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Por Raul Silva - Radar Literário


Ler é um prazer, mas, por vezes, a experiência pode se tornar frustrante. Você começa um livro com grandes expectativas, mas logo se vê desmotivado, desinteressado ou até mesmo incomodado. A questão surge: devo continuar lendo ou parar por aqui? Essa é uma dúvida comum entre os leitores e uma pergunta válida para qualquer amante da literatura. Afinal, com tantas opções de livros disponíveis, como saber se vale a pena insistir em uma obra que não está agradando?


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A leitura é um processo altamente pessoal e subjetivo. O que pode ser uma obra-prima para um leitor pode ser uma experiência de leitura desgastante para outro. Além disso, é importante compreender que a leitura não precisa ser uma tarefa árdua, mas um prazer. Portanto, quando o desânimo começa a surgir, a decisão de continuar ou abandonar o livro deve ser tomada com base em um equilíbrio entre o prazer de ler e o investimento de tempo e energia.


No entanto, como saber se vale a pena insistir na leitura de um livro que não está conquistando? Para chegar a essa resposta, é fundamental entender alguns fatores que influenciam nossa experiência literária e os mecanismos que entram em jogo ao avaliar a continuidade de um livro.


Primeiramente, é importante considerar o motivo pelo qual a leitura não está fluindo. Às vezes, a falta de conexão com um livro pode estar relacionada ao gênero ou estilo literário. Por exemplo, se você gosta de romances históricos e se depara com uma obra de ficção científica, a chance de não se engajar com a trama é grande. Ou, talvez, você esteja esperando algo mais leve e divertido, mas se depara com uma narrativa densa e filosófica. Nesse caso, é natural que a experiência de leitura se torne mais difícil. Porém, isso não significa que o livro em si seja ruim, mas talvez não seja o momento certo para esse tipo de leitura. O fato de não se conectar com o livro de imediato não significa que você deve abandoná-lo por completo, mas sim que talvez seja necessário fazer uma pausa e tentar em outro momento, quando o contexto pessoal ou emocional estiver mais alinhado com a proposta da obra.


Outro ponto relevante é o estilo de escrita do autor. A forma como um autor escreve pode ser um dos principais motivos pelos quais você não está gostando do livro. Se o autor adota uma linguagem muito rebuscada ou uma narrativa excessivamente fragmentada, pode ser difícil se concentrar na história. Alguns leitores preferem uma escrita mais direta e envolvente, enquanto outros buscam a profundidade e complexidade da linguagem. Se o estilo de um livro não ressoa com seu gosto pessoal, talvez seja um sinal de que a obra não é para você. No entanto, se você sentir que a obra tem um conteúdo rico ou uma trama interessante, pode ser que o desafio de lidar com o estilo do autor seja recompensado com uma imersão mais profunda no livro. Se o desinteresse continuar, a solução pode ser deixar o livro de lado, sem culpa, e seguir em frente.


Além disso, a conexão emocional com os personagens é um dos pilares de qualquer boa leitura. Se você não se sente cativado pelos personagens, seja por falta de empatia ou por uma construção rasa dos mesmos, a leitura pode se tornar monótona e sem graça. Quando você investe tempo em acompanhar a jornada dos personagens, espera sentir algo – uma emoção, uma identificação ou até mesmo uma reflexão. Se isso não acontecer, o desinteresse pode ser um sinal de que o livro não está cumprindo o seu papel de conectar o leitor à narrativa. Se, no entanto, você achar que a trama tem um grande potencial, mas o desenvolvimento dos personagens ainda não chegou a um ponto interessante, pode ser válido continuar lendo para ver se eles ganham mais profundidade à medida que a história avança.


Outro fator que influencia muito a decisão de seguir lendo ou não é a progressão da trama. Em muitos livros, a narrativa demora a engatar ou leva um tempo para que os eventos se tornem mais envolventes. Essa estrutura mais lenta, por vezes, pode gerar frustração no leitor, que espera um ritmo mais acelerado. Nesses casos, a decisão de continuar deve ser baseada na percepção de que o livro tem algo a oferecer. Se você já leu várias páginas ou capítulos e o ritmo ainda não melhorou, é possível que o livro não se encaixe nas suas expectativas. No entanto, se você sentir que a obra tem algo importante a revelar e que o desenrolar dos eventos é apenas uma construção necessária, pode ser válido insistir. Muitas vezes, o clímax da história só se revela mais à frente, e esse investimento na leitura inicial pode valer a pena no futuro.


Por outro lado, é importante saber quando realmente não vale mais a pena continuar. Se a leitura se tornou uma obrigação, se você está simplesmente folheando as páginas sem se envolver com o conteúdo ou se a história não desperta nenhuma curiosidade, é um sinal de que talvez seja hora de abandonar o livro sem remorso. Em casos como esses, insistir na leitura não trará benefícios, mas apenas aumentará a sensação de frustração. A literatura deve ser prazerosa, e forçar uma leitura desinteressante pode prejudicar sua relação com os livros de maneira geral.


Outro ponto importante é o fator tempo. Se você já tentou ler o livro por várias vezes e a experiência de leitura continua sem gerar prazer, é possível que o tempo investido não seja compensador. Às vezes, as responsabilidades do dia a dia ou até mesmo outros livros mais atraentes podem tornar o seu interesse na obra ainda mais distante. Nesse caso, talvez seja hora de deixar o livro de lado e procurar algo que desperte sua atenção de imediato. É essencial reconhecer que o tempo de leitura também é valioso, e forçar uma leitura que não traz satisfação pode interferir no seu prazer com os livros.


Entretanto, se o livro tem algo que o atrai – seja uma escrita envolvente, uma história intrigante ou uma reflexão profunda – pode ser válido insistir na leitura, dando tempo para que a obra amadureça e se revele. Às vezes, o engajamento com o livro cresce gradualmente, e a recompensa por continuar pode ser grande no final.


Não há certo ou errado quando se trata de ler um livro. O mais importante é perceber quando a leitura se torna um fardo e quando o prazer de descobrir uma nova história ainda existe. Se você sentir que vale a pena, siga em frente. Caso contrário, não hesite em deixar o livro para trás e buscar uma nova experiência literária que seja mais gratificante. Afinal, a literatura deve ser algo que nos move, nos provoca e, acima de tudo, nos encanta.


 
 
 
  • Foto do escritor: Raul Silva
    Raul Silva
  • 1 de jan. de 2019
  • 4 min de leitura

Atualizado: 29 de dez. de 2024

Sabe quando você se depara com um texto que aparentemente foi exagerado para se tornar mais dramático ao leitor? Pois é o que acontece aqui, os relatos são muito interessantes, mas às vezes, parece que estou lendo o roteiro de uma série de TV e não o relato de um médico patologista sobre um caso real.


Não que o livro seja de todo ruim, afinal, é preciso tornar o texto “entendível” para leigos da patologia forense e esse é sem dúvida um dos pontos fortes do livro. Contudo, muitas vezes, parece exagerado demais e o texto fica mais parecido com um documentário sensacionalista do Discovery do que com um livro com histórias reais. O autor, ou autores, acabam por sua vez, ganhando pontos com o leitor por escolherem uma forma simples de contar as histórias, fazendo uso vários paralelos com outros casos famosos e de grande repercussão na construção do texto. O que faz com que o livro acabe se saindo bem mais narrativo do que eu pensei que seria a primeira vista.

A narrativa começa com um caso de assassinato de um jovem rapaz negro que foi morto por um homem branco, o que acaba gerando uma grande repercussão nos EUA, principalmente com questões sobre as armas e a luta pelos direitos civis da comunidade afro-americana e termina com um polêmica envolvendo a morte de Vincent Van Gogh. O panorama dos casos é traçado de uma maneira bastante “romantizada”, a única coisa que realmente leva o leitor a ter um frio na barriga é o fato de estes casos serem reais. O livro, na verdade, lembra bastante aqueles documentários do History Channel sobre crimes bárbaros ou perseguições históricas a seriais killers.

O Dr. Di Maio adota uma mesma fórmula ao longo de todo o livro: explana a partir do crime e do que aconteceu, passando pelo ocorrido no dia do crime, pela história da vítima – ou vítimas – e todos os envolvidos no caso, até como a mídia influencia as pessoas com suas próprias deliberações que não vão além do que se diz sobre o que aconteceu, muitas vezes sem examinar os fatos, formando “detetives/investigadores de poltrona” como o próprio autor chama as pessoas que emitem opiniões sobre assuntos que não compreendem ou não têm conhecimento suficiente para compreender. A partir disso ele discorre sobre os aspectos forenses do caso e explica como chegou as conclusões sobre o ocorrido através dos métodos científicos, sempre salientando a imparcialidade da ciência e do perito forense.

A forma de expor os casos é muito interessante e visa a total compreensão do leitor, de modo que, apesar de ser um livro meio técnico sobre crimes, investigação e patologia forense, é muito simples entender como funcionam as investigações e como ocorreram os crimes. Porém, apesar de ser bastante fluído, o livro peca com repetições desnecessárias de informação. Por exemplo, os autores deixam bem claro, o tempo todo, que têm segurança naquilo que estão dizendo e que dominam o assunto. Porém, ficar reafirmando inúmeras vezes o compromisso que têm com a verdade das provas, meio que da margem a algumas interpretações como a de que dizem isso apenas pra se resguardar de processos futuros ou que na verdade estão mais preocupados com suas carreiras, não com os casos, e que dizem isso apenas na tentativa de convencer o leitor a não pensar o contrário. No final eu fiquei meio na dúvida se deveria ou não acreditar no que dizem. O livro, por fim, acaba se transformando em um documento de defesa ao trabalho do patologista forense, que na visão dos autores é baste mal visto pela comunidade médica e muitas vezes mal compreendido pela comunidade jurídica.

Outro aspecto que me deixa com a pulga atrás da orelha, é a tendência do Dr. Vincent di Maio parecer ser meio arrogante e cheio de si em alguns trechos. A impressão que fica é de como se o trabalho de outros nunca fosse tão bom quanto o dele. Não sei se isso se deve a tradução do texto ou a escrita do coautor Ron Francell, mas essa é a sensação que tive em muitas partes do livro. Porém, em outros momentos, o mesmo também se revela bastante humano e emotivo em relação aos aspectos do caso e das pessoas envolvidas. Dessa forma, não consegui formar uma opinião a respeito dele.

No final, o que posso dizer com certeza é que o livro nos dá um novo olhar sobre o trabalho do patologista forense que, em algumas ocasiões, é retratado como um esquisitão que aparenta ter um fetiche com a morte e em outras como um super-herói que precisa resolver sozinho o quebra-cabeça com suas ferramentas tecnológicas de alto nível, por que os outros são incapazes disso. Nesse ponto, os autores foram eficientemente capazes de nos mostrar a verdadeira face desse trabalho, suas principais dificuldades longe das soluções milagrosas das séries de TV, mostrando que nem tudo é como pinta CSI.

Raul G. M. Silva.

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