top of page
Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo na Casa Branca em Washington DC - Foto: Reprodução X
Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo na Casa Branca em Washington DC - Foto: Reprodução X

Documentos da Procuradoria-Geral da República, dissecam a ousada e criminosa operação movida por Eduardo Bolsonaro e seu cúmplice, Paulo Figueiredo. A meta: usar o poder do Estado americano como um porrete contra a cabeça de ministros do Supremo Tribunal Federal para salvar Jair Bolsonaro da condenação. Não se trata de política, mas de um crime de coação despido de qualquer pudor, que inverte a lógica do "lawfare" para atentar contra o próprio Estado de Direito.


Por Raul Silva, para O estopim | 22 de setembro de 2025


Coação Geopolítica| entenda a denúncia da PGR contra Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo por pressão externa ao STF

Audio cover
Coação Geopolítica: entenda a denúncia da PGR contra Eduardo BolsonaroO estopim

A denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o comunicador Paulo Figueiredo Filho é mais do que uma peça jurídica; é a crônica detalhada de um ataque sem precedentes à soberania nacional e à independência do Poder Judiciário.


A investigação, formalizada no Inquérito n. 4.995, revela uma trama onde a diplomacia foi sequestrada por interesses privados e a ameaça de sanções de uma potência estrangeira foi convertida em arma de coação. O objetivo, segundo a PGR, era um só, explícito e sistemático: forçar a absolvição de Jair Messias Bolsonaro, então réu na Ação Penal n. 2.668, subvertendo a relação histórica entre Brasil e Estados Unidos para servir a um projeto de poder familiar.


Entenda o esquema
Entenda o esquema

O documento da PGR é cirúrgico ao definir a natureza da "grave ameaça" empregada pelos denunciados. Diferente da coação tradicional, que se vale da violência física, a estratégia aqui foi mais sofisticada e, talvez, mais perversa. Tratou-se de uma "coação geopolítica", um constrangimento que, se concretizado, afetaria não apenas os magistrados, mas a economia e a estabilidade do Brasil.


A denúncia descreve uma campanha deliberada para criar um ambiente de pânico institucional, onde a decisão judicial deixaria de ser um ato de soberania para se tornar uma resposta ao medo de retaliações externas. Esta tática representa uma perigosa escalada, onde a integridade do sistema de justiça é colocada em xeque não por argumentos legais, mas por uma chantagem que usa o bem-estar da nação como refém.


Nas palavras da própria Procuradoria, a intimidação consistia em:


"usar de grave ameaça, consistente na promessa de ativação de medidas de retaliação pelo governo dos EUA contra o Brasil e contra autoridades brasileiras".

A denúncia detalha o arsenal de pressões que Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo alardearam ter à sua disposição, graças à sua íntima conexão com a extrema-direita trumpista, um lobby que operava à margem do Itamaraty. Este "gabinete diplomático paralelo" ignorou os canais oficiais do Estado brasileiro para negociar diretamente com seus aliados ideológicos nos EUA, tratando a política externa como uma ferramenta pessoal. O arsenal incluía:


  1. Aplicação da Lei Magnitsky: A mais dura das ameaças, que prevê o congelamento de ativos e a proibição de vistos para indivíduos acusados de corrupção ou violação de direitos humanos. A invocação dessa lei, criada para punir autocratas e violadores de direitos humanos em regimes fechados, contra juízes de uma corte suprema democrática seria um ato de agressão diplomática sem precedentes. A manobra visava colocar magistrados brasileiros na mesma lista que ditadores e terroristas internacionais, uma humilhação calculada para quebrar a resistência da corte e manchar irremediavelmente suas reputações. Os alvos, claro, seriam os ministros do STF.

  2. Imposição de Tarifas Comerciais: Uma retaliação direta contra a economia brasileira, visando gerar uma crise que pressionaria o governo e, por tabela, a Justiça. A ameaça não era vaga; implicava em prejuízos bilionários para setores vitais como o agronegócio e a indústria, transformando os empregos e a estabilidade econômica de milhões de brasileiros em moeda de troca pela impunidade de um homem. A estratégia era criar um caos social e econômico que pudesse ser atribuído à "intransigência" do Judiciário, fabricando uma crise para justificar a submissão da Justiça.

  3. Cancelamento de Vistos: Uma medida de constrangimento pessoal contra autoridades brasileiras, incluindo os próprios juízes da Suprema Corte e seus familiares. Mais do que um inconveniente, a medida buscaria isolar o Brasil no cenário internacional, alimentando a narrativa de que o país se tornara um pária democrático e reforçando a pressão sobre as instituições. Seria a materialização simbólica da perda de status do Brasil, afetando não apenas os alvos diretos, mas toda a classe política e diplomática do país.


Essa orquestração não era um mero blefe político. A PGR sustenta que os denunciados agiam com a convicção de que poderiam, de fato, acionar esses mecanismos. Paulo Figueiredo, em entrevista de 19 de março de 2025, transcrita na denúncia, chega a afirmar que as sanções não eram uma possibilidade, mas uma certeza, e que o processo já estava em andamento. "Figueiredo se apresenta como o porta-voz de um plano já em curso", crava a PGR, demonstrando a seriedade com que as ameaças eram proferidas e a confiança que a dupla depositava em sua rede de contatos na política americana, como o estrategista Steve Bannon, para levar a cabo o plano.



O verdadeiro e único objetivo: a Impunidade do Patriarca


A denúncia é implacável ao desnudar a motivação por trás da ofensiva. Não havia qualquer interesse público, defesa da democracia ou preocupação com a política externa brasileira. A PGR afirma textualmente que a dupla agiu:


"com o fim de favorecer interesse de Jair Messias Bolsonaro", pai de um e avô de outro, buscando "obter resultado absolutório na Ação Penal n. 2.668".

Inquérito n. 4.995 - BRASÍLIA - PGR
Inquérito n. 4.995 - BRASÍLIA - PGR

É a confissão de que o interesse nacional foi deliberadamente colocado em segundo plano, subordinado à agenda privada e judicial de um clã político. A soberania, nesse contexto, tornou-se um obstáculo a ser contornado, e não um princípio a ser defendido. Toda a engrenagem de pressão internacional foi montada com um propósito paroquial e privado: livrar o ex-presidente de uma condenação criminal.


Para a PGR, este é o "dolo específico" que qualifica o crime de coação no curso do processo, tipificado no artigo 344 do Código Penal. A lei, como a própria denúncia faz questão de ressaltar citando jurisprudência do STF:


"consuma-se com a prática da ameaça, independentemente de produzir o resultado pretendido pelo agente".

Ou seja, para a configuração do crime, basta a ameaça séria e verossímil; a intimidação em si já constitui a violação. A gravidade reside na tentativa de substituir o império da lei pela lei do mais forte, de envenenar a fonte da justiça com o medo de consequências políticas e econômicas.


As provas, ironicamente, foram fornecidas em abundância pelos próprios acusados. A denúncia é um compilado de declarações, posts em redes sociais e entrevistas onde a dupla não apenas admite a estratégia, como se vangloria dela. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, em publicação de 10 de janeiro de 2025, fala explicitamente em "consequências" para o Brasil caso a perseguição política, como ele se refere ao processo contra seu pai, não cessasse.


Leia na integra a Denúncia da PGR


A PGR analisa essa e outras manifestações como parte de uma "campanha de intimidação pública". Essa tática de publicidade não era acidental; visava criar uma dupla camada de pressão: uma direta, sobre os ministros, e outra indireta, ao mobilizar a base radicalizada com a narrativa de que o mundo estava ao seu lado, pronto para punir o Brasil.


A anatomia dessa coação geopolítica, dissecada pela PGR, expõe as profundezas da degradação a que o bolsonarismo submeteu as instituições e a soberania do Brasil. A denúncia não acusa apenas dois indivíduos, mas escancara um projeto de poder que não hesitou em tentar colocar a nação de joelhos perante uma potência estrangeira para satisfazer seus interesses mais imediatos e pessoais.


É a materialização de um patriotismo de fachada que, nos bastidores, negocia o próprio país em troca de impunidade. A palavra, agora, está com o Supremo Tribunal Federal, que decidirá não apenas o destino dos réus, mas a força da República diante daqueles que tentaram chantageá-la. O julgamento que se avizinha não é apenas sobre um crime de coação; é sobre se o Brasil aceita ter seu destino ditado por interesses que operam nas sombras, ou se reafirma sua soberania perante qualquer ameaça, interna ou externa.




 
 
 

O julgamento da tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal chega ao seu momento mais decisivo nesta quinta-feira, 11 de setembro de 2025, com o voto aguardado da ministra Cármen Lúcia. Após a extensa divergência de Luiz Fux na véspera - que durante quase 14 horas defendeu a absolvição de seis dos oito réus, incluindo Jair Bolsonaro - a expectativa é de que a magistrada forme a maioria necessária para a condenação do ex-presidente e reestabeleça a firmeza institucional do STF frente aos ataques sistemáticos da extrema-direita brasileira.


Ministra Cármem Lúcia - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Ministra Cármem Lúcia - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O voto surpreendente de Fux e suas implicações


O extenso voto de Luiz Fux na quarta-feira, 10 de setembro, surpreendeu até mesmo seus colegas da Primeira Turma do STF. A avaliação interna era de que o ministro divergiria apenas na dosimetria das penas ou na absorção de crimes, mas não chegaria ao ponto de questionar a própria existência dos delitos.


"O voto do Fux foi muito além do que imaginávamos. O estranho é que ele condena o ajudante de ordens, mas não quem dava as ordens, o ex-presidente Bolsonaro", confessou um ministro da Primeira Turma.

Esta incoerência lógica foi particularmente evidenciada pela decisão de Fux de condenar Mauro Cid - cuja delação validou - e Walter Braga Netto por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, enquanto absolvia Bolsonaro de todos os crimes. Como observou outro ministro, "pelo voto de Fux, o golpe seria dado pelos militares", ignorando as reuniões de Bolsonaro com comandantes militares para discutir a minuta golpista, das quais nem Cid nem Braga Netto participaram.


Durante as 13 horas de voto, os demais ministros demonstraram crescente desconforto e cansaço, chegando alguns a cochilar durante a exposição. Fux chegou a pedir para não ser interrompido, numa tentativa de evitar contestações de seus colegas. "Na visão de interlocutores dos demais ministros, Fux está 'ilhado' na primeira turma", isolamento simbolizado pela ausência do ministro na convivência com os colegas durante os intervalos.


Cármen Lúcia: perfil de uma defensora da Democracia


Cármen Lúcia Antunes Rocha, de 70 anos, natural de Montes Claros, Minas Gerais, integra o STF desde 2006, quando foi indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sua trajetória no tribunal tem sido marcada por posições progressistas em temas sensíveis, mesmo quando contrariam suas convicções religiosas pessoais. No julgamento sobre aborto de fetos anencéfalos (2012), votou contra a criminalização; na união homoafetiva, defendeu igualdade de direitos sem ressalvas; e apoiou pesquisas com células-tronco.


Durante sua passagem pela presidência do TSE (2012-2013), o tribunal bateu recordes em número de julgamentos, processando 14.048 casos em 2012, dos quais 10.290 foram julgados (73%). Este rigor técnico e produtivo marca sua gestão em todas as instâncias onde atua.


Em 2018, durante uma palestra sobre os 30 anos da Constituição, Cármen Lúcia já demonstrava preocupação com o avanço da extrema-direita.


"Estamos vivendo uma mudança, não só no Brasil. Uma mudança, inclusive, conservadora em termos de costumes. Às vezes, na minha compreensão de mundo, que pode não ser a correta, [uma mudança] perigosamente conservadora".

A ministra manifestou inquietação com as "opções feitas" pelo povo brasileiro, embora respeitasse como "escolhas próprias de cidadãos livres". Esta fala, proferida semanas antes da eleição de Bolsonaro, demonstra sua antecipação aos riscos que a ascensão do extremismo político representaria para a democracia brasileira.


O papel de Cármen Lúcia na inelegibilidade de Bolsonaro


Em junho de 2023, Cármen Lúcia foi responsável por formar a maioria que tornou Bolsonaro inelegível por oito anos no TSE. Seu voto, que durou mais de 100 páginas, foi categórico na condenação do ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante a reunião com embaixadores em julho de 2022.


"Fatos são incontroversos", declarou a ministra ao analisar como Bolsonaro "utilizou a estrutura física do Palácio da Alvorada" e "a TV Brasil para transmitir o evento" onde atacou o sistema eletrônico de votação. Para ela, houve "uso indevido da máquina pública" e uma "ocorrência comprovada, não contestada" que poderia interromper a "normalidade e legitimidade do pleito eleitoral".


Na decisão do TSE, Cármen Lúcia destacou que:


"houve muitos ataques ao poder Judiciário, na figura de alguns de seus integrantes, mas até mesmo que sequer o Poder Executivo foram respeitados".

A ministra criticou o fato de o então ministro das Relações Exteriores sequer ter sido informado da reunião, demonstrando que:


"a organização se deu por um grupo pequeno, ligado ao então presidente da República, com um objetivo muito específico para apresentar o seu monólogo".

A resposta de Cármen Lúcia às propostas de anistia


Em março de 2024, quando questionada sobre as propostas de anistia para os golpistas, Cármen Lúcia foi enfática em sua rejeição.


"Eu acho que anistia tem um sentido humanitário. Cada instituto no direito tem uma finalidade, não pode haver desvio de finalidade".

Para a ministra, a anistia é:


"um instituto que vem para dar um caráter humanitário a determinadas situações, nas quais as penas sejam consideradas indevidas ou desumanas". "Não me parece que é o caso".

Durante a mesma entrevista, Cármen Lúcia classificou como "gravíssimo" o plano golpista revelado pela Polícia Federal.


"Sobre essas mentiras todas criadas – e no caso de golpe, que é gravíssimo. Só estamos falando disso porque o golpe não deu certo. Se tivesse, eu por exemplo seria um dos alvos preferenciais".

O voto Anterior de Cármen Lúcia: sinalizações claras


Em março de 2025, ao votar para tornar Bolsonaro e outros sete réus na ação penal, Cármen Lúcia já havia sinalizado claramente sua posição.


"Felizmente, o golpe não deu certo. Temos democracia no Brasil. Temos um Supremo atuando como sempre atuou", declarou na ocasião.

A ministra foi categórica ao afirmar que os atos de 8 de janeiro:


"não foram uma coincidência, nem uma festinha de domingo". "Alguém planejou, alguém tentou, alguém executou. É preciso que o Brasil saiba o que aconteceu e quem praticou o crime tem que pagar pelo crime cometido".

Em seu voto de março, a ministra descreveu detalhadamente o que chamou de:


"máquina do golpe". "Um golpe não se faz em um dia nem acaba em uma semana. É uma máquina que vai sendo montada". Para ela, "a máquina funcionando para desacreditar o que é da confiança do cidadão" demonstrava a sistematicidade dos ataques à democracia.

"Para que mais uma vez o Brasil não tenha uma tentativa de golpe de estado, como nós já tivemos golpes de estado, em 37, 64, e que nada se faça. E depois esta máquina de desmontar a democracia continue a reverberar", justificou sua decisão de tornar os acusados réus.

Durante os debates da semana passada, uma pergunta de Cármen Lúcia tornou-se emblemática e prenunciou o teor de seu voto. Ao advogado Andrew Fernandes, que defendia Paulo Sérgio Nogueira argumentando que seu cliente tentava "demover" Bolsonaro de medidas extremas, a ministra questionou cirurgicamente: "Demover de quê?".


Quando o advogado respondeu "De qualquer medida de exceção", inadvertidamente confessou que havia, de fato, a intenção golpista que precisava ser desestimulada. A ministra completou: "Porque até agora todo mundo diz que ninguém pensou nada, cogitou nada...", expondo a contradição das teses defensivas.


As expectativas para o voto de hoje


Ministros da Primeira Turma esperam um voto "lapidar" de Cármen Lúcia nesta quinta-feira, "em contraponto ao posicionamento do ministro Luiz Fux". Para os integrantes do colegiado, é esperado que a ministra faça um pronunciamento "diametralmente oposto" ao de Fux, com uma "enfática defesa da democracia".


Os colegas avaliam que Cármen será "cirúrgica, mas sem expor o companheiro de atividade judicial", mantendo o decoro institucional enquanto reestabelece a firmeza jurídica necessária.


A ministra tem:


"histórico de duras falas em defesa da democracia e do Estado democrático de Direito, proferidas ao longo de toda a sua carreira".

Durante o julgamento do recebimento da denúncia, ela classificou como "gravíssimos" os atos de 8 de janeiro e afirmou ser preciso barrar a "máquina de desmontar a democracia" na história do país.


Embora não cite diretamente figuras como Tarcísio de Freitas, o padrão de manifestações de Cármen Lúcia indica uma resposta firme aos ataques que o governador de São Paulo tem dirigido ao STF. Seus posicionamentos consistentes sobre "mudanças perigosamente conservadoras" e a necessidade de preservar "liberdades humanas e direitos fundamentais" estabelecem um contraponto claro ao discurso da extrema-direita.


Em março de 2024, Cármen Lúcia defendeu a educação como antídoto à desinformação sistemática.


"É preciso que a gente conte para o professor, para ele contar para o aluno, para o aluno contar em casa que é preciso realmente essa construção democrática". Para ela, a democracia é "o primeiro dos direitos fundamentais" e "se não tiver a democracia, a gente não tem liberdade, garantia de dignidade".

O contexto político da decisão


O voto de Cármen Lúcia ocorre num momento de intensa pressão política, com o governo Trump impondo sanções econômicas ao Brasil e Tarcísio de Freitas intensificando ataques ao STF. A ministra, contudo, já demonstrou não se intimidar com pressões externas, tendo inclusive alertado que seria um "alvo preferencial" caso o golpe tivesse dado certo.


A escolha do 11 de setembro para um momento decisivo do julgamento carrega simbolismo histórico. Como observou a revista Veja,


"este 11 de setembro, que marca um dos atentados mais tristes da história do planeta, nos Estados Unidos, e que marca também o início de uma ditadura na América Latina, no Chile do ditador Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973, o STF terá um veredicto histórico".

Com o placar atual de 2 votos a 1 pela condenação (Moraes e Dino favoráveis, Fux contrário), o voto de Cármen Lúcia é matematicamente decisivo para formar a maioria necessária. A expectativa unânime é de que ela acompanhe o relator, consolidando a condenação de Bolsonaro e dos demais réus.


"A avaliação de ministros é que nesta quinta, com os votos de Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, o placar final seja de 4 a 1 pela condenação de Bolsonaro e de Braga Netto".

O voto de Cármen Lúcia representa muito mais que uma decisão judicial técnica. É um momento de definição institucional sobre como o STF responderá aos ataques sistemáticos da extrema-direita e às tentativas de deslegitimação do Judiciário. Como única mulher na Primeira Turma e decana do colegiado, sua voz carrega peso simbólico adicional.


A ministra contra o machismo e a extrema-direita


Em julho de 2024, durante evento na OAB-PR, Cármen Lúcia fez duras críticas ao conservadorismo machista.


"Temos uma cultura preconceituosa e misógina e temos visto cada vez mais isso aflorar. São falas muito contrárias ao direito, são inconstitucionais". A ministra denunciou a "falta compostura, educação, respeito às mulheres" e alertou sobre "discursos de ódio" diferenciados contra mulheres, que são "extremamente violentos e referem-se unicamente à condição de sermos mulheres".

Como ministra que já foi alvo de ataques misóginos sistemáticos, Cármen Lúcia compreende pessoalmente os métodos da extrema-direita. Sua experiência a credencia para responder firmemente aos ataques que figuras como Tarcísio de Freitas têm dirigido ao STF, especialmente considerando que esses ataques frequentemente têm componentes machistas quando dirigidos a ela especificamente.


Um voto historicamente decisivo


O voto de Cármen Lúcia nesta quinta-feira representa um momento de inflexão na história democrática brasileira. Após a surpresa causada pelo extenso voto divergente de Fux - que durante 13 horas defendeu teses que beneficiam diretamente os golpistas - a expectativa é de que a ministra reestabeleça a firmeza institucional necessária para preservar a democracia.


Seu histórico de 19 anos no STF, marcado por posições progressistas e defesa intransigente do Estado Democrático de Direito, indica que o voto será um contraponto robusto às teses absolvitórias de Fux. A ministra que tornou Bolsonaro inelegível, que classificou o plano golpista como "gravíssimo" e que rejeitou categoricamente propostas de anistia dificilmente recuará frente às pressões da extrema-direita.


O momento histórico exige mais que uma decisão judicial técnica. Exige uma resposta institucional clara de que tentativas de golpe não serão toleradas, que ataques às instituições democráticas terão consequências, e que figuras como Tarcísio de Freitas não intimidarão o Judiciário com suas campanhas de desinformação.


Como ela própria declarou, "se não tiver a democracia, a gente não tem liberdade, garantia de dignidade". É esta convicção que deve orientar seu voto hoje, consolidando a maioria necessária para condenar Bolsonaro e enviar uma mensagem inequívoca: "quem praticou o crime tem que pagar pelo crime cometido".


O Brasil aguarda não apenas um voto, mas uma defesa da democracia por quem a compreende como "o primeiro dos direitos fundamentais". E se o passado serve de referência, Cármen Lúcia não decepcionará na defesa da Constituição e da normalidade democrática que jurou proteger.

 
 
 
  • Foto do escritor: Redação d'O estopim
    Redação d'O estopim
  • 16 de ago.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 27 de ago.

O Teoria Literária nasceu pequeno, como tantos projetos que cabem numa mesa de aula: um exercício de Jornalismo Digital, construído para testar formatos, vozes e enquadramentos. A proposta era simples — discutir livros, teorias e leituras de mundo com método e clareza —, mas o caminho logo pediu mais: pesquisa, roteiro, entrevistas, diálogo com a cultura e com a política. Aos poucos, o que era laboratório virou prática pública: um podcast publicado em plataformas abertas, com pauta, edição e compromisso de checagem.


Identidade visual - O estopim
Identidade visual - O estopim

O percurso, porém, não foi linear. Em março de 2023, o canal Mundi Ex-Libri — arquivo de uma década de trabalho — saiu do ar. Sem aviso útil, sem possibilidade real de recuperação, o resultado foi o silêncio de centenas de vídeos e o desalento de quem produz. O próprio autor registrou: “Perdi meu antigo canal, o Mundi Ex-Libri. Pensei em desistir.” O luto por um acervo inteiro foi público; o vínculo com a comunidade de leitores e ouvintes, também.


Desistir, no entanto, teria sido aceitar a lógica do ruído. O podcast tornou-se então a ponte entre duas formações que sempre se tocaram: a bagagem do curso de Letras e das especializações em literatura, de um lado; a experiência de Jornalismo Digital, do outro. A literatura, tratada com rigor conceitual, passou a funcionar como método para ler a realidade — e não como fuga dela. Assim, episódios sobre obras e autores abriram espaço para perguntas sobre linguagem, poder e imaginário político; para entrevistas e debates que cruzam a biblioteca com a rua.


Esse deslocamento ganhou corpo também fora do estúdio. Em sala de aula, o professor observou novas formas de crença e desinformação; na redação e no microfone da Rádio Itapuama FM, o jornalista testemunhou a velocidade com que boatos se convertem em pauta e em decisão. Diante da máquina de fake news, o programa recalibrou vocabulário e propósito: menos jargão, mais explicação; menos culto ao “hot take”, mais paciência analítica. O resultado foram textos e áudios que conectam literatura a política, educação e sociedade — um arco temático que reflete a prática profissional na emissora e a convicção de que jornalismo e educação caminham juntos.


Chegou então a hora de nomear essa virada. O estopim nasce como guarda-chuva editorial do projeto — um site pessoal de jornalismo que organiza o trabalho acumulado e abre novas frentes: análises, explicadores, entrevistas, reportagens e resenhas que iluminam o Brasil e o mundo com método, contexto e linguagem clara. O podcast segue integrado ao ecossistema, publicado nas principais plataformas e em diálogo permanente com o site: a palavra como faísca, a verificação como rotina, a audiência como parte da pauta.


Esta é, portanto, a história de um arquivo perdido e de um caminho reencontrado. Do Mundi Ex-Libri à consolidação do Teoria Literária, e daqui ao O estopim, persiste uma mesma ética de trabalho: servir ao público com informação verificada, ler o presente com ferramentas da crítica e recusar atalhos que trocam complexidade por barulho. Se o antigo canal foi apagado, não se apagou o compromisso. Ele apenas mudou de casa — e ampliou o seu alcance.

 
 
 
bottom of page