PÓS- MODERNIDADE DE CONTESTAÇÃO”: Algumas notações marxistas http://revistas.marilia.unesp.br/index.php/aurora/article/download/1265/1125

[20] CONTRIBUIÇÕES MARXISTAS PARA TEORIA DA HISTÓRIA: A RELAÇÃO ENTRE ESTRUTURA E HISTÓRIA. https://portalseer.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/download/14170/14882

[21] [PDF] A teoria da conspiração que dominou o Brasil - IE/UFRJ https://www.ie.ufrj.br/images/IE/IEnaMidia/08/%C3%89poca%2001-08%20Eduardo%20Costa%20Pinto.pdf

[22] Direita radical sequestrou as pautas do trabalho e do desejo, diz ... https://www.bbc.com/portuguese/articles/c20njj712y0o

[23] [PDF] O PENSAMENTO CRÍTICO DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A ... http://repositorio.unifap.br/bitstream/123456789/244/4/TCCE_PensamentoCriticoEscola.pdf

[24] [PDF] Cultura, ideologia e hegemonia: Antonio Gramsci e o campo de ... https://revistas.usp.br/incid/article/download/148808/153394/350388

[25] [PDF] O Flerte entre Literatura e política: uma dissociação (im)possível https://publicacoes.unigranrio.edu.br/reihm/article/download/1435/932

[26] O feitiço da extrema direita - Outras Palavras https://outraspalavras.net/blog/o-feitico-da-extrema-direita/

[29] CRÍTICA E CRISE: TEORIA DA LITERATURA E HISTÓRIA ... - SciELO https://www.scielo.br/j/rblc/a/XrDWDj3HXYDXhjzLSnsXcvf/

[31] O que é o 'plano de Kalergi', a teoria da conspiração que partidos ... https://www.bbc.com/portuguese/geral-46017467

[32] [PDF] ANÁLISE À LUZ DA TEORIA CRÍTICA FRANKFURTIANA - TEDE https://tede2.pucgoias.edu.br/bitstream/tede/4711/2/Nelma%20Roberto%20Gon%C3%A7alves%20Mendes.pdf

[33] Gramsci e a política cultural: Estado, cultura e hegemonia https://www.niepmarx.com.br/index.php/MM/article/view/543

[34] [PDF] CRÍTICA LITERÁRIA E RESISTÊNCIA AO AUTORITARISMO ... https://www.seer.ufrgs.br/brasilbrazil/article/viewFile/117393/63930

[35] [PDF] a reificação da crítica da Escola de Frankfurt e dos Estudos Culturais https://sistemas.intercom.org.br/pdf/submissao/nacional/17/06282024234245667f74a56bfb5.pdf

[37] [PDF] O PENSAMENTO CRÍTICO DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A ... https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/9989120.pdf

[38] Hegemonia cultural – Wikipédia, a enciclopédia livre https://pt.wikipedia.org/wiki/Hegemonia_cultural

[39] Teoria e prática da crítica literária dialética - Portal de Livros da UnB https://livros.unb.br/index.php/portal/catalog/book/133

[40] [PDF] ofensiva burguesa em tempos de golpe: o “marxismo cultural” na https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/10090151.pdf

 
 
 
IMAGEM DE NIETZSCHE
Friedrich Nietzsche

O retrato é célebre: em abril de 1931 Adolf Hitler, ainda a caminho do poder, inclina-se diante de um busto de Friedrich Nietzsche no Nietzsche-Archiv, em Weimar. A imagem — distribuída pela máquina de propaganda do futuro Führer — selava um casamento simbólico entre o filósofo que proclamara “Deus está morto” e o movimento que transformaria a Alemanha numa teocracia racial. Desde então, tornou-se quase senso comum dizer que o autor de Assim Falou Zaratustra foi a inspiração intelectual do nazismo, sobretudo pelo conceito de Übermensch (além-homem ou super-homem). O problema é que nada, nem na biografia nem na obra de Nietzsche, autoriza tal leitura: ele detestava o antissemitismo, ridicularizava o nacionalismo alemão e descreveu o Estado como “o mais frio de todos os monstros”. Como, então, ocorreu tão profunda distorção? A resposta atravessa a ação de sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche, o uso que o Terceiro Reich fez de edições manipuladas, e a recente reciclagem digital dessa fraude por extremistas contemporâneos — fenômeno que exige hoje, mais do que nunca, um esforço de resgate filológico e crítico.


Do Arquivo ao Reich — a falsificação de Elisabeth


O golpe decisivo que vinculou Nietzsche ao nazismo não partiu de Berlim, mas de Weimar, onde sua irmã mais velha, Elisabeth Förster-Nietzsche, instalou em 1894 o Nietzsche-Archiv. Nacionalista ardorosa, antissemita confessa e viúva de um agitador que tentara fundar uma colônia “ariana” no Paraguai, Elisabeth assumiu a tutela legal do irmão logo após o colapso mental dele em 1889 e passou a gerir, sozinha, os manuscritos, cartas e cadernos deixados em desordem. Desde o início, o projeto tinha dupla face: preservar a memória familiar e refinar um Nietzsche politicamente útil à nova direita alemã. Ao mesmo tempo em que erguia a casa-museu Villa Silberblick, ela filiava-se ao Partido Nacional do Povo Alemão, um dos berços ideológicos do futuro nazismo, e cultivava relações com editores simpáticos ao pangermanismo.



IRMÀ DE NIETZSCHE
Elisabeth Förster-Nietzsche

Foi sob esse viés que Elisabeth realizou a intervenção mais profunda sobre a obra do irmão: a publicação, entre 1901 e 1906, de Der Wille zur Macht (A Vontade de Poder) como se fosse o “sistema filosófico” póstumo de Nietzsche. Na realidade, o livro não passava de uma colagem de fragmentos inéditos cujo ordenamento — títulos de seções, recortes, supressões — foi inteiramente produzido pela própria curadora, muitas vezes contraindicado pelo filósofo ainda em vida. Décadas depois, os filólogos Giorgio Colli e Mazzino Montinari, ao confrontar linha por linha os originais, demonstrariam que esse compêndio era uma construção artificial, invertendo a cronologia dos cadernos e amputando passagens em que Nietzsche atacava frontalmente o antissemitismo. A adulteração criava a impressão de um autor engajado numa filosofia da força, pronta para legitimar hierarquias biológicas e violência política — exatamente o que o nacional-socialismo buscaria alguns anos mais tarde.


Não por acaso, em 12 de abril de 1931 Adolf Hitler foi recebido com honras na Villa Silberblick. Fotografado ao lado do busto de Nietzsche, o futuro Führer empunhou a bengala do filósofo enquanto Elisabeth — então com 84 anos — lhe mostrava páginas escolhidas dos manuscritos. O registro foi reproduzido em jornais do partido e transformado em cartão-postal, selando o alinhamento simbólico entre pensamento e regime. Pouco depois, o Ministério da Propaganda encomendou novas reimpressões “oficiais” das obras, prefaciadas por intelectuais nazistas, nas quais o Super-homem aparecia como legitimação da supremacia racial germânica. Estudos recentes demonstram que o Archiv funcionou, na prática, como oficina de material propagandístico: trechos inconvenientes eram suprimidos, enquanto aforismos sobre poder, domínio e “rebanho” abasteciam folhetins ideológicos distribuídos em escolas e quartéis.


O efeito foi devastador e duradouro. Mesmo após 1945, quando o nazismo se tornou sinônimo de barbárie, a associação “Nietzsche = precursor fascista” já havia penetrado enciclopédias, colégios e até manuais de história da filosofia. Embora a edição crítica Colli-Montinari (1967-) tenha desmontado academicamente o mito, ele sobreviveu no senso comum — pronto para ser reciclado, décadas depois, por novas extremas-direitas digitais. Assim, a manipulação de Elisabeth comprovou quão longe uma distorção editorial pode ir quando encontra, primeiro, a passividade dos leitores e, depois, a vontade de poder de um regime disposto a transformar pensamento em slogan.


Memes, 4chan e Bolsonaro — o Super-homem 2.0


O século XXI abriu um novo front para a velha deturpação. Se no passado Elisabeth Förster-Nietzsche precisou manipular cadernos e editores, hoje basta um editor de imagens gratuito e um fórum anônimo para ressuscitar o “Nietzsche nazista”. O processo ganhou força em 4chan — sobretudo no board /pol/ — onde a alt-right (direita alternativa) norte-americana misturou animações de sapos, filtros neon e trilhas de trap para fabricar um Super-homem hipertrofiado, musculoso, branco, que encara o mundo com desprezo cínico. Pesquisadores da Vox já em 2017 apontavam que “a alt-right está bêbada de más leituras de Nietzsche” e que figuras como Richard Spencer se diziam “red-pilled” pelo filósofo, embora o citassem fora de contexto ou inventassem frases inexistentes. O padrão tornou-se claro: recorta-se meia linha sobre “a morte de Deus” ou um epigrama contra “moral de rebanho”, cola-se sobre a foto de um guerreiro viking desenhado por IA e o meme está pronto para circular como prova de que Nietzsche estaria do lado dos supremacistas.


EXEMPLO DE MEME
Memes bolsonaristas utilizando-se da figura do Super-homem

Esse ecossistema memético ganhou nova camada em 2024, quando a rede de pesquisas GNET mapeou o uso de geradores de imagem para sofisticar a estética da extrema-direita: avatars produzidos por IA ostentam runas nórdicas, referências ao “Grande Substituição” e, claro, slogans atribuídos a Nietzsche que ele jamais escreveu. A lógica — apontam os autores do relatório — é inundar o feed com símbolos de força e fatalismo, transformando a filosofia em linguagem gráfica digerível em segundos. Nesse ambiente, a distinção entre citação autêntica e frase inventada torna-se irrelevante; o que importa é o “efeito aura”, a sensação de se apoiar em um clássico para justificar misoginia, racismo ou violência política. O resultado é um “Nietzsche fast-food”: sem leitura, sem contexto, mas com alto teor calórico de ódio.


O Brasil entrou nesse circuito por vias bolsonaristas. A partir de 2018, páginas de apoio ao então candidato Jair Bolsonaro exportaram o template americano: o Super-homem vira o “cidadão de bem armado”, contraposto ao “NPC petista”. Estudo de doutorado da UFMG sobre dessubjetivação memética mostrou que perfis conservadores replicaram, em português, montagens de 4chan acrescentando legendas como “A virtude está com os fortes — Nietzsche” para defender fechamento do Congresso ou tiros em criminosos (os posts, claro, omitem que Nietzsche chamava o Estado de “monstro frio”). Paralelamente, investigações do Conselho Nacional de Direitos Humanos registram que células neonazistas no país cresceram 270 % entre 2019 e 2024; os monitoramentos identificaram grupos de Telegram onde trechos falsos de Nietzsche são usados para legitimar supremacismo branco e antissemitismo. Nesse ambiente, referências ao filósofo aparecem lado a lado com símbolos de SS, cruzes célticas e hashtags em defesa de “intervenção militar já”, reforçando a fusão entre culto à força e negacionismo histórico.


O fenômeno não se limita a nichos radicais: influenciadores com centenas de milhares de seguidores no YouTube e no Instagram citam supostos aforismos de Nietzsche — “os fracos devem servir aos fortes”, “pena é vício dos derrotados” — para vender cursos de masculinidade “alfa” ou comentar política nacional. Em editorial de 2018, a Los Angeles Times já alertava que a direita radical não está sozinha nessa apropriação simplista, mas certamente a dirige ao público mais vulnerável à retórica do ressentimento. No Brasil, o algoritmo das plataformas impulsiona esse conteúdo: quanto mais polêmica a frase, maior o engajamento; quanto mais engajamento, maior a difusão da distorção. Assim nasce o Super-homem 2.0 — um produto pop de consumo rápido, vitaminado por IA, traduzido em likes e compartilhamentos, que vende falsa erudição a serviço da intolerância. Desmontar esse ciclo exige devolver Nietzsche ao texto — e lembrar, como ressalta a ABC News australiana, que ele era crítico feroz de qualquer “política de sangue e ferro”. Até lá, a batalha seguirá não apenas nas bibliotecas, mas nas timelines onde o pensamento vira sticker em poucos pixels.


Leituras críticas e o retorno ao texto


O primeiro grande antídoto contra a fraude nazista surgiu nos anos 1960, quando Giorgio Colli e Mazzino Montinari decidiram reexaminar, folha a folha, os 5 000 manuscritos de Nietzsche guardados no Goethe-Schiller-Archiv, em Weimar. Eles descobriram não apenas cortes, inversões cronológicas e enxertos feitos por Elisabeth, mas também que o livro A Vontade de Poder — vendido por décadas como “testamento filosófico” — jamais existira no plano do autor. O resultado foi a Edição Crítica Colli–Montinari, publicada em italiano, francês, alemão e, desde 2023, em inglês pela Stanford University Press — “a primeira tradução completa, anotada e verificada a partir dos originais”, como sublinha a própria editora . Ao desmontar a montagem póstuma, Colli e Montinari recolocaram o Super-homem no seu leito de origem: não um soldado racial, mas a metáfora de uma humanidade que cria valores depois da “morte de Deus”.


PINTURA CARICATURA DE NIETZSCHE
Friedrich Nietzsche. Edvard Munch, 1906

Cinco décadas depois, o movimento filológico ganhou musculatura digital. O portal Nietzsche Source, coordenado pelo pesquisador italiano Paolo D’Iorio, disponibiliza online mais de 8 000 fac-símiles de cadernos, cartas e raridades, além de um aparato crítico comparável às edições impressas. Ali, qualquer leitor pode confrontar a frase duvidosa que viu num meme com a caligrafia original do filósofo em poucos cliques. A iniciativa conecta-se a projetos como “Nietzsche’s Library”, que digitaliza todos os livros anotados pelo autor, e a revistas acadêmicas em open access — a Nietzsche-Studien, por exemplo, migrou para acesso gratuito em 2022, difundindo pesquisas sem barreira de paywall (muro de pagamento). O efeito combinado é poderoso: pela primeira vez, o público leigo dispõe de ferramentas para verificar, em tempo real, se a suposta citação sobre “exterminar os fracos” existe ou é produto de má-fé.


Enquanto a filologia limpa a base textual, novas interpretações devolvem vitalidade filosófica ao Super-homem. No Brasil, o professor Oswaldo Giacoia Jr. — referência nacional em Nietzsche — insiste, em cursos e entrevistas, que o “super-homem” não é dono de escravos, mas artista de si: alguém que transforma a vida em obra inacabada, aberta ao devir. Na África, Achille Mbembe emprega a crítica nietzschiana ao ressentimento para compreender a violência colonial e imaginar “devenires” pós-hegemônicos Pesquisadoras feministas e queer, como Judith Butler, dialogam com a performatividade nietzschiana para pensar os corpos como palcos de criação de sentido; artigos recentes em New Nietzsche Studies mostram o quanto essa leitura desmonta pretensões essencialistas de gênero. Ao cruzarem Nietzsche com decolonialidade, estudos de raça e teoria de gênero, esses autores demonstram que o filósofo pode servir à emancipação — exatamente o oposto da narrativa supremacista que o reduz a porta-voz da brutalidade.


Por fim, cresce uma camada de extensão pública que envolve clubes de leitura, podcasts, canais de YouTube e perfis de TikTok dedicados a verificar “Nietzsche ou fake?”. Livrarias independentes promovem noites de leitura de aforismos com cotejo ao Nietzsche Source; o projeto “Café com Nietzsche”, por exemplo, transmite debates ao vivo para milhares de usuários de 18 a 60 anos, repassando passo a passo como checar um fragmento antes de repostá-lo. Essas iniciativas convergem com a cultura de fact-checking: coletivos de educação midiática já incluem “teste do fac-símile” entre as oficinas para o ensino médio, mostrando que a filosofia também precisa de letramento informacional. Ao mesmo tempo, a chegada das novas traduções críticas ao mercado de língua portuguesa promete reduzir a dependência de compilações duvidosas, oferecendo texto limpo, notas contextuais e índices que facilitam a navegação intergeracional.


Nesse cruzamento de filologia, humanidades digitais e engajamento público, o Super-homem recupera seu sentido original de “além-do-homem” — um convite a superar ressentimentos e criar futuros, não a regressar a hierarquias fósseis. E, quanto mais leitores tiverem acesso ao manuscrito tal como Nietzsche o escreveu, menor será o espaço para que a extrema-direita continue ventriloquizando o filósofo que, ironicamente, chamou o nacionalismo de “doença infantil dos povos modernos”.


Conclusão


A saga do super-homem que nunca foi nazista revela a facilidade com que a política sequestra conceitos filosóficos para vestir velhas certezas com roupa de ideia nova. Do arquivo manipulado por uma irmã ambiciosa aos laboratórios de memes da alt-right, o Super-homem virou logotipo ideológico — enquanto o Nietzsche real segue conclamando à criação de valores sempre provisórios, avessos a toda tirania.

Resgatá-lo não é apenas um exercício de justiça histórica; é defesa do pensamento crítico num tempo de slogans virais. Como o próprio Nietzsche avisou, “as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”. Entender quem deturpa essas palavras — e por quê — é o primeiro passo para que elas voltem a significar exatamente o que ele pretendia: liberdade diante de todas as servidões, inclusive as que falam em seu nome.

FONTES:

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  2. BALL, Philip. Serving the Reich: The Struggle for the Soul of Physics under Hitler. London: Vintage, 2014.

  3. BUTLER, Judith. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. New York: Routledge, 1990.

  4. COLLI, Giorgio; MONTINARI, Mazzino (eds.). Nietzsche Werke: Kritische Gesamtausgabe. Berlin: De Gruyter, 1967-. (Edição crítica em andamento.)

  5. CONSELHO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS (Brasil). Relatório sobre Grupos de Extrema-Direita e Neonazismo no Brasil (2019-2024). Brasília, 2024.

  6. D’IORIO, Paolo (coord.). Nietzsche Source. Disponível em: https://www.nietzschesource.org. Acesso em: 5 jul. 2025.

  7. GNET – GLOBAL NETWORK ON EXTREMISM AND TECHNOLOGY. AI-Generated Propaganda and the Extreme Right. Londres, mar. 2024. Disponível em: https://gnet-research.org/2024/03/ai-generated-propaganda-extreme-right. Acesso em: 5 jul. 2025.

  8. GIACOIA JR., Oswaldo. Nietzsche, Super-Homem e Ética da Autossuperação. São Paulo: UNESP, 2020.

  9. ILLING, Sean. Why the Alt-Right keeps getting Nietzsche wrong. Vox, 11 maio 2017. Disponível em: https://www.vox.com/2017/5/11/alt-right-nietzsche-interpretation. Acesso em: 5 jul. 2025.

  10. LOS ANGELES TIMES (Editorial Board). Opinion: Stop misquoting Nietzsche to justify hate. Los Angeles Times, 7 jun. 2018. Disponível em: https://www.latimes.com/opinion/story/2018-06-07/misquoting-nietzsche. Acesso em: 5 jul. 2025.

  11. MBEMBE, Achille. Necropolítica. Tradução de Renata Santini. São Paulo: n-1 Edições, 2018.

  12. SILVA, João Henrique da. Dessubjetivação Memética: a disputa pelo sentido político nas redes brasileiras 2018-2022. 2024. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2024.

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