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Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo na Casa Branca em Washington DC - Foto: Reprodução X
Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo na Casa Branca em Washington DC - Foto: Reprodução X

Documentos da Procuradoria-Geral da República, dissecam a ousada e criminosa operação movida por Eduardo Bolsonaro e seu cúmplice, Paulo Figueiredo. A meta: usar o poder do Estado americano como um porrete contra a cabeça de ministros do Supremo Tribunal Federal para salvar Jair Bolsonaro da condenação. Não se trata de política, mas de um crime de coação despido de qualquer pudor, que inverte a lógica do "lawfare" para atentar contra o próprio Estado de Direito.


Por Raul Silva, para O estopim | 22 de setembro de 2025


Coação Geopolítica| entenda a denúncia da PGR contra Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo por pressão externa ao STF

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Coação Geopolítica: entenda a denúncia da PGR contra Eduardo BolsonaroO estopim

A denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o comunicador Paulo Figueiredo Filho é mais do que uma peça jurídica; é a crônica detalhada de um ataque sem precedentes à soberania nacional e à independência do Poder Judiciário.


A investigação, formalizada no Inquérito n. 4.995, revela uma trama onde a diplomacia foi sequestrada por interesses privados e a ameaça de sanções de uma potência estrangeira foi convertida em arma de coação. O objetivo, segundo a PGR, era um só, explícito e sistemático: forçar a absolvição de Jair Messias Bolsonaro, então réu na Ação Penal n. 2.668, subvertendo a relação histórica entre Brasil e Estados Unidos para servir a um projeto de poder familiar.


Entenda o esquema
Entenda o esquema

O documento da PGR é cirúrgico ao definir a natureza da "grave ameaça" empregada pelos denunciados. Diferente da coação tradicional, que se vale da violência física, a estratégia aqui foi mais sofisticada e, talvez, mais perversa. Tratou-se de uma "coação geopolítica", um constrangimento que, se concretizado, afetaria não apenas os magistrados, mas a economia e a estabilidade do Brasil.


A denúncia descreve uma campanha deliberada para criar um ambiente de pânico institucional, onde a decisão judicial deixaria de ser um ato de soberania para se tornar uma resposta ao medo de retaliações externas. Esta tática representa uma perigosa escalada, onde a integridade do sistema de justiça é colocada em xeque não por argumentos legais, mas por uma chantagem que usa o bem-estar da nação como refém.


Nas palavras da própria Procuradoria, a intimidação consistia em:


"usar de grave ameaça, consistente na promessa de ativação de medidas de retaliação pelo governo dos EUA contra o Brasil e contra autoridades brasileiras".

A denúncia detalha o arsenal de pressões que Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo alardearam ter à sua disposição, graças à sua íntima conexão com a extrema-direita trumpista, um lobby que operava à margem do Itamaraty. Este "gabinete diplomático paralelo" ignorou os canais oficiais do Estado brasileiro para negociar diretamente com seus aliados ideológicos nos EUA, tratando a política externa como uma ferramenta pessoal. O arsenal incluía:


  1. Aplicação da Lei Magnitsky: A mais dura das ameaças, que prevê o congelamento de ativos e a proibição de vistos para indivíduos acusados de corrupção ou violação de direitos humanos. A invocação dessa lei, criada para punir autocratas e violadores de direitos humanos em regimes fechados, contra juízes de uma corte suprema democrática seria um ato de agressão diplomática sem precedentes. A manobra visava colocar magistrados brasileiros na mesma lista que ditadores e terroristas internacionais, uma humilhação calculada para quebrar a resistência da corte e manchar irremediavelmente suas reputações. Os alvos, claro, seriam os ministros do STF.

  2. Imposição de Tarifas Comerciais: Uma retaliação direta contra a economia brasileira, visando gerar uma crise que pressionaria o governo e, por tabela, a Justiça. A ameaça não era vaga; implicava em prejuízos bilionários para setores vitais como o agronegócio e a indústria, transformando os empregos e a estabilidade econômica de milhões de brasileiros em moeda de troca pela impunidade de um homem. A estratégia era criar um caos social e econômico que pudesse ser atribuído à "intransigência" do Judiciário, fabricando uma crise para justificar a submissão da Justiça.

  3. Cancelamento de Vistos: Uma medida de constrangimento pessoal contra autoridades brasileiras, incluindo os próprios juízes da Suprema Corte e seus familiares. Mais do que um inconveniente, a medida buscaria isolar o Brasil no cenário internacional, alimentando a narrativa de que o país se tornara um pária democrático e reforçando a pressão sobre as instituições. Seria a materialização simbólica da perda de status do Brasil, afetando não apenas os alvos diretos, mas toda a classe política e diplomática do país.


Essa orquestração não era um mero blefe político. A PGR sustenta que os denunciados agiam com a convicção de que poderiam, de fato, acionar esses mecanismos. Paulo Figueiredo, em entrevista de 19 de março de 2025, transcrita na denúncia, chega a afirmar que as sanções não eram uma possibilidade, mas uma certeza, e que o processo já estava em andamento. "Figueiredo se apresenta como o porta-voz de um plano já em curso", crava a PGR, demonstrando a seriedade com que as ameaças eram proferidas e a confiança que a dupla depositava em sua rede de contatos na política americana, como o estrategista Steve Bannon, para levar a cabo o plano.



O verdadeiro e único objetivo: a Impunidade do Patriarca


A denúncia é implacável ao desnudar a motivação por trás da ofensiva. Não havia qualquer interesse público, defesa da democracia ou preocupação com a política externa brasileira. A PGR afirma textualmente que a dupla agiu:


"com o fim de favorecer interesse de Jair Messias Bolsonaro", pai de um e avô de outro, buscando "obter resultado absolutório na Ação Penal n. 2.668".

Inquérito n. 4.995 - BRASÍLIA - PGR
Inquérito n. 4.995 - BRASÍLIA - PGR

É a confissão de que o interesse nacional foi deliberadamente colocado em segundo plano, subordinado à agenda privada e judicial de um clã político. A soberania, nesse contexto, tornou-se um obstáculo a ser contornado, e não um princípio a ser defendido. Toda a engrenagem de pressão internacional foi montada com um propósito paroquial e privado: livrar o ex-presidente de uma condenação criminal.


Para a PGR, este é o "dolo específico" que qualifica o crime de coação no curso do processo, tipificado no artigo 344 do Código Penal. A lei, como a própria denúncia faz questão de ressaltar citando jurisprudência do STF:


"consuma-se com a prática da ameaça, independentemente de produzir o resultado pretendido pelo agente".

Ou seja, para a configuração do crime, basta a ameaça séria e verossímil; a intimidação em si já constitui a violação. A gravidade reside na tentativa de substituir o império da lei pela lei do mais forte, de envenenar a fonte da justiça com o medo de consequências políticas e econômicas.


As provas, ironicamente, foram fornecidas em abundância pelos próprios acusados. A denúncia é um compilado de declarações, posts em redes sociais e entrevistas onde a dupla não apenas admite a estratégia, como se vangloria dela. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, em publicação de 10 de janeiro de 2025, fala explicitamente em "consequências" para o Brasil caso a perseguição política, como ele se refere ao processo contra seu pai, não cessasse.


Leia na integra a Denúncia da PGR


A PGR analisa essa e outras manifestações como parte de uma "campanha de intimidação pública". Essa tática de publicidade não era acidental; visava criar uma dupla camada de pressão: uma direta, sobre os ministros, e outra indireta, ao mobilizar a base radicalizada com a narrativa de que o mundo estava ao seu lado, pronto para punir o Brasil.


A anatomia dessa coação geopolítica, dissecada pela PGR, expõe as profundezas da degradação a que o bolsonarismo submeteu as instituições e a soberania do Brasil. A denúncia não acusa apenas dois indivíduos, mas escancara um projeto de poder que não hesitou em tentar colocar a nação de joelhos perante uma potência estrangeira para satisfazer seus interesses mais imediatos e pessoais.


É a materialização de um patriotismo de fachada que, nos bastidores, negocia o próprio país em troca de impunidade. A palavra, agora, está com o Supremo Tribunal Federal, que decidirá não apenas o destino dos réus, mas a força da República diante daqueles que tentaram chantageá-la. O julgamento que se avizinha não é apenas sobre um crime de coação; é sobre se o Brasil aceita ter seu destino ditado por interesses que operam nas sombras, ou se reafirma sua soberania perante qualquer ameaça, interna ou externa.




 
 
 

A recente Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto de 2025, representa um marco histórico no combate ao crime organizado no Brasil, atingindo pela primeira vez de forma coordenada e sistemática a engenharia financeira das facções criminosas. Esta megaoperação, que mobilizou mais de 1.400 agentes federais e estaduais em oito estados, demonstra como o país evoluiu de uma resposta fragmentada para uma resposta organizada contra organizações criminosas que transcenderam as fronteiras da ilegalidade para infiltrar-se no coração do sistema financeiro nacional.

Crime Organizado, Resposta Organizada: A maior Operação da história contra o cér

Evolução do Crime Organizado e Resposta do Estado no Brasil (1979-2025)
Evolução do Crime Organizado e Resposta do Estado no Brasil (1979-2025)

A evolução do Crime Organizado: Da periferia à Faria Lima Crime Organizado, Resposta Organizada: A maior Operação da história contra o cér

Infiltração no Sistema Financeiro Nacional

Crime Organizado, Resposta Organizada: A maior Operação da história contra o cér

O crime organizado brasileiro, liderado principalmente pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e pelo Comando Vermelho (CV), passou por uma transformação radical nas últimas décadas. O que antes se limitava ao tráfico de drogas e crimes violentos nas periferias urbanas, hoje se caracteriza por uma sofisticada rede de lavagem de dinheiro que utiliza o sistema financeiro formal como principal instrumento de legitimação de recursos ilícitos.


A Avenida Faria Lima, epicentro do mercado financeiro brasileiro, tornou-se o símbolo desta nova realidade. Segundo a Receita Federal, foram identificados 40 fundos de investimento controlados por organizações criminosas, movimentando um patrimônio estimado em R$ 30 bilhões. Esta concentração de recursos criminosos no principal centro financeiro do país evidencia a capacidade de infiltração das facções em estruturas formais da economia.


Avenida Faria Lima em São Paulo, o centro financeiro da cidade com modernos edifícios comerciais e torres de escritórios 
Avenida Faria Lima em São Paulo, o centro financeiro da cidade com modernos edifícios comerciais e torres de escritórios 

As investigações revelaram um esquema altamente sofisticado que operava através de múltiplas camadas societárias e financeiras. O processo iniciava-se com a adulteração de combustíveis, utilizando metanol importado irregularmente pelo Porto de Paranaguá, e culminava na aplicação de recursos em fundos de investimento multimercado e imobiliários.


O esquema funcionava da seguinte forma: empresas do setor de combustíveis, controladas pelo crime organizado, sonegavam impostos sistematicamente e adulteravam produtos, gerando lucros bilionários. Estes recursos eram então canalizados através de fintechs, que funcionavam como "bancos paralelos", dificultando o rastreamento das operações. Finalmente, o dinheiro era investido em fundos sofisticados, criando uma blindagem patrimonial praticamente impenetrável.


A resposta coordenada: Integração interinstitucional

O novo Paradigma da Segurança Pública


A megaoperação de agosto de 2025 representa a materialização prática da filosofia consagrada no Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e na PEC da Segurança Pública. Pela primeira vez na história do país, foi possível uma atuação verdadeiramente integrada entre múltiplos órgãos federais e estaduais, demonstrando que a resposta ao crime organizado deve ser tão organizada quanto o próprio crime.


A operação envolveu uma força-tarefa sem precedentes, composta por: Polícia Federal, Receita Federal, Ministério da Justiça, Ministério da Fazenda, Agência Nacional do Petróleo, Ministérios Públicos Federal e Estaduais, além de polícias e MPs estaduais. Esta integração permitiu atacar simultaneamente diferentes aspectos da organização criminosa, desde a produção e distribuição de combustíveis até a sofisticada rede de lavagem de dinheiro.


Polícia Federal realiza operação integrada próxima a posto de controle aduaneiro para combater o crime organizado
Polícia Federal realiza operação integrada próxima a posto de controle aduaneiro para combater o crime organizado

Os números da operação demonstram a efetividade da abordagem coordenada: 200 mandados de busca e apreensão cumpridos contra 350 alvos em oito estados, resultando no bloqueio de mais de R$ 1 bilhão em bens e no sequestro de 21 fundos de investimento. Segundo o ministro Fernando Haddad, esta foi "a maior ação de combate ao crime organizado da história do Brasil", inaugurando uma nova forma de trabalho baseada na troca intensiva de informações entre órgãos estatais.


A operação conseguiu atingir o que as autoridades chamam de "cobertura do sistema do crime organizado", ou seja, as estruturas de comando e financiamento que sustentam as atividades ilícitas. Diferentemente de operações anteriores, que se concentravam na prisão de operadores de baixo escalão, a Operação Carbono Oculto logrou desmantelar a engenharia financeira que permitia às facções reinvestir e expandir suas atividades.


A Faria Lima como centro de lavagem de dinheiro

Vulnerabilidades do Sistema Financeiro


A investigação revelou que a infiltração criminosa na Faria Lima não foi um processo casual, mas resultado da exploração sistemática de vulnerabilidades regulatórias no sistema financeiro nacional. As fintechs, menos sujeitas à fiscalização que as instituições financeiras tradicionais, tornaram-se o elo fundamental na cadeia de lavagem de dinheiro.


Uma das principais vulnerabilidades identificadas foi o uso de "contas-bolsão", onde recursos de diferentes clientes eram misturados sem segregação adequada, impedindo a rastreabilidade das operações. Além disso, a ausência de obrigatoriedade de reportar detalhadamente as operações à Receita Federal criou um "núcleo financeiro paralelo" para atividades ilícitas.


Entre as instituições investigadas, destacam-se a Reag Investimentos, uma das maiores gestoras independentes do país e listada na B3, e a BK Bank, empresa de pagamentos que movimentou R$ 17,7 bilhões em operações suspeitas. A Reag, que inclusive nomeia um cinema em São Paulo, demonstra como o crime organizado conseguiu infiltrar-se em instituições aparentemente legítimas do mercado financeiro.


O caso da BK Bank é particularmente emblemático: sozinha, esta fintech movimentou mais de R$ 46 bilhões entre 2020 e 2024, funcionando como um verdadeiro "banco paralelo" do PCC. A empresa operava com contabilidade paralela, permitindo transferências entre empresas e pessoas físicas sem identificação dos beneficiários finais.


Polícia Federal e Polícia Civil realizam em conjunto operação coordenada contra o crime organizado no Brasil
Polícia Federal e Polícia Civil realizam em conjunto operação coordenada contra o crime organizado no Brasil 

O setor de combustíveis: Portal de entrada do crime

A Cadeia Produtiva comprometida


A escolha do setor de combustíveis como ponto de entrada na economia formal não foi acidental. Segundo as autoridades, este setor apresenta falhas estruturais de regulação e fiscalização que facilitam práticas ilegais. O esquema criminoso comprometeu toda a cadeia produtiva: importação, refino, distribuição, transporte e fornecimento final ao consumidor.


ESQUEMA FINANCEIRO DO PCC

Categoria

Valor em bilhões

Movimentação Total (2020-2024)

52.0

Patrimônio em Fundos Identificados

30.0

Sonegação Fiscal Federal

1.4

Sonegação Fiscal Estadual

7.67

Movimentação por Fintech

46.0

Importações Irregulares

10.0

O metanol, produto altamente inflamável e tóxico importado irregularmente, era utilizado para adulterar combustíveis, gerando lucros bilionários à organização criminosa. Além da adulteração qualitativa, os postos praticavam a chamada "bomba baixa", em que o volume abastecido era inferior ao indicado, lesando diretamente os consumidores.


As dimensões do esquema são impressionantes: entre 2020 e 2024, mais de R$ 10 bilhões em combustíveis foram importados pelos criminosos, com movimentação total de R$ 52 bilhões através de postos ligados à facção. A sonegação fiscal alcançou R$ 8,67 bilhões em tributos federais e R$ 7,67 bilhões em tributos estaduais.


Foram identificados mais de 1.000 postos de combustível envolvidos no esquema, sendo que cerca de 300 postos praticavam fraudes quantitativas e qualitativas, enquanto 140 postos funcionavam como empresas-fachada. O impacto é estimado em aproximadamente 30% dos postos em todo o estado de São Paulo.


A PEC da Segurança Pública: Institucionalização da Resposta Coordenada

Constitucionalização do SUSP


O sucesso da Operação Carbono Oculto reforça a necessidade de aprovação da PEC da Segurança Pública, que visa constitucionalizar o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). A proposta, entregue ao Congresso Nacional em abril de 2025, estabelece a coordenação federal de ações contra o crime organizado, integrando polícias estaduais, forças federais e órgãos de controle.


A PEC representa uma mudança paradigmática na arquitetura da segurança pública brasileira, reconhecendo que a criminalidade organizada transcende fronteiras estaduais e exige uma resposta igualmente articulada. Como destacou o ministro Ricardo Lewandowski, "contra o crime organizado, tem de dar uma resposta organizada".


OPERAÇÕES CONTRA O CRIME ORGANIZADO EM 2025

Operação

Valores bloqueados em bilhões

Mandados busca

Alvos investigados

Estados envolvidos

Fundos bloqueados

Carbono Oculto

7.67

200

350

8

40

Quasar

1.2

12

50

3

21

Tanque

1.0

42

296

3

0

A constitucionalização do SUSP prevê a criação de mecanismos permanentes de coordenação, incluindo o compartilhamento obrigatório de dados e informações de inteligência, a realização de operações conjuntas e o desenvolvimento de políticas nacionais de combate ao crime organizado. A proposta também estabelece a competência da União para editar normas gerais sobre segurança pública, uniformizando a atuação das entidades federativas.


Um dos aspectos mais inovadores da PEC é a previsão de corregedorias e ouvidorias autônomas, garantindo maior transparência e controle social sobre as atividades policiais. Além disso, a proposta inclui as guardas municipais como parte integrante do sistema de segurança pública, reconhecendo seu papel crescente no combate à criminalidade.


Desafios da Implementação

Resistências e Obstáculos


Apesar dos avanços demonstrados pela operação de agosto de 2025, a implementação de uma resposta verdadeiramente coordenada ao crime organizado enfrenta diversos desafios. O primeiro deles é de natureza institucional: a tradição federativa brasileira, que confere ampla autonomia aos estados em matéria de segurança pública, pode gerar resistências à coordenação federal.


O segundo desafio é tecnológico e operacional. A integração efetiva entre diferentes órgãos exige sistemas de informação compatíveis, protocolos padronizados de atuação e treinamento específico para os agentes. A criação de plataformas tecnológicas seguras para intercâmbio de dados representa um investimento considerável e contínuo.


O financiamento adequado das ações integradas constitui outro desafio significativo. Embora o governo federal tenha anunciado programas de investimento, como o de R$ 900 milhões para enfrentar organizações criminosas, a sustentabilidade financeira das operações coordenadas depende da participação efetiva de todos os entes federativos.


A experiência internacional mostra que o sucesso no combate ao crime organizado está diretamente relacionado à capacidade de investimento sustentado em inteligência, tecnologia e capacitação profissional. O Brasil precisará encontrar um modelo de financiamento que garanta recursos suficientes para manter a pressão sobre as organizações criminosas.


Perspectivas Futuras

Expansão do Modelo


O modelo de resposta coordenada demonstrado na Operação Carbono Oculto deve servir de paradigma para futuras ações contra o crime organizado. A experiência acumulada nesta operação fornece elementos valiosos para o aperfeiçoamento dos mecanismos de coordenação interinstitucional e para o desenvolvimento de protocolos mais eficientes de atuação conjunta.


A expansão geográfica do modelo também é essencial. Considerando que os estados do Sul e Sudeste concentram cerca de 70% dos mercados ilícitos do país, a integração regional através de iniciativas como o Cosud (Consórcio de Integração Sul e Sudeste) e o SULMaSSP representa um caminho promissor.


O caráter transnacional do crime organizado exige uma dimensão internacional na resposta coordenada. O Brasil deve aprofundar sua participação em redes internacionais de combate ao crime organizado, implementando os mecanismos previstos na Convenção de Palermo e fortalecendo a cooperação jurídica internacional.


A experiência brasileira na Operação Carbono Oculto pode servir de modelo para outros países da América Latina que enfrentam desafios similares de infiltração do crime organizado no sistema financeiro. O desenvolvimento de protocolos regionais de cooperação representa uma oportunidade de liderança brasileira no combate ao crime transnacional.


Operação histórica


A Operação Carbono Oculto marca uma inflexão histórica na resposta brasileira ao crime organizado, demonstrando que é possível atingir o "cérebro financeiro" das organizações criminosas através de uma atuação verdadeiramente coordenada. O sucesso da operação valida a filosofia da resposta organizada contra o crime organizado, materializando na prática os princípios do Sistema Único de Segurança Pública.


A infiltração do crime organizado na Faria Lima e no sistema financeiro nacional representa um desafio sem precedentes, mas também uma oportunidade para o Brasil desenvolver capacidades institucionais mais robustas e integradas. A aprovação da PEC da Segurança Pública pelo Congresso Nacional é fundamental para institucionalizar e dar sustentabilidade jurídica a este novo modelo de atuação.


O recado está dado: ninguém está acima da lei, nem mesmo as organizações criminosas que se infiltraram no coração do sistema financeiro brasileiro. A resposta do Estado, quando coordenada e sistemática, pode atingir os pontos mais sensíveis das estruturas criminosas, desarticulando sua capacidade de financiamento e expansão. O desafio agora é transformar este sucesso pontual em uma política permanente de Estado, garantindo que a resposta organizada ao crime organizado seja uma realidade duradoura na defesa da ordem democrática e da economia legal brasileira.

 
 
 
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