Por Raul Silva, para O estopim |23 de setembro de 2025
Arcoverde – Neste 23 de setembro de 2025, Arcoverde viveu mais uma edição da tradicional festa de Nossa Senhora do Livramento, reunindo milhares de fiéis em celebração e procissão pelas ruas centrais do município. A data marca 106 anos de devoção oficial à padroeira, cuja história remonta à fundação da cidade.
Imagem de Nossa Senhora do Livramento durante procissão em Arcoverde - Foto: Raul Silva/O estopim
A cidade de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco, viveu nesta terça-feira, 23 de setembro de 2025, um dos momentos mais marcantes da sua história religiosa, com a celebração do Dia da Padroeira Nossa Senhora do Livramento. Os fiéis tomaram as ruas da cidade para participar da tradicional procissão em homenagem à padroeira, um evento que reforça a força da fé e da cultura no município e encerrou a programação festiva de 106 anos de devoção, tradição e união comunitária.
A devoção a Nossa Senhora do Livramento remonta à própria origem de Arcoverde, desde 1812, quando o português Leonardo Pacheco Couto mandou construir a primeira capelinha em homenagem à santa, na fazenda Santa Rita, localidade que daria início ao povoado de Olho d'Água e, posteriormente, ao município. Em 1843, já existem registros de batismos na antiga capela, e em 1865 a construção passou por uma importante reforma, consolidando sua presença como um marco não só religioso, mas também histórico e social para a população do Sertão do Moxotó.
A Paróquia de Nossa Senhora do Livramento foi criada oficialmente em 1919, por decreto do bispo D. José Antônio de Oliveira Lopes, e desde então, a festa em homenagem à padroeira tornou-se uma das manifestações de fé mais tradicionais e aguardadas, não apenas no município, mas em toda a região.
Fiéis em procissão pelas ruas da cidade - Foto: Raul Silva/O estopim
Em 2025, a festa adotou o tema “Com Maria, somos portadores de esperança e de paz”, refletindo o desejo de união e renovação espiritual dos moradores, e contou com uma programação intensa iniciada em 14 de setembro e culminando com a grande procissão nesta terça-feira (23). O dia da padroeira, oficialmente feriado municipal, foi marcado por missas solenes, novenários, momentos de oração especial e a tradicional procissão, que literalmente transformou as ruas de Arcoverde em rios de fé e devoção, reunindo representantes das mais diversas comunidades da cidade, pastorais, grupos de jovens, movimentos sociais e as principais autoridades locais.
O apoio da Prefeitura Municipal de Arcoverde e de diversas instituições locais garantiu uma organização impecável, com destaque para a participação das forças de segurança, instituições religiosas e grupos voluntários envolvidos na logística e acolhimento dos romeiros e visitantes, que chegam para participar do evento. Ao longo dos nove dias de preparação, a programação reuniu missas, quermesses, terços marianos, noite de louvor e diversos momentos de confraternização, culminando com a tradicional caminhada e celebração solene que, em 23 de setembro, atraiu uma verdadeira multidão.
A Festa da Padroeira, ao longo dos seus 106 anos, é muito mais que um acontecimento apenas religioso para Arcoverde: ela funciona como elo fundamental de preservação da identidade histórica e cultural do município, sendo responsável por unir gerações, fortalecer vínculos comunitários e perpetuar tradições que vêm desde o século XIX.
O evento também intensifica o turismo religioso e aquece a economia local, consolidando Arcoverde como importante polo de fé no interior de Pernambuco. Em mais um ano, a devoção à Nossa Senhora do Livramento demonstrou sua força, ecoando o espírito de fé, gratidão e esperança de um povo que se reconhece e se reinventa a cada procissão pelas ruas da cidade, celebrando não apenas os milagres atribuídos à santa, mas a esperança coletiva que une todo o Sertão do Moxotó.
Em uma das votações mais polêmicas dos últimos tempos no Congresso Nacional, a aprovação da PEC da Blindagem na Câmara dos Deputados expôs contradições profundas no cenário político pernambucano. O voto favorável do deputado Pedro Campos (PSB-PE) à proposta que dificulta investigações contra parlamentares não apenas chocou seus eleitores, mas também lançou uma sombra sobre as ambições governamentais de seu irmão, João Campos (PSB), prefeito do Recife. A pergunta que ressoa pelos corredores políticos de Pernambuco é cristalina: como o prefeito pretende se contrapor à governadora Raquel Lyra (PSD) nas eleições de 2026, quando seu próprio partido e família protagonizam o mesmo tipo de blindagem que beneficia os adversários políticos?
Pedro Campos, político do PSB pernambucano
A PEC da Vergonha e o voto familiar inconveniente
A aprovação da PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados, com 344 votos favoráveis contra 133 contrários, representou um dos episódios mais controversos da atual legislatura. A proposta, que restabelece regras vigentes entre 1988 e 2001, impõe que o Supremo Tribunal Federal (STF) necessite de autorização prévia do Congresso para abrir processos criminais contra parlamentares. Entre 1988 e 2001, período em que essa regra vigorou, apenas um dos 253 pedidos do STF para processar parlamentares foi aceito.
O voto de Pedro Campos a favor da medida causou revolta entre seus eleitores do Sertão do Pajeú, que lotaram suas redes sociais com críticas devastadoras. Mensagens como "Perdeu meu voto votando SIM à PEC da Blindagem" e "Confesso que foi o voto da PEC da Bandidagem que eu mais senti" demonstram o nível de decepção popular. Mais significativo ainda foi o comentário premonitório: "@joaocampos seu irmão vai acabar atrapalhando sua campanha".
João Campos PSB - Pernambuco
A repercussão negativa do voto de Pedro Campos expõe uma contradição fundamental no discurso político da família Campos. Enquanto João Campos busca construir uma imagem de renovação política e combate aos privilégios estabelecidos, seu irmão vota para blindar parlamentares de investigações criminais. Essa incoerência familiar torna-se ainda mais problemática quando consideramos que João Campos lidera as pesquisas para governador com 55% a 57% das intenções de voto, posicionando-se como alternativa à atual governadora.
O PSB e a hipocrisia da vice-presidência
A situação torna-se ainda mais grave quando analisamos a posição do PSB no cenário nacional. O partido ocupa a vice-presidência da República com Geraldo Alckmin e integra oficialmente a base governista de Lula. No entanto, na votação da PEC da Blindagem, cinco dos seis deputados federais do PSB pernambucano votaram a favor da medida que contraria frontalmente os interesses do governo federal.
Esta contradição não é isolada. Em junho de 2025, durante a votação sobre o aumento do IOF, o PSB apresentou comportamento similar: nove deputados do partido votaram pela derrubada dos decretos do governo, enquanto apenas três mantiveram fidelidade à base governista. Dos 11 partidos com ministérios no governo Lula, 63,2% dos votos foram contrários ao governo, evidenciando o derretimento da base parlamentar.
O presidente nacional do PSB, João Campos, encontra-se em uma posição insustentável: como líder de um partido que ocupa a vice-presidência, mas cujos parlamentares sistematicamente votam contra o governo que ajudam a sustentar? Como explicar aos eleitores que, enquanto Alckmin representa o PSB no Palácio do Planalto, os deputados da legenda em Pernambuco blindam investigações que podem beneficiar opositores do governo federal?
Raquel Lyra: A Aproximação Perigosa com o Bolsonarismo
Por outro lado, a governadora Raquel Lyra também enfrenta contradições políticas significativas em sua trajetória. Após deixar o PSDB e migrar para o PSD em março de 2025, Lyra tem adotado uma postura ambígua que ora se aproxima do governo federal, ora flerta com setores bolsonaristas.
Durante seu governo, Raquel manteve o PL de Bolsonaro em sua base aliada, com indicações estratégicas como Ivaneide Dantas na Secretaria de Educação e Anselmo de Araújo Lima na Secretaria Executiva de Justiça. Esta aliança com o PL representa uma proximidade perigosa com o bolsonarismo, especialmente considerando que Pernambuco foi um dos estados que mais rejeitou Bolsonaro nas eleições de 2022, com 70% dos votos para Lula.
Governadora Raquel Lyra PSD - Pernambuco
A migração para o PSD, partido de Gilberto Kassab que tem como principais nomes os governadores Ratinho Júnior (Paraná) e Tarcísio de Freitas (São Paulo), posiciona Raquel Lyra em um campo político de centro-direita que pode lhe render dividendos eleitorais, mas também a afasta do governo federal que ela tanto buscou apoiar. Kassab deixou claro que o PSD terá candidato próprio à Presidência em 2026, contrariando os planos de Lyra de apoiar Lula.
Os números devastadores da violência em Pernambuco
Enquanto os principais candidatos ao governo estadual navegam entre contradições políticas e alianças questionáveis, Pernambuco vive uma situação de calamidade na segurança pública que expõe as fragilidades de ambas as gestões.
Os dados são alarmantes: entre janeiro e abril de 2025, foram registradas 35 mulheres mortas por feminicídio, o dobro do mesmo período do ano anterior. No primeiro semestre de 2025, 12 pessoas em situação de rua foram baleadas e mortas no Grande Recife, o maior número desde que o Instituto Fogo Cruzado iniciou o monitoramento há sete anos. Entre crianças e adolescentes, 52 pessoas com idades entre 4 e 17 anos perderam suas vidas por arma de fogo em Pernambuco.
SINPOL-PE alerta para aumento da violência na zona sul do Recife, destacando preocupações com a segurança pública em Pernambuco
Embora o governo estadual divulgue reduções percentuais nos índices de violência - alegando queda de 11% nas Mortes Violentas Intencionais no primeiro semestre de 2025 - a realidade nas ruas contradiz os números oficiais. O presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto (PSDB), denunciou que apenas em um fim de semana foram registrados 26 assassinatos.
A governadora Raquel Lyra, que prometeu reduzir 30% da violência armada letal até 2026, está cada vez mais distante de cumprir sua meta. Se a média atual se mantiver, 2024 fecharia com uma taxa de 43,3 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes, bem acima da meta de 26,5 estabelecida pelo governo.
João Campos: O prefeito entre o Marketing e os Problemas Reais
Por sua vez, João Campos, apesar de liderar as pesquisas eleitorais com aprovação de 80% a 82% no Recife, enfrenta questionamentos sobre a real efetividade de sua gestão municipal. O prefeito iniciou seu segundo mandato tendo que dar explicações ao Tribunal de Contas do Estado sobre um suposto superfaturamento de R$ 7,8 milhões na construção do Hospital da Criança.
Além disso, João Campos é constantemente criticado por investir prioritariamente em marketing digital e promoção pessoal, sendo o "prefeito do Brasil mais seguido nas redes sociais", enquanto questões estruturais como saneamento básico e segurança pública permanecem sem soluções definitivas. Seus adversários o acusam de "investir em marketing e não enfrentar as questões urgentes da cidade".
A gestão de creches municipais também gerou controvérsias durante a campanha de 2024, com adversários apontando irregularidades nos contratos. Esta situação coloca em xeque o discurso de eficiência administrativa que João Campos pretende levar para o governo estadual.
A calamidade política: Autoritarismo disfarçado de Democracia
O cenário que se desenha em Pernambuco para 2026 é de uma disputa entre dois projetos que, cada um à sua maneira, flertam perigosamente com o autoritarismo. De um lado, temos João Campos, cujo partido sistematicamente vota contra o governo federal que afirma apoiar, e cuja família protagoniza episódios de blindagem parlamentar que contradizem o discurso de transparência.
Do outro lado, Raquel Lyra representa um projeto que se equilibra precariamente entre o apoio ao governo federal e alianças com setores bolsonaristas, em um estado que rejeitou massivamente Bolsonaro. Sua migração para o PSD, partido que já anuncia candidatura própria à Presidência contra Lula, evidencia o caráter oportunista de suas alianças políticas.
A aprovação da PEC da Blindagem, com votos decisivos tanto do PSB quanto do PSD, revela que ambos os partidos compartilham a mesma lógica corporativista que protege políticos de investigações. Esta convergência autoritária, disfarçada de debate democrático, expõe que a disputa de 2026 pode ser entre dois projetos que, fundamentalmente, defendem os mesmos privilégios estabelecidos.
Nesta quarta-feira, 9 de abril, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) liderou uma série de manifestações em todo o estado, marcando o Dia Estadual de Mobilização em Defesa da Escola Pública. Professores, estudantes e funcionários administrativos uniram-se para reivindicar valorização profissional e melhorias nas condições das escolas estaduais.
Estudantes e Professores da EREM Arcoverde - Dia Estadual em Defesa da Escola Pública - Foto: Vanusa Maria
As mobilizações ocorreram em diversas regiões, incluindo a Região Metropolitana do Recife, Caruaru e Belo Jardim. As atividades incluíram atos com cartazes produzidos pelos estudantes, panfletagens e debates sobre a situação atual da educação pública no estado.
A presidente do Sintepe, Ivete Caetano, destacou a importância da participação coletiva: “É dever de todos que fazem a escola pública – professores, analistas, administrativos – se empenharem para que toda a sociedade pernambucana participe.”
Principais Reivindicações:
Estudantes e Professores da EREM Arcoverde - Dia Estadual em Defesa da Escola Pública - Foto: Vanusa Maria
• Infraestrutura Escolar: Muitas escolas enfrentam problemas estruturais graves, como falta de climatização adequada, comprometendo o ambiente de aprendizado.
• Material Escolar e Fardamento: Há atrasos significativos na entrega de kits escolares e uniformes, prejudicando o início do ano letivo.
• Merenda Escolar: A qualidade e variedade da merenda têm sido alvo de críticas por parte de estudantes e profissionais da educação.
• Valorização Profissional: O Sintepe cobra a aplicação do reajuste de 6,27% do Piso Nacional do Magistério para todos os profissionais da educação, incluindo professores, analistas e administrativos.
Resposta do Governo
Secretária de Educação - Logo Gov. Raquel Lyra
Em resposta às críticas, o governo estadual anunciou, em dezembro de 2024, a liberação de R$ 50 milhões através do Programa Investe Escola, destinado à manutenção e melhoria das infraestruturas físicas das escolas. Além disso, foram lançados projetos como o Investe Tec, com investimento de R$ 19,5 milhões para modernização de Escolas Técnicas Estaduais, e o Projeto de Incentivo às Bandas e Fanfarras, com aporte inicial de R$ 2,5 milhões.
No entanto, representantes sindicais e da comunidade escolar consideram essas medidas insuficientes diante das demandas apresentadas. A próxima rodada de negociações entre o Sintepe e o governo está agendada para 15 de abril, com a expectativa de avanços concretos nas pautas reivindicadas.
A mobilização desta quarta-feira reflete a crescente insatisfação dos profissionais da educação e estudantes com a atual gestão estadual, evidenciando a urgência de investimentos e políticas públicas eficazes para a melhoria da educação em Pernambuco